Jorge JaberDivulgação
Comecemos, porém, pelas boas notícias. O Brasil é referência mundial no combate à epidemia do HIV e AIDS, e ultrapassou, já no ano passado, duas das três metas traçadas pela Organização das Nações Unidas para 2025: diagnosticamos 96% das pessoas que vivem com o HIV, e 95% das tratadas chegaram à supressão viral, ou seja, seu nível do vírus no sangue é indetectável, e elas já não transmitem o vírus. Para chegar à terceira, 95% dos diagnosticados devem receber tratamento antirretroviral, o que ainda só ocorre com 82% deles. De qualquer forma, uma bela conquista.
Outros números espelham nosso sucesso na área: em 2022, tivemos 10.994 mortes por HIV, numa queda de 8,5% em relação a 2012. Nesses mesmos 10 anos, o coeficiente de mortalidade da doença passou de 5,5 para 4,1 por 100 mil habitantes, numa redução de 25,5%. A aposta na prevenção também merece destaque: em 2023, por exemplo, mais de 80 mil pessoas tiveram acesso gratuito à profilaxia pré-exposição, combinação de dois medicamentos que ajuda a evitar a ocorrência de novas infecções.
Os bons resultados são frutos de um trabalho permanente, com raízes no acesso universal ao tratamento, campanhas de conscientização e em parcerias internacionais com entidades como a ONU e o Fundo Global de Combate à AIDS, Tuberculose e Malária, que garantiram a sustentabilidade do projeto. Um trabalho ininterrupto, iniciado já na década de 90, ou seja, desenvolvido por governos de todos os matizes ideológicos. Isso mostra a importância de políticas públicas contínuas, baseadas em critérios técnicos – exemplo que, claro, também vale para áreas como educação e segurança. Há, evidentemente, ainda muito a fazer, e a questão não se resume à AIDS. A ocorrência de outras infecções sexualmente transmissíveis, como herpes genital, gonorreia e tricomoníase vem aumentando, assim como a de sífilis adquirida – quase 114 casos por 100 mil habitantes em 2023, maior índice na história – e congênita, que, apesar de avanços no diagnóstico precoce, ainda provoca altas taxas de mortalidade neonatal, principalmente em regiões com menor cobertura de saúde. Entre 1998 e 2023, por exemplo, ela foi responsável por mais de 3.500 mortes.
Em se tratando de doenças com métodos de prevenção simples como o uso de preservativo – ou seja, perfeitamente evitáveis –, o impacto desses dados é ainda maior. Em especial entre as mulheres que, confiantes na monogamia do parceiro, não raro o próprio marido, acabam se considerando fora do grupo de risco e tendo relações sexuais sem a devida proteção. Com isso, engrossam estatísticas como a da sífilis em gestantes, que ultrapassou os 22 casos por 1.000 nascidos vivos em 2023. Um triste reflexo do machismo e desinformação na saúde dos brasileiros.
Como vemos, há vitórias a celebrar, mas também um longo caminho a percorrer, e nosso Sistema Único de Saúde tem papel central, mas não exclusivo, nessa jornada. Além de aprimorar a estrutura física e humana de atendimento, o investimento em prevenção é indispensável. Isso passa, sempre, pela divulgação de informações corretas e seguras para a população. Com iniciativas como o Dezembro Vermelho e apoio dos órgãos de imprensa e outros canais confiáveis, essa tarefa certamente será mais amena.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.