Luiz Henrique AraújoDivulgação
Foi exatamente isso que o estudo “Immune evasion through mitochondrial transfer in the tumour microenvironment”, publicado no último dia 22 pela revista científica Nature, conseguiu demonstrar. Pesquisadores observaram uma nova estratégia das células tumorais para confundir os mecanismos de defesa do corpo: elas transferem suas mitocôndrias – estruturas responsáveis por produzir energia – já danificadas para o sistema imune que está saudável.
Na prática, ao receberem essas mitocôndrias danificadas pelo câncer, as células do sistema imunológico, como os linfócitos T, que deveriam combater o tumor, comprometem essa função, pois são impedidas de identificá-lo e atacá-lo de forma eficaz. É como se as células malignas se disfarçassem para enganar as defesas do organismo e entregassem um presente “envenenado”.
Esta é uma grande descoberta científica, pois nos ajuda a entender melhor e com mais profundidade como o câncer consegue se desviar das nossas defesas naturais.
Apropriados desse conhecimento, podemos direcionar pesquisas para desenvolver tratamentos e medicamentos mais eficazes e personalizados, que inibam a transferência mitocondrial entre as células saudáveis e as cancerígenas ou façam uma restauração dessas estruturas, além da possibilidade de combinação de novas terapias-alvo.
No Mês Mundial de Combate ao Câncer, é inspirador poder ver que a luta contra a doença está em constante evolução, por meio da pesquisa clínica que avança e abre portas para um futuro sem câncer. Afinal, os números da doença no nosso país não param de crescer: segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 704 mil novos casos de câncer em 2025, sendo 70% deles concentrados no Sul e no Sudeste.
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