Fachada da unidade Realengo do Colégio Pedro II precisa de reparos urgentesPedro Ivo/ Agência O Dia

Rio - Alunos e professores de uma das instituições de ensino mais tradicionais do Rio e do Brasil pedem ajuda urgente para que o ano letivo de 2023 não seja comprometido. Com infiltrações, danos estruturais e até infestação de cupins, o cenário no campus Realengo II do Colégio Pedro II, na Zona Oeste, é de abandono, mas é nessas condições que centenas de estudantes têm aulas de segunda a sábado na terceira escola mais antiga do Brasil ainda em atividade. Nas redes sociais, as reclamações soam como pedidos de socorro.
Os problemas são tão graves que o Coletivo de Professores e Alunos da unidade elaborou um dossiê para enumerá-los e apresentar as possíveis soluções. O documento está nas mãos da Reitoria, e o grupo trabalha agora para fazê-lo chegar ao Ministério da Educação, na esperança de uma atenção especial do presidente Lula, responsável pela inauguração das instalações da unidade em agosto de 2007, após anos funcionando de forma improvisada.
“Desde 2019, nós sofremos, como outros institutos federais, com cortes de verbas. E esses cortes levaram a instituição, principalmente o campus Realengo, a um estágio de degradação muito grande e de risco à integridade física de funcionários e estudantes. Se os ministros do STF e parlamentares estão chocados com a destruição na Praça dos Três Poderes, eles estão tendo uma mostra do que foi o longo processo de destruição em relação à educação e aos institutos federais”, critica um professor do Colégio, que prefere não se identificar.
Além de dificultar o aprendizado, a série de problemas é um risco à integridade física da comunidade escolar. Uma professora recentemente chegou a ter uma infecção pulmonar causada por fungos. A suspeita é que a umidade nas salas tenha sido a responsável. Episódios de crises de tosse também são comuns no local tantos para professores quanto para alunos.
Relatos e imagens indicam que a situação mais grave é a do Bloco C, inaugurado há apenas 11 anos, onde turmas já precisaram ser transferidas para outras salas por causa de alagamentos e goteiras.
Procurada, a Reitoria, sob a gestão de Ana Paula Giraux desde setembro de 2022, informou à reportagem de O DIA que havia iniciado reparos na cobertura do bloco, mas a equipe foi surpreendida por fortes chuvas fora de época. A previsão é de que a intervenção no telhado seja finalizada até meados de fevereiro.
Ainda de acordo com a direção, a manutenção completa depende da elaboração de um projeto mais robusto e, portanto, do recebimento de verbas federais, enquanto a primeira intervenção no telhado e nas calhas será efetuada por meio do contrato de manutenção predial.
A Reitoria evita culpar a gestão anterior pelo cenário de degradação encontrado no campus e concorda com a avaliação de que a falta de investimento público é uma das grandes responsáveis pela situação atual, embora ainda não tenha conseguido cobrar a governo recém-empossado.
"A atual gestão da Reitoria, empossada ao final do mês de outubro de 2022, ainda não teve a oportunidade de se manifestar junto aos órgãos do Governo Federal, também recém-empossados, a respeito da cobrança por recursos de investimento. Porém, a Reitora, juntamente com o Conif (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica), tem se manifestado sobre o assunto”, informou o colégio, em nota.
O professor ouvido pela reportagem, por sua vez, cobra celeridade no reparo para não comprometer o dia a dia dos alunos, já que a tendência é que o campus esteja mais cheio em 2023 do que no final do último período letivo, quando o problema foi agravado pelas fortes chuvas no Rio.
O deslocamento para outra unidade também é visto como alternativa inviável, pois já que a mais próxima fica no Engenho Novo, muito distante de Realengo. Também há unidades do Pedro II no Centro, Humaitá, Duque de Caxias, Niterói, São Cristóvão e Tijuca.
“Se as obras não foram feitas com urgência, onde é que a gente vai botar essas pessoas que frequentam o Bloco C? Na parte do Ensino Fundamental, há um problema grave em relação à parte elétrica e ar-condicionado por causa do estado de velhice, de degradação, do equipamento elétrico. Corre o risco de uma criança colocar a mão ali dentro e se eletrocutada. Não é exagero. Então atrapalha efetivamente no ato de ministrar as aulas. Como se agravou no final do ano, conseguiu-se dar um jeitinho, mas não vai ter como dar jeitinho no próximo ano letivo”, alerta o docente.
 
A aluna Jamilly Roberta, de 18 anos, não apenas concorda com o professor como faz coro ao seu apelo por uma solução imediata para o caso. Prestes a completar o Ensino Médio, já que o ano letivo precisou se estender até março por causa da pandemia de covid-19, ela percebeu como o cenário que já era ruim piorou de vez no fim do ano passado.
“No dia em que teve uma chuva forte, precisamos trocar de sala porque ninguém aguentou ficar lá dentro. Tivemos que ir para outro bloco. E isso ficou mais frequente. No fim do ano era possível fazer isso, mas quando estiver cheia (a escola) vai ficar mais difícil”, explica a estudante, que só começou a ter aulas presenciais em meados de 2021. Por causa da pandemia, quase metade de seus três anos como aluna do Pedro II foram à distância.
Não é apenas a situação das salas que assusta. Além delas, outras áreas também estão castigadas pela falta de manutenção, como uma das quadras, que tem buracos no teto e fica alagada em dias de chuva. O teatro Bernardo Pereira de Vasconcelos, inaugurado no final de 2014 com a promessa de levar espetáculos para Realengo, está interditado. Jamilly vê com tristeza a degradação do patrimônio público.
“O Bloco C é o que tem a situação mais grave, mas os outros estão bem sucateados também. Falta ventilação no refeitório, o teatro está interditado... E é importante ressaltar que esse sucateamento foi causado pelos últimos anos de governo. Esse cenário no Pedro II não é a toa. O descaso teve resultado”, analisa a aluna.
Apelo a parlamentares
Diante do desespero para pedir verba federal destinada a reparos no colégio, professores e alunos elaboraram, inclusive, uma proposta de emenda parlamentar que tem sido enviada a deputados federais pelo Rio. A intenção é sensibilizar alguns políticos para, desta forma, conseguir a verba destinada à reforma.
No documento, que faz parte do dossiê elaborado a partir da uma Assembleia Geral, consta a informação de que o valor necessário para os reparos é de aproximadamente R$ 3,4 milhões, de acordo com estimativas do setor de engenharia do Colégio Pedro II. A maior parte (cerca de R$ 2 milhões) é destinada à reforma do telhado do Bloco C. Também são consideradas revisão na parte elétrica do C, substituição de coberturas e esquadrarias, reforma do Castelinho, reforma no espaço destinado a terceirizados, cantinas e alojamentos, reforma no Complexo Esportivo, isolamento acústico em salas da Bloco B e pintura geral no campus.
Fundado em 2 de dezembro de 1837, o Colégio Pedro II tem mais de 12 mil alunos, Possui 14 campi, sendo 12 no município do Rio, um em Niterói e um em Caxias, além de Centro de Referência em Educação Infantil, localizado em Realengo, Zona Norte do Rio.
O Ministério da Educação foi procurado pela reportagem de O DIA para comentar as denúncias, no entanto não respondeu o contato até a publicação desta matéria.