Colégio Miguel Couto, na Tijuca, Zona Norte do Rio, estava fechado nesta segunda-feira (2)Érica Martin/Agência O Dia

Tradicional rede de ensino, o Colégio e Curso Miguel Couto, que existe há 60 anos, anunciou, no fim de dezembro, o fim de suas atividades. Em carta destinada aos responsáveis dos alunos, a direção do colégio informou que o fechamento acontece devido a crise financeira que abalou a empresa nos últimos anos.
A rede contava com quatro colégios na cidade do Rio, sendo três na Zona Norte (Tijuca, Cachambi e Vila da Penha) e um na Zona Oeste (Recreio). O grupo também administrava uma unidade em Niterói, na Região Metropolitana, e em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Segundo o comunicado, a empresa já estava em recuperação judicial. O atual cenário do país, impactado pela crise financeira causada pela pandemia da covid-19, junto com a lenta renovação de matrículas e o nível de inadimplência, teria motivado o grupo a tomar a decisão de fechamento.
"Na elaboração do processo pedagógico contamos com inúmeras variáveis, sendo uma delas o fator financeiro. Embora não seja o principal aspecto a se considerar em uma escola, é imprescindível para que um trabalho de qualidade seja feito. Dado o atual momento que nossa sociedade atravessa, enfrentando uma série de crises financeiras, inclusive a causada pela pandemia da Covid-19, muitas empresas, mesmo as com solidez de décadas no mercado, não conseguem suportar tamanha pressão. Concomitantemente, a inadimplência tem alcançado índices insuportáveis", diz o colégio.
A direção da escola ressaltou que providenciou uma proposta de transição de colégio aos alunos que estudavam na unidade de Cachambi, firmando uma parceria com o Lattos Colégio e Vestibulares, localizado no Méier, na Zona Norte do Rio. Não há informações sobre parceria para comportar alunos das outras unidades.
A reportagem do DIA tentou contato com outras unidades, mas não teve sucesso. No número referente a unidade da Vila da Penha, uma atendente de uma outra instituição afirmou que o Miguel Couto deixou de atuar no local no dia 20 de dezembro.
Ex-alunos lamentam fechamento
O encerramento das atividades impactou ex-alunos que mantiveram um carinho pelo colégio. A autônoma Caroline Ferreira, de 32 anos, que estudou na unidade da Tijuca em 2010 contou que passou para Ciências Políticas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) pelo o que aprendeu quando era aluna.
Caroline, que atualmente faz sua segunda faculdade, ressaltou que o local foi marcante para sua vida profissional e pessoal já que fez diversas amizades.
"Eu fiquei bem estarrecida com o fechamento, mas também imaginei que algo ia acontecer. Há duas semanas, eu fui na Tijuca e estava fechado. Eu imaginei que faltava pouco. Era um curso que a gente não ia só para estudar. Formamos uma família e uma grande amizade. Era muito além da aula. Eles faziam músicas, tentavam fazer coisas lúdicas para fazer a gente entender. Tinha uma parte muito humana e preocupada com a questão financeira de cada um. As minhas lembranças são as melhores possíveis. Me doeu muito, mas é a ordem natural das coisas", contou Caroline.
Através das redes sociais, ex-alunos também lamentaram o fechamento do tradicional colégio do Rio.
"Muito triste com essa notícia. Estudei na unidade Madureira e Tijuca em 2001 e 2002. Foram anos muito felizes, tive professores que influenciam em minha vida até hoje, tanto na parte educacional quanto na parte social. Fiz amizades lindas lá também. Vai sempre estar no meu coração", disse uma internauta.
"Em um ano de pré-vestibular, eu aprendi o que nunca aprendi estudando a vida toda. Fiz o Enem e passei pra 2 cursos super concorridos dentro da maior universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) graças ao método de ensino deles, que pra mim era quase que impecável, tanto que meus professores da época davam entrevistas para o Jô Soares falando sobre! Pensa em aulas que despertavam a vontade de aprender mais, aulas que nos faziam ter um senso crítico sobre tudo, Interpretação e redação então, são métodos que eu trouxe comigo e utilizo até hoje e ainda consigo ajudar um monte de gente. É muito triste ver uma escola desse porte fechando as portas assim!", postou outra.
Problemas com funcionários
O Colégio e Curso Miguel Couto encerrou as atividades com problemas financeiros referentes a funcionários. De acordo com o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (SinPro-Rio), a direção do Miguel Couto encerrou as atividades sem o pagamento de verbas rescisórias devidas aos seus profissionais, conforme denúncias recebidas através de seu canal de atendimento.
"O Sinpro-Rio teve ciência que a instituição está condicionando a liberação do FGTS e do seguro desemprego à assinatura pelo professor do Termo de Rescisão, contudo, sem o pagamento das verbas rescisórias devidas. Professor, não o termo de rescisão sem o pagamento das parcelas decorrentes da rescisão", disse o órgão.
O sindicato ressaltou que oficiou a instituição sobre o tema. A reportagem tentou contato com a direção para o assunto, mas não conseguiu retorno. O espaço está aberto para manifestações.
Colégio na Zona Sul segue o mesmo caminho
Outra instituição tradicional na área da educação, a Escola Carolina Patrício, localizada em São Conrado, na Zona Sul do Rio, também encerrou as atividades no final do ano passado. A escola atendia alunos do Ensino Fundamental I, Educação Infantil e Berçário II.
Fundada há mais de 30 anos, a escola trabalhava com o ensino híbrido, ou seja, combinava o digital com os cadernos para ampliar a aprendizagem dentro e fora de sala de aula. Segundo o site da escola, as atividades são trabalhadas individualmente, estimulando a sua evolução de maneira personalizada. Também há um trabalho com um currículo bilíngue que oferece material didático habituando a criança a outro idioma desde o início de seu desenvolvimento escolar.
Ao contrário do Miguel Couto, a Carolina Patrício mantém suas outras unidades, localizadas na Barra da Tijuca e no Recreio, na Zona Oeste do Rio, em funcionamento.