Sandra Mathias Corrêa de Sá presta depoimento nesta segundaMarcos Porto/Agência O DIA

Rio - A nutricionista e ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Corrêa de Sá compareceu à 15ª DP (Gávea) para prestar depoimento, na tarde desta segunda-feira (17), sobre as agressões e ofensas racistas cometidas contra entregadores em São Conrado, na Zona Sul do Rio. Na última quarta (12), ela não compareceu à distrital e a defesa apresentou um atestado médico para justificar a ausência. A ex-atleta é investigada pelos crimes de lesão corporal e injúria por preconceito. Também nesta segunda, testemunha de acusação prestou depoimento.

O caso ocorreu no último dia 9 e foi registrado em vídeos que circularam nas redes sociais.
Nas imagens divulgadas do dia do crime, é possível ver a mulher puxando e agredindo o entregador Max Angelo dos Santos, que é negro e aparece vestido com uma camisa vermelha. A mulher dá um soco em Max e o agarra pela roupa. Em seguida, ele se esquiva e se afasta. A mulher, então, diz: "Tu (sic) não vai embora não, filha da p...".

A imagem continua e mostra Sandra tirando a guia de um cachorro. Ela pega o objeto e parte para cima do entregador, que fala: "Teu caô não é comigo não. Tu vai me agredir? Vai me agredir?". A moradora de São Conrado retruca: "Não é contigo, não?" e, logo na sequência, atinge o homem com a coleira.

O entregador foge de um dos ataques e diz: "Tira a mão de mim mulher". Um grupo de pessoas que estava no entorno grita para ele se afastar dela: "Sai de perto dela. É isso que ela quer".
Segundo Max, que esteve na delegacia na quarta (12), o crime aconteceu depois que Sandra teria se revoltado com a presença de entregadores sentados na porta de uma loja, na Estrada da Gávea, próximo ao número 847. Ela passeava com o cachorro e, ao se deparar com o grupo, cuspiu no chão, na frente dele, e seguiu andando com animal. Ao voltar, a entregadora Viviane Maria de Souza questionou o motivo da raiva da ex-jogadora, que se alterou e passou a ofender e agredir os trabalhadores.
Ainda segundo a vítima, as agressões começaram contra Viviane. Nas filmagens, ela também aparece discutindo com a entregadora e depois mordendo sua perna, enquanto ela se pendura em uma grade. Viviane consegue escapar, mas é perseguida pela ex-jogadora por alguns metros. Por isso, Max relata que interferiu nas agressões, momento em que passou a ser alvo dos ataques da ex-jogadora.
Órgãos repudiam agressões
A secretária municipal de Meio Ambiente, Tainá de Paula, usou as redes sociais para comentar o caso. Ela destacou que Sandra já tinha outras anotações criminais, uma delas por ligação irregular de energia, na Praia do Leblon, e prestou solidariedade aos entregadores atacados. "É inadmissível que essa mulher siga livremente cometendo esse tipo de crime. Que seja responsabilizada urgentemente. Racistas não passarão!", escreveu a titular da pasta.
Sandra é dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon, Zona Sul. A licença venceu em dezembro de 2022 e estava em processo de renovação. Entretanto, diante do caso, a Secretaria Municipal de Esportes (Smel) suspendeu a renovação do alvará de funcionamento.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) negou que Sandra tenha atuado em qualquer cargo na entidade e ressaltou que a ex-atleta nunca fez parte do seu quadro de colaboradores. A informação desmente descrição usada por ela em suas redes sociais, onde menciona ter feito parte da equipe do comitê no ano passado, atuando como supervisora de produção. "Jamais atuou na entidade", diz nota do comitê.
O Conselho Regional de Nutrição do Rio de Janeiro também emitiu uma nota de repúdio à conduta da mulher. O órgão afirmou que "repudia qualquer forma de preconceito, discriminação e violação aos direitos humanos" e que vai abrir um processo administrativo contra Sandra. "O Nutricionista como profissional de saúde é norteado por um Código de Ética e Conduta e deve assumir compromisso e responsabilidade técnica, social, ética e política na defesa do direito à saúde e demais direitos constitucionais", diz a entidade.