Antonio BragaDivulgação
Temperaturas elevadas afetam, especialmente, recém-nascidos (impactando na mortalidade infantil) e idosos (aumentando a ocorrência de infartos), mas podem também trazer prejuízos importantes para gestantes e seus bebês.
O aumento da temperatura está associado com a ocorrência de complicações para o binômio materno e perinatal que precisam ser divulgadas. Espera-se, em algumas áreas dos Estados Unidos, um aumento de até 60% na incidência de malformações cardíacas congênitas até 2035 devido à exposição pré-natal ao calor excessivo, que também pode estar associado com a ocorrência de defeitos do tubo neural e malformações orofaciais.
Isso sem contar a maior ocorrência de abortamento, mortes de fetos intraútero, parto prematuro, pré-eclampsia e nascimento de bebês com baixo peso. A saúde mental da grávida também piora em temperaturas extremas, associando-se com noites mal dormidas, estresse ao longo do dia e maior chance de apresentar depressão pós-parto.
A amamentação é outro fator prejudicado pelo calor. Estudo mostrou que nos dias mais quentes as mulheres amamentavam 25 minutos a menos e o aleitamento materno exclusivo teve menor adesão. À medida que as temperaturas aumentavam, as mulheres tendiam a fornecer água ao invés de leite materno para seus filhos recém-nascidos.
As modificações fisiológicas no organismo materno, essenciais para a manutenção da gestação, tornam as grávidas extremamente vulneráveis a esse desafio climático. Embora ainda não estejam bem esclarecidas as vias de atuação das altas temperaturas nesses desfechos obstétricos, evidências preliminares, em modelo animal, sugerem que o calor extremo promova mudanças epigenéticas que alteram desde o desenvolvimento do bebê (levando ao abortamento e às malformações), até a redução no fluxo sanguíneo placentário, prejudicando sua função primordial na gestação (levando a morte fetal, parto prematuro e nascimento de bebês pequenos).
Diante do cenário em que alertas de ondas de calor passarão a ser cada vez mais frequentes, é importante que as grávidas sejam orientadas a se proteger. Evitar sair de casa nos horários de pico da exposição solar e, quando for necessário fazê-lo, hidratar-se frequentemente e usar proteção contra os raios solares. Os serviços de saúde devem ofertar espaços com resfriamento nas unidades de atenção primária, durante as consultas de pré-natal, e nas maternidades. Não custa lembrar que durante o trabalho de parto, a dieta das mulheres não deve restringir o consumo de líquidos, ainda mais nos dias mais quentes, quando a desidratação ocorre mais rapidamente.
Por fim, nos casos extremos, alertas avisando a população sobre os dias mais quentes precisam ser emitidos e respeitados. Enquanto a sociedade não se organizar para enfrentar esse grave problema ambiental, precisamos proteger nossas gestantes e seus bebês, em especial as que vivem sob vulnerabilidades, e que são as que mais sofrem as consequências desse calor desmedido que temos vivido.
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