Françoise Edgar Carvalho voltava do trabalho quando foi atingido por raio, durante o temporalReprodução

Rio - O jovem Françoise Edgar Carvalho, de 21 anos, que morreu no temporal que atingiu Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, era irmão de um dos jogadores sobreviventes do acidente com o Esporte Clube Vila Maria Helena, time do município, em 30 de janeiro deste ano. A vítima foi atingida por um raio, na noite desta quinta-feira (30), no Centro, e não resistiu. O corpo dele foi resgatado pelos bombeiros e encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) da cidade. 
A morte de Françoise aconteceu exatamente dois meses depois de sua família ter recebido com alívio a notícia de que seu irmão havia sobrevivido ao acidente com o ônibus do time, que caiu de uma ponte na BR-116, em Além Paraíba, na divisa entre Minas Gerais e o Rio. Na ocasião, quatro jogadores adolescentes e um integrante da comissão técnica morreram. Segundo a mãe, Damiana Januário, o atleta ficou muito abalado com a perda do jovem, que era o mais velho de sete filhos.
"Dia 30 (de janeiro) o Ruan viveu e dia 30 (de março) o Françoise morreu. Foi um baque, não vai dar para esquecer. Até agora, eu não falei com ele (Ruan), ele está trancado no quarto, dormiu na casa da avó dele e voltou, mas a gente ainda não conseguiu conversar. Ele já sabe, mas não fala com ninguém, está muito abatido", relatou Damiana.
A mulher contou que falou com o Françoise pela última vez por volta das 13h de ontem, quando o filho a contou animado que teria sua carteira de trabalho assinada. A mãe disse ainda que teve uma sensação estranha, mas que só soube da morte por volta das 20h, quando amiga do pai dele a ligou para contar que um acidente havia acontecido com o rapaz. Ele era funcionário da Águas do Rio e voltava para casa após o expediente, quando foi atingido pelo raio, na Avenida Doutor Manoel Teles. 
"Eu não esperava. Falei com meu filho cedo, ele estava feliz, disse: 'mãe, vão assinar a minha carteira segunda-feira, separa os documentos para mim?'. Uma hora da tarde foi a última hora que eu falei com ele. Eu senti algo estranho, mas fiquei em casa. Houve esse ocorrido, sem eu esperar", lamentou a mãe, que contou que o jovem fazia planos de deixar a violência da comunidade de Santa Teresa, onde morava, e se mudar para Vilar dos Teles, com a namorada. 
"Meu filho queria muito mudar de vida. Cada um tem um sonho e esses dias ele estava falando: 'mãe, quero comprar um apartamento'. Ele tem uma namorada e eles iriam se mudar, para sair da comunidade onde a gente mora, em Santa Teresa, e iam para o Vilar dos Teles, para poder ir para um lugar melhor, sair de um ambiente pesado. Eu vi o sonho do meu filho sendo perdido, ele ficou tão feliz ontem, porque iriam assinar a carteira dele. Era um sonho, às vezes é pouquinha coisa, mas a pessoa está feliz com aquilo. Nenhum dinheiro, nada que fizerem vai fazer com que ele volte. Eu perdi o meu primogênito", desabafou. 
A tia de Françoise, Cristiane Carvalho, que esteve no IML na manhã de hoje, descreveu a morte do sobrinho como uma tragédia. "É uma tragédia que a gente vê acontecendo todos os dias, mas a gente nunca espera que vá acontecer com a gente. Infelizmente, aconteceu essa tragédia, que não estávamos esperando. Inclusive, eu estava na minha casa pedindo muito a Deus que guardasse todo mundo que estava na rua e, de repente, veio a notícia de que o meu (sobrinho) tinha sido vítima dessa fatalidade. Para mim foi uma fatalidade, uma tragédia e muito triste". 
O temporal desta quinta-feira também provocou a morte de outro homem. Alessandro Paula, de 43 anos,  se afogou, depois de ter sido arrastado por uma enxurrada, na Travessa Tupinambá, nº 91, no bairro Parque Lafaiete, para um valão. Ainda não há informações sobre os horários e locais dos sepultamentos das vítimas. Procurada, a Águas do Rio informou que "se solidariza e está acompanhando junto a empresa LPH, responsável pela contratação de Françoise Edgar Felipe Carvalho, todos os trâmites para suporte à família". 
"O meu filho tinha boca e não falava, eu não tenho o que falar. O meu filho me ajudava, eu tenho sete filhos contando com ele. 'Mãe, está precisando de que? Mãe manda o pix', era uma pessoa que, não só me ajudava, não me dava dor de cabeça, ele não fazia nada para me preocupar. Ele tinha os dias dele de dar uma saidinha, sim, mas não tinha aquela dor de cabeça de muitas mães, que não podem dormir porque o filho está nas drogas, ou fazendo uma coisa que deixa a mãe se perturbando. Eu não tinha esse problema", declarou Damiana sobre a vítima.