Caso foi registrado na 23ª DP (Méier)Reprodução/ Google Maps
Polícia investiga possível caso de racismo contra três garotas negras em festa infantil
Crianças de 6 e 7 anos teriam sido impossibilitadas de comer ou beber no evento, realizado em um condomínio em Del Castilho
Rio – A 23ª DP (Méier) investiga um possível caso de racismo contra três crianças negras em uma festa infantil, no último domingo (12), em um condomínio em Del Castilho, Zona Norte do Rio. As garotas teriam sido impossibilitadas de comer e beber por conta da cor da pele.
Segundo Débora Miranda, mãe de duas gêmeas de 7 anos, elas haviam sido convidadas para um churrasco na área comum do edifício. As crianças brincavam no parquinho do condomínio mas, por conta da chuva, juntaram-se aos adultos. Uma festa infantil também era realizada no prédio, ao lado da área comum.
"A animadora da festinha infantil toda hora chamava as crianças para entrar, porque elas preferiam ficar brincando por ali no entorno no parquinho. Então, ela passava e pedia para a gente deixar as garotas participarem. Com a insistência e a situação da chuva, concordamos", disse Débora.
Segundo testemunhas, as meninas pareciam ser as únicas negras na festa. Elas brincavam normalmente com as outras crianças presentes mas, em certos momentos, saíam do salão e eram chamadas novamente pela animadora. Eventualmente, após o parabéns ter sido cantado, foram novamente na direção das mães, dessa vez visivelmente tristes, e relataram que não podiam comer ou beber no evento.
As garotas teriam sido instruídas pela recreadora a falar com a dona da festa, mãe do aniversariante, e recebido a resposta que não foram convidadas e não poderiam consumir o que era oferecido.
"Essas crianças nem deveriam estar aqui, vocês invadiram a minha festa. Retirem essas crianças pretas daqui de dentro, porque elas não fazem parte desse ambiente", teria dito a responsável pelo evento a um amigo de Débora, conforme testemunhas. Em seguida, o homem xingou a mulher e uma confusão se instaurou no local. O rapaz teria levado dois pontapés enquanto deixava o salão.
A organizadora da festa teria reforçado que o motivo de não servir as meninas não era racial, mas que cada bebida e alimento disponível estava dentro de um cálculo baseado no número de convidados.
As mães decidiram acionar a polícia, e todos os envolvidos foram conduzidos à 23ª DP. Segundo Débora, ao chegarem na delegacia, um policial que não estava de plantão tentou, sem sucesso, intervir no caso. Ele teria sido chamado por pessoas envolvidas na festa.
Débora afirma ainda que ficou até as 3h da manhã no local, junto a Simone Fritez, mãe da terceira menina, sendo elas as últimas a deporem. As filhas, que estavam junto, deixaram a delegacia abaladas, uma delas com febre. O caso foi registrado como preconceito e injúria, e está sendo investigado. O amigo que teria sido agredido decidiu por não registrar ocorrência, preferindo que os esforços fossem focados no caso das crianças.
"Eu me sinto revoltada, triste e indignada. A cada momento que passa eu entendo que foi algo orquestrado. A dona da festa se contradisse o tempo todo, as garotas eram convidadas pelas recreadoras, que iam buscá-las ali. Eu achei aquilo estranho, porque recreadoras geralmente fazem brincadeiras com crianças que querem participar, não ficam insistindo. Como os garçons saberiam que elas não eram convidadas? Foi algo orquestrado", disse Simone, adicionando que a mãe do aniversariante declarou que havia apenas 22 saquinhos de brinde, número que teria sido calculado para os convidados, mas em outro momento declarou que a festa tinha 48 crianças.
"Em nenhum momento na delegacia ela (a dona da festa) olhava para as três crianças, em nenhum momento demonstrou qualquer sentimento de arrependimento", completou Simone.
O condomínio foi notificado a respeito da situação e agentes pediram imagens das câmeras de segurança do edifício.
*Reportagem do estagiário Luca Tornaghi, sob supervisão de Thiago Antunes
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