Patrícia Cardoso é a nova defensora pública geral do Rio de JaneiroPedro Ivo/ Agência O Dia

Rio - Patrícia Cardoso, 53 anos, quebrou um tabu na Defensoria Pública do Estado do Rio. Pela primeira vez em 68 anos, uma mulher assume a chefia da instituição — Patrícia venceu com 513 votos a eleição interna e ficará a frente do biênio 2023-2024. Com 30 anos de experiência e apaixonada pela formação, ela reconhece que um dos desafios de sua gestão passa pela questão orçamentária do estado, e seu mandato será calcado no avanço da defesa dos direitos humanos e das mulheres.


"O estado está sob regime de recuperação fiscal, então esse obstáculo financeiro existe, porque só conseguimos prestar serviço jurídico gratuito se tivermos uma estrutura. Mas temos uma perspectiva muito boa. Queremos garantir a defesa dos direitos humanos e, principalmente, a defesa dos direitos das mulheres, pensando dentro e fora da instituição", disse Patrícia, que ressalta querer estar mais perto da população carente e acompanhar o avanço da tecnologia na Defensoria.
A garantia de todos os recursos para o acompanhamento interno do trabalho da instituição também terá atenção especial. De acordo com a nova chefia, com o avanço da tecnologia, há uma mudança latente na forma que as pessoas se comunicam. "Precisamos avançar na pauta de aperfeiçoamento do público de trabalho, acompanhando a revolução tecnológica e cuidando da estrutura física dos órgãos onde trabalhamos também. É necessário que tenhamos uma perspectiva de solução extrajudicial de conflitos e projetos", enumera.

"É necessário termos uma boa ouvidoria externa para estarmos dentro dos territórios, nas comunidades e favelas, podendo assim estarmos próximos das pessoas. São muitas pautas, muitos projetos que a gente pretende dar continuidade nos próximos anos e tantos outros que pretendemos implementar a partir das nossas necessidades e necessidades do nosso público-alvo, que são as pessoas vulneráveis", esclarece Patrícia.

Sendo a primeira mulher no cargo, a defensora não esconde a felicidade e o orgulho de subir mais um degrau na carreira. "É muito importante a carreira ter chegado a esse nível de maturidade na questão de gênero, porque é uma equipe majoritariamente feminina. São estagiárias, residentes, servidoras, defensoras e nunca tínhamos tido uma chefia geral comandada por mulher. Acredito que esse seja o resultado de uma nova perspectiva de gênero, da inclusão da mulher em espaços de poder. A sociedade também espera muito que as mulheres estejam nesse lugares altos, que são ocupados, na maioria das vezes, por homens", pontou.

Patrícia começou a carreira como servidora pública aos 18 anos, quando dava aulas de alfabetização em uma escola municipal na Zona Oeste. "No decorrer de uma carreira longa como a minha, você vai ocupando lugares que vão te levando para determinados caminhos. Eu fiquei muito feliz com a nomeação. Sinto-me realizada profissionalmente por ter esse reconhecimento dos meus pares e do governador. O trabalho tem grande importância na minha vida, então acredito que silenciosamente fui me preparando para o lugar que estou hoje".

A campanha

Segundo Patrícia, a campanha durou cinco meses e, durante o período, foram realizadas 57 reuniões pelo estado. "A gente fez muita visita aos colegas, tive que elaborar o plano de gestão também, então foi algo bem longo. Fomos em todas as regiões do Rio e fizemos muitos encontros na capital para expor as ideias de forma objetiva. Ouvimos muito os nossos colegas e tivemos contribuição dos defensores, servidores, residentes, enfim. Foi muito prazeroso para mim", disse.

Entenda como funciona a eleição na Defensoria Pública

As eleições internas na Defensoria Pública do Rio acontecem a cada dois anos e é um procedimento que está previsto na lei. Para escolher o novo chefe da instituição, é formada uma lista tríplice com três candidatos, defensores públicos, mais bem votados na categoria.

Os defensores ativos e inativos votam nos candidatos e os três mais bem votados formam essa lista, que é encaminhada para apreciação do governador. Patrícia concorreu com mais duas mulheres e foi a escolhida para o cargo, sendo a mais bem votada, com 55,4% dos votos. Ela tomou posse na última semana, tendo sido a primeira vez que se candidata a qualquer coisa.

História

Patrícia é casada, tem um filho de 20 anos e três enteados. Sua paixão pela defensoria começou quando trabalhava como professora em uma rede municipal de ensino em Rio das Pedras, Zona Oeste. "Eu fazia faculdade de direito pela manhã e à tarde eu ia para o colégio dar aula. Acho que ali, lidando com aquelas crianças, muitas vezes em extrema vulnerabilidade, fez crescer em mim a vontade de ser defensora quando me formasse".

Durante a faculdade ela foi estagiária na Defensoria Pública e com 24 anos passou no concurso da instituição. "Minha mãe e meu pai sempre me incentivaram a trabalhar. Para mim, o que eu faço não é um fardo, é um prazer. A minha família sempre me apoiou, meu marido é o meu maior incentivador. Estamos todos muito felizes com essa nova fase", finalizou.