Nélida foi uma das maiores representantes da literatura brasileiraDivulgação

Rio – A escritora Nélida Pinõn foi sepultada, nesta quinta-feira (29), às 15h, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Primeira mulher a presidir a instituição, Nélida deixa um legado importante para a literatura brasileira.
A acadêmica morreu aos 85 anos, em 17 de dezembro, em um hospital em Lisboa, Portugal, onde estava internada devido a complicações nas vias biliares. Ela estava em uma viagem pela Europa quando passou mal. Cerca de 10 dias antes, a autora foi submetida a uma operação de emergência, teve um pós-operatório complicado, chegou a ficar em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas já tinha sido transferida para o quarto.
O traslado do corpo durou 11 dias até a resolução de problemas burocráticos e chegou ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira (28). No dia 2 de março, a ABL realizará a cerimônia Sessão da Saudade em homenagem à autora em seu salão principal.
Nélida foi velada no salão do Petit Trianon da ABL, no Centro da capital, na manhã desta quinta-feira (29). O cantor Gilberto Gil, o presidente da Academia Brasileira de Letras Merval Pereira e a atriz Beth Goulart participaram da cerimônia.
Estavam junto com o corpo da autora as cinzas de Gravetinho, um pinscher de estimação de Nélida que morreu aos 11 anos, em 2017, por conta de uma pneumonia. As cinzas do cachorro estavam até então guardadas no escritório de Nélida e serão enterradas ao lado do corpo dela. Será o primeiro cachorro a ter tamanha deferência.
Primeira mulher a presidir a ABL em 100 anos (1996-1997), ela era a quinta titular da cadeira 30 da instituição carioca, tendo sido eleita em 27 de julho de 1989, e sucedeu o crítico literário Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989). Nélida Pinõn teve a sua obra traduzida em 30 países e foi reconhecida com dezenas de prêmios, entre eles o Prêmio Mário de Andrade pelo livro "A Casa da Paixão", considerado um de seus mais notórios romances, o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995 (pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa); o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991; e o da APCA e o Prêmio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance "A república dos sonhos".

O último desejo

O testamento da escritora garantiu à pinscher Suzy, de 13 anos, e a chihuahua Pilara, de 3, a condição de donas de quatro imóveis em prédios de luxo à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio.

Sem filhos, marido ou parentes próximos, Nélida tinha a preocupação de que as suas duas "meninas", como gostava de chamar as cachorrinhas, mantivessem o alto padrão de vida após a sua morte. Por isso, nenhum dos apartamentos poderá ser vendido enquanto Suzy e Pilara estiverem vivas.
Na linha de beneficiários legais, está Karla Vasconcelos, de 63 anos, que foi acompanhante e responsável por Nélida nos últimos anos.

Segundo Karla, a escritora conseguiu realizar o desejo de se despedir das cadelas no leito do hospital CUF Descobertas, poucas horas antes de morrer.