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Agremiações das divisões de acesso se manifestam contra decisão que proíbe crianças em desfiles

Escolas de samba alegam que sem os integrantes mirins podem até perder pontos em quesitos

Rio,23/02/2020-CAMPINHO, Carnaval 2020, Intendente Margalhaes. Carnaval na Zona Norte na foto, desfile da Rosa de Ouro, dono do taxi.Foto: Cleber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes

Rio - Presidentes das escolas de samba das divisões de acesso do carnaval se manifestaram, nesta quinta-feira (16), contra a decisão da Justiça que proíbe a presença de crianças e adolescentes nos desfiles da "Nova Intendente". Após a determinação, o desespero tomou conta de algumas agremiações, que podem sofrer uma grande baixa sem os integrantes mirins. A Arrastão de Cascadura, por exemplo, estava contando com cinco crianças somente na comissão de frente.
A decisão, da juíza Mônica Labuto Fragoso Machado, titular da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital, carrega como argumento o risco de balas perdidas no novo local escolhido para ser palco dos desfiles, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, próximo ao Morro do Fubá, na Zona Norte. Antes, a folia acontecia na Estrada Intendente Magalhães, também em Cascadura.

Para o presidente da Arrastão de Cascadura, Armênio Erthal, a polícia deveria reforçar a segurança na região e garantir os direitos das agremiações.

"Na realidade acho que estamos passando por um jogo de empurra. Cada um tirando o corpo fora. É um absurdo a polícia assumir que não temos condições de viver em segurança na cidade. Quem deveria nos proteger tira o corpo fora, não só a criança, todos nós estamos vulneráveis. A juíza vai e também tira o corpo fora, mas ela esquece do emocional da criança, ela esquece que essas crianças se prepararam o ano inteiro! Ela esquece que o desfile é esperado pelas crianças, como fica o psicológico delas? Acho um total desrespeito com a população", disse.

Segundo seu relato, a escola será prejudicada com a ordem pois pode perder pontos em diversos quesitos por conta da falta das crianças em determinas alas.

"A escola saiu muito prejudicada, inclusive em quesitos como comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira e bateria. Corremos o risco de perder o carnaval, só na comissão de frente já entramos perdendo, temos cinco crianças. E não há o que fazer em dias, a comissão passa meses ensaiando".

Um ofício foi encaminhado aos representantes da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) e da Superliga - organizadora dos Desfiles das Escolas de Samba da Série Prata, Bronze e Grupo de Avaliação, comunicando que "não serão expedidos alvarás judiciais autorizando a participação de crianças e adolescentes no evento intitulado de 'Novo Carnaval da Intendente Magalhães 2023', com realização prevista para os dias 18 a 26 de fevereiro, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura."

A decisão foi baseada em pareceres desfavoráveis do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado da Defesa Civil (Diretoria Geral de Diversões Públicas), devido ao fato de haver poucas ruas transversais no trecho de 400 metros do desfile da Avenida Ernani Cardoso, o que dificulta a saída das pessoas em caso de tiroteios. Além disso, a Polícia Militar também deu um parecer desfavorável, que apontou o risco alto de balas perdidas durante possíveis confrontos entre a facção e a milícia pela disputa de territórios.

De acordo com Fernando José, presidente do GRES Independente da Praça da Bandeira, de São João de Meriti, na Baixada, o desfile é uma das pequenas alegrias das crianças da comunidade e o direito delas não deveria ser retirado.

"Eu acho uma atitude arbitrária, pois determina um toque de recolher. A Independente da Praça da Bandeira é da Baixada Fluminense, em que as crianças e adolescentes não tem atividade nenhuma, o desfile para eles é como se fosse um passeio, pois eles ficam praticamente dentro da comunidade. Eu, por exemplo, já entreguei todas as fantasias para a ala de Crianças, com um contingente de 40 crianças e adolescentes, agora como fala para elas que não vão mais desfilar? Será uma frustração", falou.

José ainda diz acreditar que as escolas não deveriam cumprir a medida, já que as crianças são o futuro das agremiações, e ressalta que precisam pagar pelo direito de ter menores em sua composição.

