Agentes cumpriram, até o momento, dez mandados de prisão contra investigadosMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio (MPRJ) realizam, nesta quinta-feira (26), uma ação para descapitalizar uma quadrilha que traficava drogas e armas para integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP) no estado. Cerca de 100 agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) pretendem cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Santa Catarina e São Paulo. Até o momento, 12 pessoas foram presas na operação Fim do Mundo.


De acordo com a denúncia do MPRJ, a organização criminosa fornece armas e drogas para lideranças do tráfico, que são revendidas em diversas comunidades dominadas pelo TCP no Rio, além de em localidades de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Edivaldo Freitas Portugal, o Edinho Portugal, é apontado como um dos líderes da quadrilha, responsável pelo gerenciamento financeiro e a coordenação logística da compra e venda das cargas traficadas.

As investigações descobriram que um dos pontos de descarga do material ilícito era a Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa), em Irajá, por conta da proximidade com a favela de Acari, na Zona Norte. Também denunciado, Sebastião Fernando de Oliveira é apontado pela denúncia como um dos fornecedores da quadrilha. Já Sandro Rogério de Souza, Gabriel Salabert da Silva Santos e Fábio Moraes da Silva, o Fabinho PDQ, atuavam como braços financeiros, fazendo pagamentos e manobras para lavar dinheiro. A organização criminosa é dividida em três grupos que movimentaram aproximadamente R$ 100 milhões nos últimos três anos. 

O primeiro deles é o dos chamados "Irmãos Castro", comandado por Renato Castro Belchior, o Chaveirinho, e Rodrigo Castro Caetano, o Espeto. A dupla e seus comparsas tinha relações estreitas com traficantes de armas e drogas, negociando a venda de cargas de 300 a 1,6 quilos de drogas, além de armas, inclusive fuzis. Eles viajavam para o Rio uma ou duas vezes ao mês. Os criminosos também lavavam o dinheiro ilícito com a compra de imóveis, veículos e embarcações de luxo nas cidades de Balneário Camboriú e Camboriú, em Santa Catarina.
Segundo a PF, a aquisição dos imóveis era feita em nome de terceiros e com o auxílio de um casal de corretores catarinenses. A compra dos bens acontecia por meio de depósitos ou transferências bancárias de forma fracionada em diversas prestações, feitos por pessoas ligadas a organização criminosa, e em agências localizadas próximas às comunidades de Padre Miguel, Bangu e Coelho Neto. Após as transações, os registros eram feitos em nome de laranjas, incluindo uma cabeleireira e um padeiro do Rio, além de pessoas no Foz do Iguaçu, Balneário Camboríu e Itapema.
De acordo com o delegado Bruno Humelino, responsável pela investigação, a maior parte dos laranjas sabia sobre os registros porque recebiam vantagens e foram denunciados. Entre os 30 investigados, estão a mãe, as esposas e ex-companheiras, as irmãs e cunhados de Chaveirinho e Espeto, que levavam uma vida de luxo no município e movimentavam altos valores em suas contas bancárias. A maior parte deles foi beneficária do Auxílio Emergencial. Os seis presos em Santa Catarina são um dos irmãos, uma irmã, um cunhado, um laranja e os corretores.
"Esse núcleo específico inseria armas e drogas no Rio de Janeiro, só que, a partir do momento que adquiriram um padrão de vida de alto poder aquisitivo, passaram a comprar imóveis em Santa Catarina, especificamente em Balneáreo Camboriú e Camboriú, e dar uma aparência lícita para esse dinheiro de uma relação espúria", explicou o delegado. Nas diligências, ainda foi descoberto que os corretores planejavam a construção de um prédio com 12 unidades, financiada pelos irmãos e registrado em nome de terceiros. A Polícia Federal solicitou o embargo do empreendimento. 
Já o segundo grupo, que era responsável por levar drogas para Rio e Belo Horizonte, comprava carros de luxo, como BMW, Porsche e Mercedes, e imóveis em condomínios de alto padrão em Angra dos Reis e Mangaratiba, na Costa Verde, e Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. Somente Edivaldo adquiriu uma casa de veraneio por R$ 2,5 milhões, além de veículos, que também eram registrados em nomes de laranjas para ocultar a real propriedade dos bens.
"Nós temos uma pessoa que foi presa pela própria Delegacia de Repressão à Drogas, em 2009, com seu comparsa, que também foi preso hoje. Em 2012, nós investigamos de novo e conseguimos interceptar uma ligação em que ele negociava droga de dentro do presídio. Só que notamos que, em 2018, assim que ele saiu da prisão, ele foi morar em um imóvel de luxo. A partir daí, observamos que era imprescindível descaptalizar esse grupo criminoso para que eles não pudessem voltar a delinquir", afirmou Humelino. 
Por fim, o terceiro grupo usava empresas inexistentes ou com baixa atividade lucrativa para ocultar a origem do dinheiro ilícito, uma delas com sede em São Paulo. "Um outro núcleo criminoso, que dentro de uma comunidade do Rio de Janeiro, fazia diversas transações por meio de empresas inexistentes (...) Nessa investigação, conseguimos obter a informação de empresas que não existiam, mas que movimentavam cifras milionárias. Então, por exemplo, temos uma empresa cuja sede é em São Paulo, em uma residência humilde e que houve a movimentação de milhões de reais", continuou o delegado.
As investigações tiveram início em 2019, após uma série de apreensões da PF de toneladas de drogas, armas e munições, entre elas carregamentos de fuzis, que tinham como destino as comunidades de Acari e Vila Aliança. Nas investigações, foi possível identificar os principais responsáveis por abastecer as comunidades do TCP, bem como as suas estratégias para operar o esquema.
Além dos mandados de prisão e busca e apreensão, o Juízo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital também determinou o sequestro de 15 imóveis, 19 automóveis e três embarcações, nos municípios do Rio de Janeiro, Mangaratiba e Angra dos Reis, na Costa Verde; além de em Balneário Camboriú; e Foz do Iguaçu. Além disso, foram bloqueadas mais de 32 contas bancárias vinculadas à organização criminosa. A restrição foi de cerca de R$ 22 milhões de reais.
Entre as 12 prisões, 11 foram por meio do mandado de prisão preventiva e uma em flagrante por uso de documento falso. Ao todo, quatro pessoas foram presas no Rio, seis em Santa Catarina e duas em São Paulo. Os agentes também apreenderam, no Rio, um veículo modelo picape, e em Balneáreo Camboriú, um jet ski, duas lanchas de 34 e 38.5 pés, além de uma BMW e aproximadamente R$ 340 mil em espécie. 
Os investigados vão responder por lavagem de dinheiro, associação criminosa e associação para o tráfico de drogas, organização criminosa e lavagem de capitais. As penas somadas podem chegar a 24 anos de prisão. As denúncias foram oferecidas junto à Vara Criminal Especializada em novembro de 2022.

Em balanço divulgado pela PF, as apreensões ultrapassam a casa dos R$ 3 milhões. Ao todo, além do jet ski, das lanchas e uma BMW citados, foram apreendidos outras duas BMW, uma Ford Ranger blindada, dois Toyota Corolla, um Jeep, um Volvo, uma Toyota Hilux, outro jet ski, uma pistola Glock calibre 380 e duas pistolas Taurus calibre 380. Também foram apreendidos, ao total, R$ 500 mil em espécie, além de relógios de luxo, joias, motos, celulares e documentos.