De perfil em perfil, sigo acreditando no encontro de histórias e nos feeds harmonizados pelos sentimentosArte: Paulo Márcio

Sou amante das palavras porque elas me traduzem e me revelam para o mundo. Foi assim que senti ao ler uma frase da escritora Viviane Lucas, que conheci através do Instagram: “Por aqui, os algoritmos bem que tentam me oferecer números, mas só reconheço gente”. Aliás, não sei qual foi a lógica que a tecnologia usou para sugerir que eu a seguisse na rede social e vice-versa. Mas ali conheci a escritora de poemas e a pessoa que também acredita que a felicidade se acha em horinhas de descuido, como bem disse o poeta Guimarães Rosa. De tanto admirar a escrita da Viviane, comprei o seu livro. Lembro que a obra chegou pelos Correios, com um bilhete escrito à mão. Eram palavras personalizadas para mim, o que só reforça a minha teimosia em ver gente nesse mundo em que precisamos identificar o @ de cada um.
Sigo, assim, me interessando pelas pessoas que as conexões virtuais me apresentam, por mais que ali esteja apenas um recorte da nossa trajetória e não a totalidade do que vivemos. De Stories em Stories, encontro artistas e me fascino com os sentimentos que movem os seus trabalhos. Dentro dos meus pensamentos, até ouso fazer um casamento entre uma obra de arte e uma das minhas músicas preferidas. Talvez eu tenha tido uma horinha de descuido no corre-corre da vida ao ver, no Instagram, a obra ‘Duas almas na multidão’, de Anderson Perin, do Sul do país. Em vermelho, os seus traços destacam duas essências no enorme povoado do mundo. Uma simbologia perfeita dos encontros que acontecem na vida, dentro de uma infinidade de conexões possíveis. Logo pensei na Marisa Monte cantando: ‘Ainda bem/ Que agora encontrei você...’
Sim, a gente sempre encontra alguém no mundo. Acontece também quando vejo olhares poéticos nas redes sociais, todos com nome já conhecidos para mim: são da Waldice, da Ana Cecilia, de pessoas que veem formatos de coração nas folhas da natureza. Acredito que elas também se distraem e enxergam beleza na simplicidade. Gosto de gente que consegue fantasiar, sonhar e acreditar que existem reciprocidade e empatia. Sou fã de quem crê na chance de nos esbarrarmos nas esquinas da vida, mesmo que virtuais. Afinal, se a gente não se descuidar um pouco, a tal alegria nem vira realidade.
De perfil em perfil, sigo acreditando no encontro de histórias e nos feeds harmonizados pelos sentimentos. Foi assim quando me deparei com um lindo relato de aniversário que falava sobre o movimento constante das nossas trajetórias, tanto nas tempestades quanto na volta do sorriso. Era um texto sobre a crença no amanhã e no renascimento, que poderia ser um pouco meu também.
É curioso como vejo pessoas até nos perfis em que seus autores não postam fotos suas. Afinal, o que produzimos já revela muito sobre nós. Podem ser palavras, pinturas, fotografias: nossas obras viram marcas registradas de nós mesmos. Por falar em cliques, uma outra conexão virtual me remete aos passeios com a minha mãe, que agora me acompanha de outro plano. São os registros das andanças do professor Carlinhos e da sua mãe, Neivinha, pelo Rio. Nunca os vi pessoalmente, mas é essa mensagem que me transmitem. Eu acredito nas histórias por trás dos endereços eletrônicos e em tantas horinhas de descuido que elas me revelam através de poemas, obras de arte, fotografias ou da crença de um novo dia. De repente, vejam só, a gente tem a felicidade de conhecer pessoas. Ainda bem!