"Eu acredito que todos devam não cumprir a decisão, pois a sete dia do carnaval, o prejuízo das agremiações será enorme, pois serão penalizadas com perda de pontos por conta das obrigatoriedades. Nós temos que cumprir exigências de componentes para desfilar, como vou repor agora, a sete dias do desfile? Quem vai me ressarcir do custo dessas fantasias que não vão pra avenida?", indagou.

O presidente da Mocidade Unida do Santa Marta, de Botafogo, Nestor Bordini, categorizou a decisão como institucional e expôs que as crianças tem uma participação ativa na agremiação. "As crianças, nossos erês da continuidade de nossa cultura, para o nosso desfile na Intendente Magalhães, temos uma ala de 30 crianças. Além disso temos crianças em nossa bateria e um casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira".
A participação de crianças nos desfiles da Intendente é quase uma tradição. Todos os anos, centenas de crianças desfilam nas agremiações das séries Prata e Bronze, além daquelas que vão com suas famílias prestigiar a festa durante os dias de carnaval. Com a determinação, grande parte da folia perde o sentido sem a presença dos pequenos.

Bordini também destacou que acredita que o maior prejuízo, para além do financeiro, é o emocional das crianças ao descobrirem que, a poucos dias do desfiles, não vão poder estar presente depois de tantos ensaios e dedicação.

"Acredito que o maior prejuízo será cultural e emocional pois pode trazer consequências para a saúde e formação dessas crianças... será um impacto muito grande não poder exercer sua liberdade cultural", disse.

Nesta quinta-feira, o presidente da Superliga Carnavalesca do Brasil (Liesb) vai se reunir com os presidentes das agremiações dos grupos de acesso para a elaboração de uma liminar com o objetivo de recorrer da decisão da Justiça. Por meio de nota, a Liesb informou que já estão tomando todas as providências cabíveis junto às agremiações. Ainda ressaltou que "privar menores de participar da maior festa cultural do país é não olhar para o futuro do samba".
A Riotur foi procurada, mas até a publicação desta matéria não respondeu aos questionamentos.
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Agremiações das divisões de acesso se manifestam contra decisão que proíbe crianças em desfiles

Escolas de samba alegam que sem os integrantes mirins podem até perder pontos em quesitos

Rio,23/02/2020-CAMPINHO, Carnaval 2020, Intendente Margalhaes. Carnaval na Zona Norte na foto, desfile da Rosa de Ouro, dono do taxi.Foto: Cleber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes

Rio - Presidentes das escolas de samba das divisões de acesso do carnaval se manifestaram, nesta quinta-feira (16), contra a decisão da Justiça que proíbe a presença de crianças e adolescentes nos desfiles da "Nova Intendente". Após a determinação, o desespero tomou conta de algumas agremiações, que podem sofrer uma grande baixa sem os integrantes mirins. A Arrastão de Cascadura, por exemplo, estava contando com cinco crianças somente na comissão de frente.
A decisão, da juíza Mônica Labuto Fragoso Machado, titular da 3ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Capital, carrega como argumento o risco de balas perdidas no novo local escolhido para ser palco dos desfiles, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, próximo ao Morro do Fubá, na Zona Norte. Antes, a folia acontecia na Estrada Intendente Magalhães, também em Cascadura.

Para o presidente da Arrastão de Cascadura, Armênio Erthal, a polícia deveria reforçar a segurança na região e garantir os direitos das agremiações.

"Na realidade acho que estamos passando por um jogo de empurra. Cada um tirando o corpo fora. É um absurdo a polícia assumir que não temos condições de viver em segurança na cidade. Quem deveria nos proteger tira o corpo fora, não só a criança, todos nós estamos vulneráveis. A juíza vai e também tira o corpo fora, mas ela esquece do emocional da criança, ela esquece que essas crianças se prepararam o ano inteiro! Ela esquece que o desfile é esperado pelas crianças, como fica o psicológico delas? Acho um total desrespeito com a população", disse.

Segundo seu relato, a escola será prejudicada com a ordem pois pode perder pontos em diversos quesitos por conta da falta das crianças em determinas alas.

