Rio - Familiares denunciam negligência da Polícia Militar no socorro de Ivan Correia dos Santos, de 55 anos, vítima de uma bala perdida na tarde desta terça-feira (28), na favela de Manguinhos, na Zona Norte. O homem estava em um bar da comunidade, quando foi atingido nas costas e o disparo saiu pelo seu abdômen. O morador está internado em estado grave no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) desta quarta-feira (1º).
De acordo com o filho mais velho da vítima, Iverton Gomes dos Santos, o pai tinha fechado o lavo-jato onde trabalha e seguido para um bar da comunidade com a neta de 8 anos e outro filho para comprar refrigerante. Próximo ao estabelecimento, há um viaduto, de onde, segundo ele, moradores contaram que agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) atiraram, alegando que haviam sido atacados por suspeitos.
Entretanto, relatos afirmam que não tinham ocorrido disparos antes. Ainda segundo Iverton, o pai estava debruçado na mesa de sinuca do bar, quando um tiro atingiu suas costas e saiu pelo seu abdômen. Pouco depois, de acordo com os moradores, os policiais continuaram atirando com direção à favela, quando os traficantes da região revidaram, dando início a um confronto. Segundo o filho, os PMs só prestaram socorro ao pai aproximadamente 25 minutos depois, quando moradores se aglomeraram no local.
"Depois do meu pai ser baleado, estar no chão com 20 minutos, agonizando, com tudo para fora, eles falando que meu pai era bandido, minha sobrinha gritando, está lá até hoje falando que o avô dela morreu, vai ter que passar por tratamento psicológico. Minha irmã desesperada querendo ajudar, tendo que levantar a camisa para eles verem que é morador, que é filha e queria chegar, mesmo assim não deixaram, ficaram omitindo socorro. Logo depois de 20, 25 minutos que eles foram (prestar socorro), porque os moradores começaram a aglomerar e eles viram que realmente era morador, trabalhador e fizeram besteira", afirmou Iverton.
Em vídeos feitos por moradores, é possível ver as marcas dos tiros na mesa de sinuca e em outros pontos do estabelecimento. Confira abaixo. Ainda de acordo com o filho, após saberem que a vítima não tinha envolvimento com o crime organizado da região e que se tratava de um morador de Manguinhos, os policiais teriam dito para a filha dele que o tiro tinha os suspeitos como alvos e não Ivan. Os agentes do Bope então socorreram o homem para a unidade de saúde onde ele permance internado.
Morador foi vítima de bala perdida durante tiroteio em Manguinhos.#ODia
"Depois que eles viram que meu pai era morador, viram que era de idade, alegaram que o tiro não foi para pegar no meu pai e sim nos suspeitos. Que suspeito era esse? Ninguém viu, ninguém sabe onde está esse suspeito (...) Infelizmente, (o tiro) pegou no meu pai e agora, como é que fica? Eu estou querendo saber uma posição, alguém que possa me explicar como é que fica. Eu quero justiça, é a única coisa. Estou pedindo justiça pelo meu pai. E não é por nada, valores, não é financeiramente, não são bens materiais, eu quero justiça para mostrar que a justiça não vale só para um lado, não. O que é para um, é para todos, o que é para Paulo, tem que ser para Pedro, também. É isso que eu quero que seja", declarou o filho.
Segundo o comando do Bope, equipes realizavam patrulhamento pela Rua Leopoldo Bulhões, na altura de Manguinhos, quando foram atacadas por disparos de arma de fogo. "Cessados os disparos, os policiais encontraram um homem ferido e o socorreram ao Hospital Souza Aguiar. Os familiares da vítima foram conduzidos pelos militares à 21ª DP para registrar o ocorrido", disse a PM.
A nota esclareceu ainda que, posteriormente, equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Manguinhos foram informadas de que um homem baleado deu entrada no Hospital Geral de Bonsucesso. A vítima é Benedito Constantino da Silva, de 39 anos, que foi atingido na virilha. Ele passou por procedimento para retirada do projétil e permanece internado em estado grave no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade.
A Corporoção ressaltou que a Ouvidoria da Polícia Militar "está sempre à disposição dos cidadãos" pelo telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br e que a Corregedoria Geral também pode ser contactada através do telefone (21)e 2725-9098 ou ainda pelo site www.cintpm.rj.gov.br, com anonimato garantido. O caso foi registrado na 21ª DP (Bonsucesso). "Os policiais militares que participaram da ação foram ouvidos. Testemunhas e vítimas também prestarão depoimento. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos", informou a Polícia Civil.
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