Ainda sem conhecer a luz, nasci.
Nasci fonte, cascata, cachoeira.
Nasci rio. Nasci silêncio. Nasci canção.
Nasci barulhos de nascimentos. Natureza.
Nasci desabrochares, florescimentos.
Nasci lágrimas.
Nasci dor.
Dor que não há rio que leve, que não há chuva que acalme, que não há canto que suavize.
Nasci sem as ambições que sujam. Sem os egoísmos que impedem.
Nasci.
Ainda de noite, nasci.
Nasci para ir adiante, crescer.
Os girassóis se voltam para o sol. Sempre. Mesmo nos invernos.
Nasci verão.
Nasci broto. Nasci folha.
Nasci para uma nova escritura.
Os das mãos e os dos corpos dormentes, sonhadores.
Os dizeres do sangue, também. E das seivas que brotam das árvores e que brotam árvores.
Nasci das despedidas sem despedir os sentimentos.
Nasci da saudade de um tempo novo. De um dia novo. De um novo encontro com o que significa nascer.
Nasci, ainda de noite, para amanhecer.
Para ser surpresa e para surpreender.
Para aprender um instrumento. Um ao menos. Que afine o desafinado mundo.
Nasci para dizer palavras. Poucas que sejam. Que abram os olhos para que vejam.
Há tanto de belo em mim.
Em mim, que nasci.
Ainda de noite.
Ainda sem conhecer a luz.
Em mim, que nasci promessa.
Nasci.
Prestem atenção nos outonos. Nas folhas que precisam se despedir para outras chegarem.
Prestem atenção à minha chegada.
Deixem de olhar para o que não tem olhos.
E olhem juntos o amanhecer.
Mesmo de noite, nasci para o amanhecer.
E já vai amanhecer.
Nasci, ano novo.
Nasci, 2025.
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