Sandra Mathias foi flagrada agredindo entregadores em São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro Divulgação/ Redes sociais

Rio - O Ministério da Igualdade Racial enviou ofícios para cinco órgãos do Rio de Janeiro pedindo mais informações sobre o caso de racismo envolvendo Sandra Mathias, moradora de São Conrado, na Zona Sul, e o entregador de aplicativos Max Ângelo. Os documentos foram protocolados na terça-feira passada (11). Sandra é investigada pelos crimes de lesão corporal e injúria por preconceito e ainda não compareceu à 15ª DP (Gávea) para prestar depoimento.

Por meio da Diretoria de Combate e Superação do Racismo, foram enviados questionamentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro, Coordenadoria Executiva Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Subsecretaria de Promoção, Defesa e Garantia dos Direitos Humanos, do governo do estado, Presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

Para a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, é fundamental que os diversos órgãos envolvidos na apuração do caso atuem de forma conjunta: "O Ministério da Igualdade Racial está à disposição de todos os órgãos envolvidos e queremos contribuir e entender como cada um, dentro de suas atribuições e competências pode ajudar na apuração do caso de maneira célere e séria".

Durante sessão da Comissão de Direitos Humanos no Senado, nesta quarta-feira (12), a ministra relembrou a agressão sofrida por Max. "Se trata de uma senhora, uma ex-jogadora de vôlei, muito bem estudada, com condição financeira agrediu um entregador e não era a primeira vez que ela foi notificada por isso. Foi um ato gravíssimo e esse PL traz um reforço para que as pessoas entendam que qualquer tipo de racismo é crime", disse a ministra, reforçando a importância da equiparação da injúria racial ao crime de racismo.

Após o recebimento das informações solicitadas, o Ministério afirmou que vai acompanhar o caso de perto para garantir que tenha o andamento devido e que as responsabilidades sejam apuradas e a lei devidamente aplicada.
Atesado médico
A defesa da nutricionista e ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias apresentou na quarta-feira (12) um atestado médico para justificar a ausência da mulher. Até o momento não foi marcada uma nova data para ela ir à distrital, responsável pelas investigações. 
De acordo com o advogado Roberto Duarte Butter, Sandra não pôde ir depor porque está com lesões. Entretanto, ele não deu detalhes sobre os machucados da ex-jogadora e como teriam acontecido, já que nos vídeos em que foi flagrada atacando os entregadores Max Ângelo dos Santos e Viviane Maria de Souza, nenhum dos trabalhadores revida às agressões. Ele se limitou a dizer apenas que "vocês vão se surpreender depois".
Relembre o caso
Segundo Max, que também esteve na 15ª DP nesta quarta-feira, o crime aconteceu depois que Sandra teria se revoltado com a presença de entregadores sentados na porta de uma loja, na Estrada da Gávea, próximo ao número 847. Ela passeava com o cachorro e, ao se deparar com o grupo, cuspiu no chão, na frente dele, e seguiu andando com animal. Ao voltar, Viviane questionou o motivo da raiva da ex-jogadora, que se alterou e passou a ofender e agredir os trabalhadores.
As agressões começaram contra Viviane. Em imagens que circulam nas redes sociais, a nutricionista aparece discutindo com a entregadora e depois morde sua perna, enquanto ela se pendura em uma grade. A vítima consegue escapar, mas é perseguida pela ex-jogadora por alguns metros. Max relata que para evitar que as duas se machucassem, interferiu nas agressões, momento em que passou a ser alvo dos ataques da ex-jogadora.
Em outras imagens, é possível ver a mulher puxando e agredindo o entregador, que é negro. Ela dá um soco nele, o agarra pela roupa e, em seguida, ele se esquiva e se afasta. Sandra então, diz: "Tu (sic) não vai embora não, filha da p...". O vídeo continua e mostra a suspeita tirar a guia de um cachorro. Ela pega o objeto e parte para cima da vítima, que fala: "Teu caô não é comigo não. Tu vai me agredir? Vai me agredir?". A nutricionista retruca: "Não é contigo, não?" e, logo na sequência, atinge o homem com a coleira.
Além de Max e Butter, o advogado do Edifício Estrada da Gávea, onde Sandra mora e que fica próximo ao local do crime, esteve na distrital ontem (12). Ele entregou imagens de câmeras de segurança que podem ter registrado o início da briga entre a ex-atleta e os entregadores, dias antes, quando ocorreu uma discussão com alguns dos trabalhadores. A administração do local pediu que a nutricionista deixe o apartamento onde mora, que é alugado. "O condomínio notificou a administradora da qual administra o apartamento (e pede) providências no sentido de tirá-la do edifício", afirmou o advogado.
Sandra é dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon, Zona Sul. Nesta terça-feira (11), a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel) informou que suspendeu a renovação do alvará de funcionamento do estabelecimento. A licença venceu em dezembro de 2022 e estava em processo de renovação. Entretanto, diante do caso, a pasta destacou que não concederá até que todos os fatos sejam esclarecidos pela Justiça.
A secretária municipal de Meio Ambiente, Tainá de Paula, usou as redes sociais para comentar o caso. Ela destacou que Sandra já tinha outras anotações criminais, uma delas por ligação irregular de energia, na Praia do Leblon, e prestou solidariedade aos entregadores atacados. "É inadmissível que essa mulher siga livremente cometendo esse tipo de crime. Que seja responsabilizada urgentemente. Racistas não passarão!", escreveu a titular da pasta.