A mãe da menina foi à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para registrar a ocorrênciaDivulgação

Rio - A mãe de uma criança de 11 anos denuncia que a filha e uma amiga, da mesma idade, ambas negras, foram vítimas de racismo por um segurança de uma papelaria em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, no dia 6 de janeiro. Segundo Jaiane dos Santos, a filha estava escolhendo o material escolar dentro da papelaria Tid's, localizada no Centro de Niterói, junto com a amiga, quando percebeu que elas estavam sendo seguidas por um segurança.
Ao se aproximar do funcionário, ela o questionou se ele estava suspeitando que a criança estivesse furtando a papelaria. Diante da afirmativa, Jaiane disse a ele que as duas crianças estavam com ela e que estavam apenas escolhendo itens para o início do ano letivo.
"Ela passou agora para o sexto ano letivo e é uma criança muito entusiasmada. Deixei ela à vontade para escolher as coisinhas dela e logo depois a chamei pra ver as mochilas. Enquanto via as bolsas, ela se encantou com um caderno inteligente e ficou olhando. Foi quando eu vi um segurança falando no rádio: "Elas já saíram do setor da lapiseira e estão no setor das agendas". Quando ele ia abordar elas, eu parei ele e foi quando eu tive certeza", desabada Jaiane. 
A mãe da menina conta ainda que chegou a pedir as imagens das câmeras de segurança para ver se elas realmente tinham tentado furtar algo. "Eu fiquei bem nervosa e pedi para falar com o gerente. Para a minha surpresa, o gerente também era negro. Pensei que ele ia se solidarizar comigo, mas aconteceu ao contrário. Eu fiquei muito frustrada", diz. 
Diante da situação, a mãe da menina disse que só sairia do local com a Polícia Civil, já que, de acordo com ela, tratava-se de um caso de racismo. Ela ligou para o 190 e foi levada em uma viatura para a 76ª DP (Niterói). No entanto, Jaiane só conseguiu ser atendida na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Niterói. Mesmo assim, foi aconselhada a registrar o boletim de ocorrência online.
Ela voltou pra casa e, bastante chateada com a situação, pensou em esquecer o ocorrido. No entanto, na sexta-feira (13) tomou conhecimento do caso da menina de 10 anos que também havia sido vítima de racismo em uma rede social. Em um vídeo publicado em novembro de 2022, a criança escreveu "essa pessoa está procurada porque roubou toda beleza do mundo" e recebeu comentários como "macaca", "preta" e "só nasce de novo, macaca".
"Eu vi que o advogado Daniel Vargas, da Comissão de Combate às Discriminações da Alerj, estava defendendo o caso e eu o procurei. Foi então que ele me orientou a registrar o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi)", diz a mãe da menina.
Menina vai receber atendimento pscológico
Nesta segunda-feira (16), Jaiane, enfim, registrou o caso na especializada, localizada no Centro do Rio. "O que me motivou a continuar com essa denúncia foi porque eu não quero que minha filha passe por isso novamente e nem que os futuros filhos dela, se tiver, também passem. Minha filha saiu chorando de lá, sem entender o motivo de ter ido comprar o material escolar e sair dentro de uma viatura da polícia. Eu tive que conversar com ela porque ela pergunta muito. Agora vou levá-la no psicólogo, ela está com trauma", conta a empresária.
Devido ao ocorrido, todo o material escolar da filha teve de ser comprado pela internet. "Ela disse que agora tem medo do segurança".
A reportagem procurou a Polícia Civil solicitando esclarecimento sobre a dificuldade encontrada pelas vítimas em registrar o caso, mas não obteve retorno até o momento. O Dia também procurou a Papelaria Tid's, mas ainda não conseguiu contato.