Carolina Kethelim, de 22 anos, morreu após ser atingida por um avião ultraleve no Aeroclube de Nova IguaçuReprodução/Redes sociais
Polícia aponta imprudência de piloto de ultraleve que matou jovem em aeroclube
De acordo com o delegado que investiga o caso, velocidade e a direção do vento podem ter contribuído para que o homem perdesse o controle e atingisse Caroline Ribeiro, de 22 anos
Rio - Dados levantados pelos investigadores da 58ª DP (Posse) sobre o acidente com um ultraleve que matou a jovem Caroline Kethlin de Almeira Ribeiro, de 22 anos, no aeroclube de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, apontam que o piloto teve imprudência ao conduzir o veículo em uma pista onde tinha pessoas andando.
Ao DIA, o delegado José Mário Salomão de Omena explicou, nesta quinta-feira (14), que a velocidade e a direção do vento podem ter contribuído com que o piloto perdesse o eixo do ultraleve e guinasse para a direita da pista, em direção à vítima. Os investigadores apuram o que aconteceu para que o veículo ficasse desgovernado.
"Eu estive analisando a direção do vento no dia do evento. Também comparei com a direção que o avião seguia e as dimensões do avião. Estive no local e a pista tem 30 metros de largura e pelo menos 1,2 km de extensão livre. O avião tem 10 metros de envergadura. Se ele estivesse no centro da pista, um desvio qualquer teria espaço suficiente para evitar qualquer tipo de colisão. Se ele estivesse usando a metade da pista, que é o que acabou acontecendo, no caso de qualquer desvio, dependendo da distância, se torna inevitável a colisão", disse.
Omena contou que quando um avião está no chão ele é direcionado pelas rodas, mas quando perde o atrito com o solo acaba sendo influenciado na sustentação. No caso do ultraleve, o piloto estava apenas testando a pista e não planejava decolar. Com o aumento de velocidade, o homem perdeu a direção.
"O que eu imagino que aconteceu: ele acelerou, o avião foi transferindo o peso para as asas e o vento começou a agir. Em determinado ponto crítico, a aeronave estava pouco apoiada nas rodas e sustentada pelas asas. Ele tinha um vento lateral. Ela tende a proar o vento. Na medida que a aeronave perdeu peso e a deriva vertical agiu e conseguiu vencer a trajetória imposta pelas rodas, ele deu uma guinada à direita. Quando o avião deu essa guinada, ele deve ter se apavorado, tirou a aceleração e freou. O avião voltou a ser direcionado pelas rodas. O avião estava inclinado para a direita, foi mais para a direita e atropelou as pessoas", disse.
Para o delegado, o piloto foi imprudente porque praticou um ato afoito, pois ele não deveria testar o ultraleve quando tinha pessoas na pista. Omena deu um exemplo de um avião pronto para pousar e decolar de um aeroporto. Caso tenha algum obstáculo, o pouso ou a decolagem não é autorizado até a pista estar limpa.
"A gente pode apontar que ele foi imprudente em acelerar a aeronave quando tinha pessoas. Tinha que esperar limpar a pista para poder fazer aquilo. Ele tinha que esperar todo mundo sair. Se não tivesse ninguém, o máximo que iria acontecer era ele ter ido no mato e voltado. Nenhum acidente, principalmente na aviação, acontece por um único fator. Esse acidente, como qualquer outro da aviação, você vai ver vários elos se ligando. O primeiro: ali não é aeroporto; o segundo: existiam objetos na pista; terceiro: eu duvido que ele tenha visto a direção do vento; quarto: duvido que ele tenha visto a velocidade do vento; quinto: ele acelerou a aeronave para testar o motor mais do que ele conseguiria dominar ela no solo. Isso por poucos segundos, mas foi o suficiente para desencadear a cadeia de eventos que resultou no desvio de direção, colisão do montante da asa no corpo e ferimentos graves na vítima, resultando na morte", completou.
O piloto será o último a prestar depoimento na 58ª DP. Ainda falta o depoimento do pai de Caroline, que seria realizado nesta quarta-feira (13), mas foi remarcado após ele pedir alegando que sentia um mal estar.
Relembre o caso
Caroline Ribeiro era aluna da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, São Paulo, e estava passando o feriado da Independência com a família no Rio. No último sábado (9), ela estava andando pela pista do Aeroclube de Nova Iguaçu quando foi atingida pelo ultraleve.
A jovem foi socorrida e encaminhada ao Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI) em estado gravíssimo, sento internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Horas depois de a vítima dar entrada, a unidade abriu protocolo de morte encefálica e os médicos realizaram uma série de exames na paciente para avaliar seu estado clínico e neurológico, mas a paciente não respondeu.
No domingo (10), a direção da unidade confirmou a morte cerebral da jovem e a família autorizou a doação de órgãos. Foram captados os dois rins e o fígado, que foram doados para pacientes no estado do Rio. Durante a retirada dos órgãos, médicos e enfermeiros do hospital fizeram homenagem com salva de palmas em agradecimento pela doação.
Na segunda-feira (11), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que o Aeroclube não tinha autorização para funcionar, além de não ser certificado para oferta de cursos de formação de pilotos. O local não consta no cadastro de aeródromos privados da Agência e, por isso, não pode operar como aeródromo.
Caroline foi sepultada nesta terça-feira (12) no Cemitério Parque Jardim, em Mesquita, também na Baixada Fluminense. Durante a cerimônia, Abner Rangel Ribeiro, pai da vítima, disse que estava no momento da colisão e viu a aeronave em alta velocidade.
"Foi algo que aconteceu muito rápido, então não quero tomar nenhuma atitude precipitada de dizer que foi inabilidade do piloto, imprudência... Está registrado na Polícia Civil, eles estão investigando. Infelizmente, de onde a aeronave partiu foi muito rápido. Mesmo contra o vento, saiu com uma velocidade muito grande. Eu estava do outro lado da pista, mas acredito que tenha sido em menos de seis segundos", explicou.
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