O condomínio Minha Casa Minha Vida de Inoã sofre com intensos confrontos devido a disputa de territórioGoogle Street View

Rio - O condomínio Alberto Soares de Freitas, o Minha Casa Minha Vida de Inoã, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, onde o menino de 11 anos morreu após ser baleado a caminho da escola nesta quarta-feira (12) é disputado por milicianos e traficantes da região. Após a tragédia, o pai da vítima, José Roberto Santos de Souza, chegou a definir o lugar como um "inferno" devido aos constantes confrontos na localidade.
"Eu estava em casa, quando ouvi os pipocos, eu nem tomei banho, escovei dente, nem nada, fui correndo, foi quando me avisaram: 'seu filho está morto'. É covardia, agora ninguém vai salvar a vida dele, aquele lugar é um inferno, sempre acontece essa merd*, eu estou muito mal, não estou aguentando mais", disse o pai muito emocionado.


O espaço, que conta com 1.460 apartamentos, foi inaugurado entre 2013 e 2015. Segundo as investigações, a narcomilícia que tenta comandar a região é responsável por tráfico de drogas, furto de energia elétrica, sinal de TV, comércio de gás em botijão e por impedir as empresas concessionárias de serviço público de acessarem as regiões. O grupo também costuma realizar diversos roubos nas imediações, especialmente na Rodovia RJ-106, que corta a cidade.

No ano passado, agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói prenderam o chefe do tráfico do município, responsável pela venda de drogas no Complexo de Inoã. Thiago da Silva Santos, conhecido como Lafado, ou 300, foi preso em um restaurante de luxo em Icaraí, na Zona Sul de Niterói.

Em relação a morte da criança, a Polícia Militar alega que houve um confronto com criminosos no momento em que ela foi baleada, e que a viatura da corporação chegou a ser atingida pelos disparos. Já a família, culpa os policiais de entrarem atirando no condomínio. A vítima tinha Transtorno do Espectro Autista (TEA) e estava de uniforme escolar ao lado da mãe no momento do tiroteio.
O menino é a sexta criança assassinada por bala perdida no estado do Rio neste ano, segundo o levantamento do Instituto Fogo Cruzado. 
Autoridades dizem não normalizar violência

O prefeito de Maricá, Fabiano Horta, após a tragédia diz não normalizar a violência e cobrou rigor nas investigações por parte das autoridades policiais.

"Passei a manhã reunido com a equipe de governo para determinar um pacote de medidas para garantir a paz e segurança da nossa população. Neste momento de dor e indignação, a gestão municipal reforça seu propósito de não permitir que a violência seja naturalizada em nossa cidade. Nosso objetivo é cobrar uma política de inteligência e de gestão estratégica de segurança pública para que seja implementada com eficiência em Maricá a curto prazo", disse.

O ex-prefeito e deputado federal Washington Quaquá já havia se pronunciado no último domingo (9) sobre a milícia na cidade. "Não vamos permitir domínio armado do território em Maricá. Aqui não manda milícia e nem tráfico. Quem vai dominar Maricá é a cultura! A educação! O empreendedorismo! A cidadania! O povo! Vamos todos nos unir em defesa da paz e da família e da juventude", disse.

Já após a morte da criança, o político reforçou a ideia e garantiu segurança à população. "Paz e a pacificação será feita em Maricá. Não vamos tolerar o império do domínio armado de nenhum território por ninguém. O monopólio do uso da força é exclusivo do estado democrático de direito. Com respeito às leis e à vida, sobretudo às crianças. Não permitiremos o império da bandidagem", enfatizou.