Familiares de Diérson Gomes da Silva se reuniram com a Comissão de Direitos Humanos da AlerjEstefan Radovicz / Agência O Dia
Comissão de Direitos Humanos da Alerj se reúne com familiares de catador morto em operação da PM
'Há um sentimento de revolta', afirma a sobrinha de Diérson Gomes da Silva
Rio - Familiares do catador de recicláveis Diérson Gomes da Silva, morto por policiais militares na Cidade de Deus, se reuniram com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) na manhã desta quinta-feira (12).
Durante o encontro, a sobrinha de Diérson, Jurema de Souza, criticou a atuação dos policiais. "Há um sentimento de revolta. O meu tio não é o primeiro homem negro favelado a ser morto dessa forma. Ele foi alvejado por tiros, por balas que nós compramos porque pagamos os nossos impostos e vivemos corretamente. Ele foi alvejado com aquilo que a gente comprou para fazer a nossa defesa", desabafou Jurema. "Nós ainda não fomos procurados pelo Estado", acrescentou.
Sete dias depois da morte do irmão, Denise Monteiro pediu justiça e contou que tem recebido o apoio da comunidade. "Onde a gente passa, as pessoas só pelo olhar transmitem um abraço. Elas não falam, mas expressam com o olhar o desejo de força. Se tiver nova operação, a gente vai ficar com medo porque pode acontecer de atirarem em alguém como fizeram com o meu irmão", afirmou.
Diérson foi morto no quintal de casa durante uma operação policial na comunidade Cidade de Deus, na Zona Oeste. De acordo com a PM, agentes do 18º BPM (Jacarepaguá) se depararam com um homem que aparentava estar segurando um arma com bandoleira. O objeto, porém, era um pedaço de madeira.
Presente na reunião, a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), que preside a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, afirmou que o grupo vai acompanhar o caso e criticou o descumprimento da legislação que regulamenta as operações policiais.
"O encontro foi para prestar solidariedade à família e também entender quais medidas judiciais são cabíveis e quais órgãos devem ser acionados. A partir da comissão, a gente tenta provocar uma justiça individualizada do caso, mas também uma fiscalização de qual política pública é necessária para garantir os direitos humanos e a segurança pública", comentou.
"O governador precisa cumprir a lei que rege as operações policiais para resguardar tanto a vida dos agentes, mas especialmente dos moradores dessa comunidade. Não havia ambulância no local, não foi prestado o devido socorro e até hoje o governador retarda a instalação das câmeras nos uniformes dos policiais, o que poderia solucionar rapidamente casos como este", concluiu.
Os policiais envolvidos na morte de Diérson foram afastados do cargo e a corporação instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias da ocorrência. A Polícia Civil informou que os PMs e testemunhas prestaram depoimento. Além disso, as armas foram apreendidas para a perícia.
"O que a gente sabe, inclusive por informação oficial da polícia, é que eles confessaram o crime. Eles mataram uma pessoa inocente porque estava com um pedaço de madeira na mão. Ao nosso ver, conforme o que foi apurado até agora, houve um crime de homicídio e o Estado deve responder pela lesão causada de responsabilidade cível e a pessoa que cometeu esse crime, como qualquer criminoso, deverá pagar por isso", disse o advogado Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
O corpo de Diérson, 51 anos, foi enterrado neste sábado no Cemitério do Pechincha. Familiares da vítima pediram justiça e questionaram a ação da polícia.
"Quantos mais vão morrer de uma forma dessa? Tem que acabar. Eles tem que olhar antes de atirar, parar, eu não sei. O que não pode é vítimas inocentes serem mortas toda hora por causa de um pedaço de pau, de vassoura, de guarda-chuva", disse Denise Gomes da Silva, irmã do catador.
Procurado, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, informou que procurou a família de Diérson Gomes da Silva e ofereceu apoio, tanto para a realização do enterro quanto para recebê-los e encaminhá-los para um possível atendimento social ou psicológico.
De acordo com a pasta, o contato aconteceu no dia 7 de janeiro. O Governo do Estado também reforçou solidariedade aos parentes, ressaltando que segue à disposição para atendê-los.
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