Bernardo Bello: alvo principal do MPReprodução
Áudio aponta aliança entre bicheiro Bernardo Bello e miliciano Marquinho Catiri
Marquinho, morto na semana passada, falou sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo agentes de segurança pública
Rio - Um denúncia feita pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) aponta uma aliança entre o bicheiro Bernardo Bello e o miliciano Marquinho Catiri, alvos da Operação Fim da Linha, deflagrada nesta terça-feira (29). Durante a investigação, a Polícia Federal obteve um áudio enviado por Catiri ao bicheiro. Nele, os dois aparentam uma forte ligação.
Bernardo ficou preso na Colômbia entre janeiro e maio deste ano por causa do assassinato do contraventor Alcebíades Paes Garcia, conhecido com Bid Garcia. No material obtido pela PF, Marquinho afirma que está gerindo e mantendo todo o negócio enquanto Bernardo está afastado. Além disso, agradece a confiança por "colocá-lo em seu negócio".
"Eu e minha família, pouco tempo que nos conhecemos, gostamos muito de você e da sua família. Você mostrou ser uma pessoa muito leal, verdadeiro, para a gente. A gente firmou uma amizade. Também agradeço pela confiança que você teve em mim, de me botar dentro da sua casa, da sua família, dentro do seu negócio", diz.
O miliciano passa o panorama de como está a situação da organização criminosa, a qual se refere como "empresa". Ele também conta que intensificou a segurança pessoal porque inimigos estariam oferecendo milhões de reais para quem conseguisse matá-lo. No último dia 19, Marquinho foi assassinado em uma emboscada ao deixar uma casa na comunidade da Guarda, em Del Castilho, Zona Norte do Rio.
"A minha cabeça já está valendo quatro milhões, entendeu? Tive que reforçar minha segurança, Bernardo. Não tinha segurança à noite. Hoje eu botei cinco pessoas para ficar comigo à noite, dormindo na orla da praia. Estou pulando de casa em casa. Eles ficam um quilômetro de distância, mas ficam. São dois carros 24 horas. Você sabe o valor que eu pago para minha segurança e é à noite, é polícia. Então, estou tendo gastos absurdos", reclama.
O denunciado também ressalta que precisa "aparecer" para que a organização criminosa comandada por Bernardo continue funcionando.
"Igual eu ir na Marquês de Sapucaí, para a gente aparecer, né? Eles saberem: 'olha lá o pessoal do Bernardo está ali! Nada acabou! Ninguém está com medo! O pessoal está botando a cara'. Que você sabe, ali na Marquês de Sapucaí, que é aquela fofocada", comentou.
O Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) realiza, nesta terça-feira, uma operação contra a máfia do jogo do bicho. O principal objetivo é prender Bernardo Bello, apontado como um dos chefes da contravenção e ex-presidente da Unidos de Vila Isabel.
O MPRJ também espera cumprir outros 25 mandados de prisão e 57 de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Especializada em Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Os integrantes foram denunciados pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro obtido com a exploração de jogos de azar.
Corrupção
O áudio enviado por Marquinho Catiri também revelou um suposto esquema de corrupção envolvendo policiais civis e os contraventores. O miliciano afirma que tem feito pagamentos e reuniões com agentes de segurança pública.
"Estou caminhando com as minhas pernas, amigo. Tendo que auto me posicionar. Estar falando com as delegacias, as especializadas. São pessoas muito ligadas, que eu já estou pagando, agradando, das delegacias... igual sempre fiz antigamente, que estão me dando informações corretas e certas do que eles estão fazendo (...). São reuniões em cima de reuniões e, depois que acaba, eu tenho que pensar o que é certo, o que é errado. São reuniões com policiais, com pessoas ligadas a eles, com muita gente", revela.
"Tanto, amigo, que o meu processo de lavagem de dinheiro caiu. Tanto, amigo, que eu sou réu primário até hoje, com 44 anos de idade. Eu tenho a sabedoria dentro do judiciário. Eu sei andar. Eu sei fazer colocações, seja ele para o juiz, desembargador, promotor de justiça, para o melhor advogado. Eu consigo falar de igual para igual com eles", conclui.
A Corregedoria-Geral da Polícia Civil (CGPOL) informou que instaurou um procedimento e solicitará ao Ministério Público o compartilhamento das investigações referentes aos fatos ilícitos noticiados, que se referem em tese a policiais civis.
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