São Gonçalo sofreu com desabamentos por causa da forte chuva nesta semanaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
'Minha cabeça ficou em um vãozinho', conta sobrevivente de desabamento em São Gonçalo
Mircideia do Amparo, de 84 anos, ficou soterrada depois que a casa onde mora desabou no bairro Zumbi
Rio - A cidade de São Gonçalo viveu dias de tristeza nesta semana por causa da forte chuva que causou desabamentos e deslizamentos na última segunda-feira (13). Quatro pessoas morreram, incluindo a família Santiago que foi sepultada nesta quinta-feira (16) no Cemitério Municipal de São Gonçalo após 53 horas de buscas sob escombros. No entanto, a tragédia também trouxe histórias de alívio como a da idosa Mircideia do Amparo, de 84 anos, que sobreviveu ao desabamento de sua casa no bairro Zumbi.
A mulher deu entrada no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat) na segunda-feira (13) através de uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Ela contou que estava na sala de casa quando escutou um estalo e a residência veio abaixo. Mircideia ficou com a cabeça entre um vão pequeno e conseguiu avisar os vizinhos onde estava para que o resgate pudesse ser feito.
"Eu estava sentada no sofá e de repente ouvi um estalo. Parece que aquela coisa já veio em cima de mim como se me desse um empurrão. Eu caí no chão e via tudo mesmo debaixo daqueles tijolos. Eu estava ciente do que estava havendo. Minha cabeça ficou em um vãozinho e eu me mexia só um cadinho. Depois comecei a ver que estava juntando água e pensei 'E agora meu Deus?'. Depois de muito gritar, comecei a ouvir vozes e gritei mais. Já estava cansada e disposta a não gritar mais, mas conforme eu fui gritando, o pessoal foi chegando e eu me animando", contou.
Primeiramente, a idosa foi resgatada por populares. Depois, a ambulância dos Bombeiros foi acionada e levou a mulher até o hospital. Segundo a assessoria do Heat, Mircideia fraturou a tíbia e o ombro. Ela está sendo medicada, estabilizada e passará por uma cirurgia na próxima semana.
"Eu estava apavorada ali embaixo. Era muito barro, tijolo e telha. Eu sei que eles [vizinhos] começaram a tirar as coisas e eu pedindo para ser rápido. Até que me tiraram com a perna quebrada e alguns arranhões. Chamaram a ambulância do Corpo de Bombeiros e eles foram rápidos. Se eles não chegassem, os vizinhos iam trazer. Consegui entrar na ambulância e me deram soro e remédio. Estou aqui na Graças de Deus. Agora é começar uma nova vida", completou a idosa.
Para Júlio César, filho da paciente, a mãe passou por um milagre. Júlio contou que o irmão, João Luiz do Amparo, estava no momento do desabamento e ficou em choque.
"Na hora, passa um filme na nossa cabeça tremendo. Quando eu vi ela deitada ali, confesso que pensei que ela ia morrer. Foi muito difícil. Uma coisa horrível. Meu irmão entrou em choque e não conseguia fazer nada. Ele ficou travado. Tivemos que pegar ele a força para trazer também, se não, ele não vinha. Só desespero. Graças a Deus deu tudo certo e hoje estamos vendo um grande resultado.
De acordo com a assessoria do Heat, João deu entrada na unidade, mas já recebeu alta.
Vítimas do temporal
A forte chuva da última segunda-feira (13) deixou quatro pessoas mortas vítimas de desabamentos em São Gonçalo. Alan Santiago Cabral, de 45 anos, Rosilene Pereira Gomes Santiago, 34, e Maitê Santiago Pereira, 4, que são pais e filha, morreram depois que a casa onde moravam desabou no bairro Engenho Pequeno. O homem e a criança foram encontrados sob os escombros depois de 53 horas de buscas.
Outra vítima, que também morava no Engenho Pequeno, foi Roseli de Castro, 52, que foi encontrada pelo Corpo de Bombeiros ainda na segunda-feira (13). O caso aconteceu na Rua Antônio Félix.
No mesmo bairro, uma outra residência desmoronou na Rua Aidea Barreto Couto, e Raíza Dias, 29, foi soterrada, mas resgatada com vida. Taís Tavares, que é dona do imóvel, e a filha de 13 anos conseguiram se salvar antes da chegada dos militares.
A Prefeitura de São Gonçalo determinou a retirada provisória de 43 famílias que moram no bairro do Engenho Pequeno, depois dos deslizamentos. Segundo a Defesa Civil da cidade, 248 pessoas foram desabrigadas e 23 desalojadas. As famílias desabrigadas vão receber R$ 600 como forma de auxílio por até 12 meses. O poder executivo municipal também adiou as comemorações do Carnaval em solidariedade às famílias vítimas do temporal.
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