Priscila Menezes, mãe do adolescente morto, recebe auxílio do ouvidor geral da Defensoria Pública Pedro Ivo

Rio - A Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPERJ) solicitou imagens de câmeras de segurança à Corregedoria da Polícia Militar sobre a ação que resultou na morte de um adolescente, de 13 anos, na noite de domingo (6) na Cidade de Deus, Zona Oeste. O órgão ainda pediu a cópia do inquérito policial da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Representantes da ouvidoria externa da Defensoria acompanham os familiares do menino, que foram atendidos na tarde desta segunda-feira (7) por defensores do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh). O ouvidor geral da DPERJ, Guilherme Pimentel, explicou que, durante esta madrugada, o órgão, recebeu diversas denúncias da Cidade de Deus sobre a ação que matou o jovem.
"Agora, tivemos um adolescente alvejado. É muito preocupante. Recebemos denúncias de moradores da Cidade de Deus desde as primeiras horas da madrugada. Estamos em contato com a família dele. Não podemos naturalizar a morte de crianças e adolescentes", disse o Pimentel.
A DPERJ ressaltou que lamenta a morte do menino e reforçou que tem um compromisso com a defesa da vida e o combate a toda forma de violação de direitos, destacando a necessidade da implementação de um amplo Plano de Redução da Letalidade Policial, como já determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e colocando-se à disposição na garantia do acesso à Justiça.
O adolescente morreu depois de ser baleado, na noite deste domingo (6), durante uma ação do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) na Cidade de Deus. Segundo a Polícia Militar, uma equipe estava na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com a Rua Geremias, quando dois homens em uma moto atiraram contra os militares. Em meio aos tiros, o jovem, de 13 anos, morreu no local e a área foi isolada para que a Polícia Civil realizasse a perícia. A corporação afirmou que uma pistola foi apreendida na ação.
Familiares acusam os policiais de terem atirado no adolescente enquanto ele ainda estava caído e vivo. De acordo com o pintor Hamilton Menezes, tio da vítima, a família teve acesso a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um policial do BPChq atira contra o jovem. "Ele estava passeando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para vê-lo no chão ainda vivo e o policial vai lá e acaba de executar", disse.
De acordo com a PM, os policiais que participaram da ação não usavam câmeras acopladas em seus uniformes. A corregedoria da corporação abriu um procedimento interno para apurar o caso. As armas dos agentes foram apreendidas e a DHC realiza diligências para esclarecer o caso.
Morte na saída de baile funk
Outro caso que vem sendo acompanhado pela Defensoria é o de Guilherme Lucas Martins Matias, de 26 anos, morto em uma abordagem policial na saída de um baile funk na manhã deste domingo (6), no Morro do Santa Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio.
O homem foi baleado enquanto estava dentro de um carro com amigos. Em depoimento à 5ª DP (Centro), que investiga o caso, os policiais envolvidos afirmaram que um Renault Clio de cor azul, que estava na Rua Santo Amaro, entrou na Rua do Fialho na contramão. Um dos policiais, então, foi para o meio da pista, em frente ao veículo, fazendo sinal para que parasse, o que não teria acontecido.
Ainda segundo o depoimento dos PMs, Guilherme Coutinho Martins da Silva, motorista do veículo, acelerou contra o agente, que conseguiu sair da frente do carro. O PM que atirou disse que percebeu que o passageiro do banco do carona estava com uma pistola prateada apontada em sua direção e que por isso efetuou sete disparos contra o veículo.
De acordo com o motorista, eles entraram na contramão da Rua do Fialho e, no momento em que subiam a via, viram um PM, que atirou sem realizar uma abordagem. Assustado com os tiros, o motorista acelerou. Guilherme Lucas foi levado pelo amigo ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, mas ele não resistiu. Além dele, o fiscal Matheus Coutinho Martins da Silva e o ator Paulo Rhodney do Nascimento de Jesus foram atingidos no quadril e joelho, respectivamente, e receberam alta da mesma unidade ainda no domingo. O motoboy e o primo dele, Jean Lucas Rodrigues, que também estava no veículo, não se feriram. 
Guilherme Lucas morava com filho, a mãe, o irmão mais velho, as duas sobrinhas e a cunhada, no Morro da Coroa, em Santa Teresa, no Centro. Atualmente, ele havia deixado o trabalho como frentista e, há cinco dias, estava cobrindo as férias do primo como zelador, na Tijuca, Zona Norte. Segundo o primo Samuel Martins Soares, ele cuidava do menino sozinho, desde a separação, e queria ser um pai presente, porque não teve um durante sua criação. O familiar contou ainda que a criança voltava da igreja com a mãe, quando a vítima foi baleada e que ainda não sabe sobre a morte.
Familiares de Guilherme estiveram, na manhã desta segunda-feira (7), no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto para liberação de seu corpo. Seu sepultamento será realizado nesta tarde no Cemitério do Catumbi, na Zona Norte do Rio.