Nesta terça-feira, equipes trabalharam para remover carcaças de ônibus queimados na Rua Felipe Cardoso, em Santa CruzReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Passageiros enfrentaram os reflexos dos ataques na Zona Oeste ao procurarem pelos transportes públicos da cidade, nesta terça-feira (24). A região viveu momentos de terror nesta segunda-feira (23), com ônibus, trem e veículos incendiados, após a morte do sobrinho e braço direito do miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, em Santa Cruz. O município chegou a ficar em estágio de atenção e retornou ao de normalidade às 8h45 de hoje. Não há registros de novos ataques e o policiamento está reforçado em locais onde os criminosos agiram.
No início do dia, o corredor Transoeste chegou a operar com intervalos irregulares, mas a Mobi-Rio informou que os horários foram normalizados, bem como as linhas eventuais Santa Cruz, Pingo D'água, Magarça e Mato Alto, os "diretões", estão circulando. Segundo o prefeito do Rio, das cinco estações de BRT alvos dos milicianos, todas estão funcionando nos três corredores, exceto Vendas de Varanda, em Santa Cruz. O local vai precisar ter componentes estruturais trocados e será liberada em, no máximo, uma semana, segundo Eduardo Paes. 
De acordo com o Rio Ônibus, a frota municipal de ônibus na Zona Oeste alcançou 90% da operação. A SuperVia informou que, por conta do ataque realizado em um trem na altura da estação Tancredo Neves, em Paciência, realiza uma manutenção corretiva no ramal Santa Cruz. O trecho Central x Campo Grande tem intervalos de aproximadamente 20 minutos e alguns trens para Santa Cruz terminam a viagem em Campo Grande. Já entre Campo Grande e Santa Cruz, o tempo de espera é de cerca de 40 minutos.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), nesta terça-feira, 20 unidades municipais da Zona Oeste estão fechadas. Ontem, 45 interromperam o funcionamento, afetando 17.251 estudantes. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), após a suspensão das aulas noturnas em 12 escolas, impactando 2,9 mil alunos, a previsão é de que as aulas sejam retomadas hoje, mas a expectativa é de baixa adesão, por conta dos transportes públicos.
A pasta informou que a direção das unidades têm autonomia para tomar as providências necessárias para preservar a integridade física dos alunos, professores e funcionários. "Todos os conteúdos serão repostos de acordo com o planejamento pedagógico", completou. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que todas as unidades devem funcionar hoje. "Os diretores e gerentes estarão atentos às movimentações de cada território, para tomar a decisão que se faça necessária em caso de repetição ou fatos novos que venham a alterar individualmente a rotina da unidade, conforme o protocolo de acesso mais seguro".
Em nota, a Light, concessionária responsável pelo serviço de fornecimento de energia na capital fluminense, informou que técnicos conseguiram restabelecer o serviços nos locais afetados ainda na noite de segunda-feira e, nesta terça-feira, não há registro de clientes impactados pelos ataques dos milicianos. Na manhã de hoje, as polícias Civil e Militar realizam uma operação conjunta em Santa Cruz, Guaratiba e Campo Grande, para localizar Zinho e impedir que novos veículos sejam queimados.
Terror na Zona Oeste
O miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão ou Teteu, foi morto em um confronto com policiais civis, na comunidade Três Pontes. A ação do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), com apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), também prendeu um criminoso, apreendeu dois fuzis, uma pistola, dezenas de carregadores, centenas de munições, rádios transmissores, coletes e celulares.
Após a morte de Faustão, o grupo paramilitar ateou fogo em 35 ônibus, sendo 20 da operação municipal, cinco BRTs e outros 10 de turismo e fretamento, além de em carros e caminhões. Em apenas um dia, a cidade teve o maior número de coletivos queimados de sua história, segundo o Rio Ônibus. O município chegou a ter 121 km de congestionamento, às 18h, quase o dobro da média registrada nas últimas três segundas-feiras neste horário.
O Corpo de Bombeiros foi acionado para 36 eventos de fogo em veículo em diversos pontos da Zona Oeste. Cerca de 200 militares de 15 quartéis atuaram no combate às chamas. Não há registro de vítimas. A ação dos criminosos afetou, principalmente, os bairros de Santa Cruz, Campo Grande, Paciência, Guaratiba, Sepetiba, Cosmos, Recreio, Inhoaíba, Barra da Tijuca, Tanque e Campinho. Nestes locais, pneus também foram incendiados e serviram como barricadas para impedir a passagem das polícias Civil e Militar.
Na noite de ontem, o governador do Rio determinou que as Forças de Segurança do Rio continuem com o monitoramento em toda a cidade, em espeical nos bairros da Zona Oeste, e acionou um plano de contingência para diminuir os transtornos à população. Ontem, doze suspeitos de envolvimento nos ataques foram detidos. Entretanto, seis deles foram soltos por falta de indícios e os demais serão denunciados ao Ministério Público do Rio (MPRJ) por terrorismo, de acordo com Cláudio Castro.