O debate sobre a transição energética no Brasil tem sido marcado por uma visão parcial e, muitas vezes, equivocada dos custos reais da geração de eletricidade. A comparação simplista entre o custo nivelado de energia (LCOE) da fonte nuclear e das fontes renováveis variáveis, como solar e eólica, ignora fatores essenciais, como os custos sistêmicos, a necessidade de backup e a estabilidade da rede. A comparação dos custos de energia contratada no Brasil mostra que a energia nuclear não é a mais cara, especialmente quando comparada a fontes fósseis como o gás natural e o diesel.
É importante destacar que essa comparação não inclui a internalização do preço de carbono nos custos de geração termelétrica fóssil após 2030, um ponto que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) tem enfatizado repetidamente. As projeções internacionais indicam que o preço do carbono deve atingir US$ 100/tCO2 após 2030, criando um sinal econômico para a entrada de tecnologias de abatimento de emissões.
O setor tem trazido esse tema à tona repetidamente, mas enfrentam resistência de alguns atores que insistem em uma comparação errônea e incompleta. A discussão sobre custos não pode se limitar ao nível da planta, pois, ao contrário do que se quer vender, a energia gerada nem sempre estará disponível no momento de maior demanda. O que acontece quando as fontes intermitentes não conseguem suprir a carga necessária? Quem paga a conta pela instabilidade do sistema? A solução mais rápida e natural é recorrer às térmicas a gás, mas essa escolha também gera custos adicionais, principalmente em um contexto em que o preço do carbono deverá atingir US$ 100 por tonelada após 2030 – quando há previsão de Angra 3 –, conforme apontam as principais publicações internacionais. Nos EUA e na Europa, essa discussão já é realidade.
Custos adicionais: US$ 34/MWh para gás natural (equivalente a R$ 170-204/MWh, considerando um câmbio entre 5 e 6 R$/US$); US$ 75/MWh para carvão (equivalente a R$ 375-450/MWh); Valores semelhantes para óleo diesel e óleo combustível.
Além disso, a análise também não incorpora os custos sistêmicos das renováveis variáveis (backup, estabilidade e rede/conexão). Quando a participação dessas fontes atingir 75% da geração, tais custos podem superar US$ 50/MWh, conforme alertado por estudos da NEA, IAEA, WNA e IEA, analisados pela EPE. Outro ponto negligenciado é a dependência das hidrelétricas como backup para as fontes intermitentes. O Brasil enfrenta desafios crescentes com crises hídricas, queimadas e o múltiplo uso da água para agricultura, consumo humano e navegação. Quando não há água suficiente, restam as térmicas e o alto custo que essas operações impõem ao consumidor.
Atualmente, o custo nivelado de energia de uma bateria gira em torno de US$ 200 por megawatt-hora, um valor proibitivo que poucos estão dispostos a considerar nas comparações. Enquanto isso, a energia nuclear segue marginalizada do debate, apesar de ser uma solução confiável, com custo previsível e baixa emissão de carbono. Nos países desenvolvidos, essa realidade está consolidada, com 28 nações comprometidas em triplicar a capacidade nuclear até 2050, conforme acordado nas COPs 28 e 29. Por que o Brasil está na contramão desse movimento global?
Celso Cunha é Presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Nucleares – ABDAN; membro do Fórum das Associações do Setor Elétrico, dos Conselhos de Energia e do Conselho de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio, membro do Fórum de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados do Estado do Rio, e também é membro do Conselho de Administração da Empresa de Pesquisa Energética do Brasil (EPE).
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