Colegas de classe disseram que as tranças que a criança utiliza são para esconder piolhos Reprodução/Redes Sociais

Rio - Uma menina de 11 anos foi vítima de injúrias raciais em um grupo de mensagens por aplicativo de alunos da Escola Municipal Almirante Frontin, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Os ataques à Camille Letícia foram feitos pelo pai de uma das estudantes, que a chamou de "neguinha do cabelo de macaco", e por colegas de classe, que disseram que as tranças que a criança utiliza são para esconder piolhos. 
Em uma publicação nas redes sociais, a mãe afetiva de Camille, Rayane Vitoria, relatou que o caso aconteceu na noite desta quarta-feira (21), no momento em que as crianças, com idades entre 10 e 12 anos conversavam sobre estudos e outros assuntos. Por volta da 0h, o pai de uma aluna encaminhou um áudio com as ofensas para o grupo. 
"Minha filha de coração, Camille Leticia, sofreu (mais uma vez), de forma cruel e covarde destilação de ódio de forma gratuita por amigas de classe e por um adulto responsável de uma das amigas (...) Apesar do absurdo de diferença de idade, o racismo não tem idade, horário e lugar. O sentimento de impotência a algo tão monstruoso, me assusta. Uma criança em formação, em uma fase de entendimento e aceitação, ouvir coisas tão cruéis de um ser humano", lamentou Rayane. 
Em um vídeo publicado pela mãe, ela conta ainda que o companheiro do pai de Camille procurou a escola para explicar a situação e pedir uma orientação da direção, mas um funcionário teria dito, pelo interfone, que a diretora não poderia atendê-lo no momento, porque estava "ocupada com coisas mais importantes". Ao insistir, ressaltando que queria falar sobre um caso de racismo, ouviu o colaborador dizer que não podia fazer nada e que se fosse um caso realmente importante, deveria "tomar as medidas cabíveis". 
Após o episódio, o pai da menina procurou a 9ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que já havia sido informada sobre o caso. Após explicar o que havia acontecido com a filha, ele foi encaminhado para a escola, onde participou de uma reunião com a diretoria da unidade, que teria dito que só soube quando alunos denunciaram o episódio, após verem a publicação nas redes sociais. A instituição também teria afirmado que é contra atos racistas e que um fato como esse nunca havia sido registrado no período de atuação da atual direção.
"O que de fato a gente está levando em consideração aqui, é a negligência. A gente, em momento nenhum, culpou a escola. A gente tentou uma ajuda com a escola, uma orientação, porque as pessoas trabalham ali com crianças, com formação de crianças e, automaticamente, a gente queria uma ajuda, um alerta, para fazer alguma coisa, alguma movimentação, uma interligação entre as famílias, porque a gente não sabe, de fato, quem é o responsável por essa criança que é amiga de classe da Letícia, não tem nenhum vínculo fora dali. (...) Acabou tomando essa proporção pela negligência da escola", disse Rayane. 
Procurada, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que "não compactua com atitudes racistas na comunidade escolar" e que essa postura "não representa o trabalho realizado na nossa rede". A pasta ressaltou ainda que está instaurando processo de sindicância para apurar o episódio. O caso foi registrado na 19ª DP (Tijuca) e encaminhado à 20ª DP (Vila Isabel). "Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos", informou a Polícia Civil. 
"As pessoas responsáveis por isso vão pagar. Novamente, venho aqui falar que racismo é crime, racismo não é uma brincadeira, não é uma coisa que você destila e vai embora. Não é assim. Tem gente que se cala mas a gente não vai ser calar, porque não é a primeira vez, isso é uma coisa rotineira, diária, então a gente resolveu fazer barulho dessa vez", concluiu Rayane.