"A escola saiu muito prejudicada, inclusive em quesitos como comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira e bateria. Corremos o risco de perder o carnaval, só na comissão de frente já entramos perdendo, temos cinco crianças. E não há o que fazer em dias, a comissão passa meses ensaiando".

Um ofício foi encaminhado aos representantes da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) e da Superliga - organizadora dos Desfiles das Escolas de Samba da Série Prata, Bronze e Grupo de Avaliação, comunicando que "não serão expedidos alvarás judiciais autorizando a participação de crianças e adolescentes no evento intitulado de 'Novo Carnaval da Intendente Magalhães 2023', com realização prevista para os dias 18 a 26 de fevereiro, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura."

A decisão foi baseada em pareceres desfavoráveis do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado da Defesa Civil (Diretoria Geral de Diversões Públicas), devido ao fato de haver poucas ruas transversais no trecho de 400 metros do desfile da Avenida Ernani Cardoso, o que dificulta a saída das pessoas em caso de tiroteios. Além disso, a Polícia Militar também deu um parecer desfavorável, que apontou o risco alto de balas perdidas durante possíveis confrontos entre a facção e a milícia pela disputa de territórios.

De acordo com Fernando José, presidente do GRES Independente da Praça da Bandeira, de São João de Meriti, na Baixada, o desfile é uma das pequenas alegrias das crianças da comunidade e o direito delas não deveria ser retirado.

"Eu acho uma atitude arbitrária, pois determina um toque de recolher. A Independente da Praça da Bandeira é da Baixada Fluminense, em que as crianças e adolescentes não tem atividade nenhuma, o desfile para eles é como se fosse um passeio, pois eles ficam praticamente dentro da comunidade. Eu, por exemplo, já entreguei todas as fantasias para a ala de Crianças, com um contingente de 40 crianças e adolescentes, agora como fala para elas que não vão mais desfilar? Será uma frustração", falou.

José ainda diz acreditar que as escolas não deveriam cumprir a medida, já que as crianças são o futuro das agremiações, e ressalta que precisam pagar pelo direito de ter menores em sua composição.

"Eu acredito que todos devam não cumprir a decisão, pois a sete dia do carnaval, o prejuízo das agremiações será enorme, pois serão penalizadas com perda de pontos por conta das obrigatoriedades. Nós temos que cumprir exigências de componentes para desfilar, como vou repor agora, a sete dias do desfile? Quem vai me ressarcir do custo dessas fantasias que não vão pra avenida?", indagou.

O presidente da Mocidade Unida do Santa Marta, de Botafogo, Nestor Bordini, categorizou a decisão como institucional e expôs que as crianças tem uma participação ativa na agremiação. "As crianças, nossos erês da continuidade de nossa cultura, para o nosso desfile na Intendente Magalhães, temos uma ala de 30 crianças. Além disso temos crianças em nossa bateria e um casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira".
A participação de crianças nos desfiles da Intendente é quase uma tradição. Todos os anos, centenas de crianças desfilam nas agremiações das séries Prata e Bronze, além daquelas que vão com suas famílias prestigiar a festa durante os dias de carnaval. Com a determinação, grande parte da folia perde o sentido sem a presença dos pequenos.

Bordini também destacou que acredita que o maior prejuízo, para além do financeiro, é o emocional das crianças ao descobrirem que, a poucos dias do desfiles, não vão poder estar presente depois de tantos ensaios e dedicação.

"Acredito que o maior prejuízo será cultural e emocional pois pode trazer consequências para a saúde e formação dessas crianças... será um impacto muito grande não poder exercer sua liberdade cultural", disse.

Nesta quinta-feira, o presidente da Superliga Carnavalesca do Brasil (Liesb) vai se reunir com os presidentes das agremiações dos grupos de acesso para a elaboração de uma liminar com o objetivo de recorrer da decisão da Justiça. Por meio de nota, a Liesb informou que já estão tomando todas as providências cabíveis junto às agremiações. Ainda ressaltou que "privar menores de participar da maior festa cultural do país é não olhar para o futuro do samba".
A Riotur foi procurada, mas até a publicação desta matéria não respondeu aos questionamentos.
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