Ultraleve que atingiu e matou jovem no Aeroclube de Nova Iguaçu passou por períciaReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - A Polícia Civil investiga se o avião ultraleve que atingiu e matou uma estudante no Aeroclube de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estava desgovernado. Após a perícia no local, na tarde desta segunda-feira (11), o delegado José Mário Omena, titular da 58ª DP (Posse), responsável pelas investigações, disse que o foco agora é entender como a aeronave perdeu o eixo da pista por mais de 10 metros, até atingir Caroline Kethlin de Almeida Ribeiro, de 22 anos. O piloto do ultraleve já foi identificado e vai prestar depoimento.
De acordo com o delegado, a pista tem largura de 30 metros e não possui faixa de segurança para a prática de voos no local. Nesta segunda-feira (11), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também confirmou que o Aeroclube não tinha autorização para funcionar e também não é certificado por eles para oferta de cursos de formação de pilotos. O local não consta no cadastro de aeródromos privados da Agência, portanto, não pode operar como aeródromo.
"Agora é preciso entender o que aconteceu para a aeronave perder o eixo da pista e viajar por mais de 10 metros até atingir as pessoas no canto da pista. Em 10 metros a aeronave pode estar completamente desgovernada, considerando uma pista de 30 metros. Para um boeing pode não ser nada, mas para um ultraleve é bastante coisa", disse Omena.
Durante o procedimento, os investigadores chegaram à conclusão que a aeronave, ao realizar um teste de rolagem, puxou para o lado direito e acabou atingido a vítima, que estava na lateral da pista. O ultraleve não iria fazer a decolagem, somente testar a pista. No sábado (9), conforme observado pelo delegado, a Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica apontava vento forte para a circulação de ultraleves.
O delegado também observou que a ausência de histórico de acidentes no local pode ter sido um fator importante para os moradores fazerem do aeroclube um local para a prática de esportes. "Não tem histórico daqui para outros acidentes, esse foi o fator das pessoas relaxarem", disse.
Uma mulher que mora há mais de 20 anos no aeroclube, e é caseira do local, disse que o espaço está interditado há cerca de três anos para voos, mas isso não impedia que pilotos usassem a pista para pousos e decolagens de ultraleves. A moradora diz ainda que quase foi atingida por um ultraleve durante uma caminhada na pista. "Um dia eu e minha filha saímos correndo porque um ultraleve quase nos atingiu. Aqui tem movimento direto, eles [pilotos] ficam fazendo treinos. O local está fechado, mas muita gente entra por trás", disse. Ainda segundo a caseira, quando a estudante foi atingida ela não estava no aeroclube.
Confronto entre laudos
A Polícia Civil vai confrontar os dois laudos realizados até o momento. Um laudo trata-se das lesões no corpo da vítima e o outro é o local de toque da aeronave, para ter uma conclusão lógica dos fatos. Além disso, os investigadores vão ouvir testemunhas que presenciaram a fatalidade para entender o que aconteceu. O caso, que foi inicialmente registrado como lesão corporal, pode ser alterado para homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Caroline estava praticando esportes na pista do Aeroclube quando foi atingida. Ela chegou a ser socorrida e encaminhada em estado gravíssimo ao Hospital Geral de Nova Iguaçu e foi internada no CTI da unidade. Horas depois de a vítima dar entrada, o hospital abriu protocolo de morte encefálica e os médicos realizaram uma série de exames na paciente para avaliar seu estado clínico e neurológico, mas a paciente não respondeu. O falecimento foi confirmado na tarde de domingo (10). Após a autorização da família, os dois rins e o fígado foram captados para doação.
A jovem era aluna da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, São Paulo. Segundo relatos de amigos nas redes sociais, ela estava no Rio para passar o feriadão com a família.Em nota, a EsPCEx informou que aluna se encontrava em licenciamento do feriado da Independência.
O sepultamento de Caroline será no Cemitério Parque Jardim, em Mesquita, na Baixada Fluminense, às 16h desta terça-feira (12).