Aeroclube onde ultraleve atingiu estudante da EsPCExReginaldo Pimenta

Rio - A defesa do piloto de ultraleve Nathan Marchon, que atropelou e matou Caroline Kethlin de Almeida Ribeiro, no aeroclube de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, entende que houve imprudência por parte da jovem por estar caminhando em uma pista no momento da operação da aeronave.
O advogado Paulo Victor Rizzo alegou ao DIA, nesta sexta-feira (15), que, quando Nathan taxiou o ultraleve do galpão até a pista, não havia ninguém. No momento em que o piloto fez a volta no final da pista, a jovem teria aparecido caminhando. Uma forte rajada de vento fez com que o condutor perdesse o controle da aeronave, mas, como a jovem estaria de costas, não teria visto o veículo se aproximando, mesmo com Nathan gritando, conforme diz a defesa.
"A pista estava vazia. Ele foi para a pista para fazer um reconhecimento da aeronave que ele estava. Tanto que ele sem capacete porque não ia voar. Ele só queria percorrer a pista até uma cabeceira e até a outra. Até você taxiar lá do hangar e chegar até a pista, que é um caminho longo, dá tempo de pessoas entrarem para fazer exercício, não sei por onde. O vento estava calmo. Não tinha nada que impedisse esse teste. Porém, infelizmente, a gente está sujeito a mudanças climáticas. Isso acontece as vezes. Quando ele foi dar essa segunda passada na pista e ele acelerou o ultraleve teve essa rajada, isso vai ser provado nos autos, e fez um levantamento da asa esquerda no eixo da pista. Ele deu o comando contrário, quando ele consertou, a frente guinou para a direita, fazendo com que ele perdesse o controle momentaneamente", disse Rizzo.
"O ultraleve é uma nave de baixa velocidade. Se não tivesse ninguém ali, o máximo que poderia acontecer era chegar até o acostamento, mas infelizmente encontrou a menina no meio do caminho. Ela estava caminhando no acostamento de costas para ele. Ela não estava olhando para ele. Tanto quando ele viu que a aeronave guinou e ele percebeu que ia pegar, ele chegou a gritar. Ela nem sequer olhou para trás", completou. 
Rizzo destacou que vai pedir aos agentes da 58ª DP (Posse), responsável pelo caso, uma investigação para saber como pedestres entram na pista do aeroclube se, segundo ele, o espaço é fechado por um portão. Para o advogado, Caroline não deveria estar caminhando no local já que sabia que estava tendo a operação de um ultraleve naquele momento.
"Ela não teve realmente percepção do que estava acontecendo, mas com certeza sabia que tinha uma aeronave operando ali. O que também mostra uma imprudência de estar naquele local. É lamentável o que aconteceu. O Nathan está muito abalado. Ninguém quer tirar a vida de ninguém. Isso é uma coisa absurda de se pensar. Foi uma fatalidade causada por um evento da natureza. Tem que ver como essas pessoas tem acesso a essa pista porque realmente isso pode acontecer. Esse convívio de pessoas se exercitando com ultraleve na pista tem que ser investigado e coibido", exclamou.
Nesta quinta-feira (14), o delegado José Mário Salomão de Omena destacou que as provas analisadas pela delegacia apontam que Nathan foi imprudente ao realizar o teste no ultraleve quando tinha pessoas caminhando. A defesa concorda que houve imprudência, mas não descartou que a jovem também teve.
"Quem entra em uma pista sabendo que tem uma aeronave operando nela está sendo imprudente, assim como, se o piloto está vendo a pessoa ali, também está sendo imprudente sim. Eu não estou falando que as pessoas não devem ir ali. Estou falando que se as pessoas forem se exercitar ali e, no momento, estiver uma aeronave na pista não deveria. Se um piloto está com um ultraleve e vê que tem pessoas na pista, ele também não deveria. É questão de bom senso", completou.
Falta de autorização para funcionar
Na segunda-feira (11), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que o aeroclube não tinha autorização para funcionar, além de não ser certificado para oferta de cursos de formação de pilotos. O local não consta no cadastro de aeródromos privados da Agência e, por isso, não pode operar como aeródromo.
Sobre o assunto, a defesa de Nathan alega que a interdição se diz respeito somente a viação homologada, que é aquela que exige piloto privado ou comercial, e a aviação experimental com mais de 200 kg, que exige o Certificado de Piloto Aerodesportivo (CPA). Segundo Rizzo, ultraleves são permitidos no local.
"Estamos falando aqui de ultraleve básico, categoria abaixo de 200 kg que não inclui nessa legislação. Até porque, se o aeródromo estivesse funcionando e estivesse liberado para aviação homologada, não poderia nunca ter ultraleve básico ali voando. Você operar um ultraleve básico daquela categoria naquela pista, apesar de interditada para aviação homologada, isso não tem problema algum", alegou.
Nathan prestará depoimento após todas as testemunhas serem ouvidas. O pai de Caroline, Abner Rangel Ribeiro, prestou depoimento nesta sexta-feira (15) na 58ª DP. A defesa destacou que irá estipular uma linha para defender o piloto apenas quando todo o processo terminar. 
Caroline teve a morte cerebral confirmada no domingo (10) depois de dar entrada no sábado (9) em estado gravíssimo no Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI), na Baixada Fluminense. Ela foi sepultada na terça-feira (12) no Cemitério Parque Jardim, em Mesquita, também na Baixada Fluminense. Durante a cerimônia, o pai da jovem disse que estava no momento da colisão e viu a aeronave em alta velocidade.
"Foi algo que aconteceu muito rápido, então não quero tomar nenhuma atitude precipitada de dizer que foi inabilidade do piloto, imprudência... Está registrado na Polícia Civil, eles estão investigando. Infelizmente, de onde a aeronave partiu foi muito rápido. Mesmo contra o vento, saiu com uma velocidade muito grande. Eu estava do outro lado da pista, mas acredito que tenha sido em menos de seis segundos", explicou.