Rio – O adolescente Marcos Vinícius Rodrigues, de 15 anos, foi sepultado, nesta quarta-feira (26), no Cemitério Jardim da Saudade, no Jardim Sulacap, Zona Oeste. O jovem morreu na última segunda (24), ao cair de um ônibus articulado do BRT que circulava com a porta aberta, em Santa Cruz, também na Zona Oeste. O acidente aconteceu no corredor Transoeste, próximo à estação Santa Veridiana, na Estrada da Pedra. Marcos Vinícius não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
A cerimônia de enterro contou com a presença de amigos e familiares do menino que sonhava em ser jogador de futebol. Vizinhos de Vinícius uniram forças e protestaram junto à Mobi-Rio, empresa que administra o serviço de BRT, um ônibus para o transporte das pessoas que gostariam de se despedir.
A mãe do menino passou mal na recepção do cemitério e teve que ser levada para o hospital, onde ficou internada. Segundo Alex Rogério Ramos Amorim, sobrinho da mulher e primo da vítima, ela não o reconheceu enquanto ele a levava para a unidade de saúde e não sabia o que estava fazendo na necrópole.
"Isso é o desespero que a irresponsabilidade de alguns do sistema público de transporte do Rio de Janeiro causou para uma família. A ganância, a vontade de querer ter mais, de não querer proporcionar algo melhor para o povo", disse Alex.
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Sobre o ocorrido com Marcos Vinicius, Alex comentou sobre o perigo no Rio de Janeiro: "O Rio de Janeiro é uma cidade que está tentando o tempo todo te matar. A minha família vivenciou isso na segunda-feira (24)".
O primo da vítima lembrou que Vinicius sempre foi cuidado e amparado pela família. "Eu falava com ele: 'Vinicius, toma cuidado. Você é preto, morador da Zona Oeste, usando o BRT na cidade do Rio de Janeiro' Isso já era o suficiente. Eu nunca imaginei um acidente. Eu imaginava um linchamento, uma briga, alguém dizendo que ele estava roubando, porque é isso que acontece no Rio de Janeiro e a gente sabe. Eu sempre doutrinei ele, sempre cuidei muito para que ele tivesse esse entendimento da responsabilidade do cuidado com ele e com as irmãs e não cometesse esse tipo de coisa, e ele não cometeu esse tipo de coisa. Era uma criança voltando da escola, ele tinha que fazer apenas uma prova, para ver o grau de responsabilidade que ele tem. Meu primo morreu por uma responsabilidade que ele teve de ir para a escola fazer uma prova e preocupado de no dia seguinte levar a mãe dele para o hospital. É isso que dói", lamentou.
A família está providenciando as imagens do acidente para entrar com um processo e conseguir um pouco de alento, de acordo com Alex.
Kátia Cristina, tia do Vinicius, recordou que "ele era uma criança, ele só era grande e tinha 15 anos, mas ele aprendeu a ter responsabilidade desde cedo. Ele cuidava das irmãs, da mãe, fazia comida, arrumava a casa. Ele era muito amoroso, carinhoso, alegre, maravilhoso, muito bom de coração, um bom filho e um bom sobrinho. Ele vai deixar muita saudade. Tudo isso parece um pesadelo".
No dia do acidente, o jovem estava prestes a descer do articulado quando sofreu a queda. "O Marcos estava voltando depois de ter feito uma prova. Ele morava em conjunto habitacional e estudava no centro de Santa Cruz. Ontem, por acaso, a mãe havia dado até o dinheiro para ele pegar a van. Mas (ele) optou pelo BRT. Ele estava a poucos metros de descer na estação quando (o incidente) aconteceu", lamentou o primo da vítima.
De acordo com relatos de testemunhas, o articulado estava cheio e Marcos ficou pendurado na porta. Pouco antes da estação Santa Veridiana, ele acabou batendo com a cabeça em um poste e caiu no chão já sem vida. O Corpo de Bombeiros foi acionado para o local e a pista ficou parcialmente interditada para perícia. O caso está sendo investigado pela 36ª DP (Santa Cruz).
"Ele era um garoto muito tranquilo. Apesar das dificuldades do local, de tudo que permeia, ele estudava e havia começado a frequentar uma igreja com a mãe recentemente", disse Alex.
Lidando com o luto, os familiares também têm se incomodado com comentários feitos em redes sociais, que culpam o garoto pelo acidente.
"O mais complicado dessa situação toda é o fato de, nas páginas de internet, começarem a criar a ideia de que ele era um garoto de rua, largado. Ele morreu com a camisa da escola, voltando da escola, sempre foi aliado da mãe. Deixou a mãe e duas irmãs", afirmou o primo.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o quartel de Sepetiba foi acionado às 14h48 para um atropelamento na região, mas chegando ao local, encontraram o adolescente já sem vida. Por conta do acidente, uma faixa da Estrada da Pedra, na altura do BRT Curral Falso, no sentido Recreio dos Bandeirantes, chegou a ficar ocupada, e só foi totalmente liberada por volta das 17h30, segundo o Centro de Operações Rio (COR). Em nota, a Mobi-Rio lamentou a morte do rapaz e informou que "está apurando todos os fatos" e que "prestará toda a assistência necessária para a família".
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