Marquinho Catiri foi morto ao sair de uma casa na comunidade da Guarda, em Del Castilho, onde havia instalado uma academiaReprodução

Rio - Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) realizaram uma operação, nesta terça-feira (18), em Del Castilho, na Zona Norte do Rio, para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra envolvidos na morte do miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, que ocorreu em novembro do ano passado, e de seu comparsa, Alexsandro José da Silva, o Sandrinho. Um policial militar foi preso em flagrante. 
Os policiais da especializada realizaram buscas pelo bairro para prender o PM Rafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem Alma, lotado no 15º BPM (Duque de Caxias). Apesar das buscas, o agente não foi encontrado.
Rafael é um dos três acusados de envolvimento na morte de Marquinho Catiri que já foram identificados. Em março, José Ricardo Gomes Simões foi preso na orla da praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, a partir da troca de informações com a Polícia Rodoviária Federal. No interior de seu veículo foram localizadas duas armas de fogo, sendo uma pistola e um revólver, além de oito celulares e uma carteira de identificação de um policial militar. Já em dezembro do ano passado, George Garcia de Souza Alcovias foi preso no município de Francisco Morato, em São Paulo. Contra os dois foram cumpridos mandados de prisão preventiva.
Durante a operação desta terça-feira (18), um policial militar foi preso em um cumprimento de mandado de busca e apreensão. O agente estava com munições e carregadores de uso restrito. Rádios comunicadores e dois carros também foram apreendidos.
As diligências seguem em andamento para encontrar o PM Rafael Dutra. Questionada sobre o assunto, a Polícia Militar informou que a Corregedoria-Geral da corporação colabora com todos os trâmites investigativos.
Acusados estão envolvidos em outros homicídios
As investigações da DHC indicaram que os acusados pelos homicídios de Marquinho Catiri e de Sandrinho fazem parte de uma quadrilha voltada para comercialização de cigarros, exploração de jogos de azar, sequestros, desaparecimentos na Baixada Fluminense e assassinatos.
Segundo a Polícia Civil, os três homens já identificados também estariam envolvidos na morte do policial civil João Joel de Araújo, em 11 de maio de 2022, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. O corpo do agente, que era lotado na 12ª DP (Copacabana), foi encontrado ao lado do veículo em que estava. O carro foi atingido por, ao menos, cinco tiros.
O trio também teria participado do assassinato do policial penal Bruno Kilier da Conceição Fernandes, de 35 anos, que aconteceu no dia 8 de junho deste ano, no Recreio dos Bandeirantes, também na Zona Oeste. A vítima ficou por 10 anos na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e já ocupou o cargo de subdiretor de um dos presídios do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Ele estava em processo de integração na na Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj).
Quem era o miliciano
Marquinho Catiri era líder de um grupo paramilitar que age nas Zonas Norte e Oeste do Rio. A milícia comandada por ele atua em Padre Miguel, Del Castilho, Engenho de Dentro e nas comunidades Águia de Ouro, Guarda, Fernão Cardim, Belém-Belém, e outras vizinhas.
A favela do Catiri, em Bangu, é reduto principal do grupo. Ainda segundo as investigações, Catiri era braço direito do contraventor Bernardo Bello. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) realizou uma operação para prender o bicheiro em março deste ano, mas não o encontrou.
Em novembro do ano passado, a Polícia Federal obteve um áudio enviado por Catiri ao contraventor. Na gravação, os dois aparentavam uma forte ligação. Nas mensagens, Marquinho afirmava que estava gerindo e mantendo todo o negócio enquanto Bernardo estava afastado. Além disso, agradecia a confiança por "colocá-lo em seu negócio".
"Eu e minha família, pouco tempo que nos conhecemos, gostamos muito de você e da sua família. Você mostrou ser uma pessoa muito leal, verdadeiro, para a gente. A gente firmou uma amizade. Também agradeço pela confiança que você teve em mim, de me botar dentro da sua casa, da sua família, dentro do seu negócio", disse.
O miliciano também passava o panorama de como está a situação da organização criminosa, a qual se referiam como "empresa". Ele também contava que intensificou a segurança pessoal porque inimigos estariam oferecendo milhões de reais para quem conseguisse matá-lo.
O áudio enviado por Marquinho Catiri também revelou um suposto esquema de corrupção envolvendo policiais civis e os contraventores. O miliciano afirmou que fazia pagamentos e reuniões com agentes de segurança pública.
Relembre a morte
Marquinho foi assassinado no dia 19 de novembro de 2022 enquanto saía de uma casa na comunidade da Guarda, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Segundo a DHC, seis homens alugaram um imóvel próximo onde o alvo estava, realizaram uma emboscada e atiraram contra ele. O comparsa Sandrinho também foi morto a tiros.
O miliciano foi socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.  Na época, policiais estiveram no local do crime e apuraram que a execução ocorreu no momento em que a Catiri estava saindo ou entrando em uma academia de musculação, da qual era o dono e teria sido montada no local para o seu uso exclusivo.
Lá, os agentes identificaram o imóvel, localizado na Rua Pedro Borges, com ampla visão para onde os milicianos se encontravam, que foi utilizado pelos autores do crime como base para o ataque. Além disso, eles realizavam vigilância sobre a vítima principal utilizando um drone para mapear a comunidade.

No interior da casa, a perícia recolheu 58 estojos de fuzil deflagrados, sendo 21 estojos de calibre 762 x 51 e 37 estojos de calibre 762 x 39 em. Durante o ataque os autores, além de fuzis, também utilizaram granadas, sendo uma delas apreendida e detonada pelo esquadrão antibombas da Polícia Civil.