Talmes Ferreira Almeida, de 87 anos, ficou mais de dois meses internada no Hospital de Força Aérea do Galeão, onde contraiu infecção em um ferimentoGoogle Street View

Rio - A família da idosa Talmes Ferreira Almeida, de 87 anos, alega que houve um descaso no atendimento da mulher durante a sua internação no Hospital de Força Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. Segundo o filho Wagner de Almeida, a mãe contraiu um ferimento que infeccionou por falta de cuidado da equipe médica.
Ao DIA, Wagner disse que Talmes foi internada na unidade no dia 27 de setembro, dois dias depois dela completar 87 anos, para realizar uma cirurgia no fêmur após uma queda em casa. O procedimento foi realizado normalmente e sem intercorrências, segundo ele. Após a cirurgia, a idosa foi levada para o setor de tratamento semi-intensivo, que não dava direito a acompanhantes.
De acordo com Wagner, ele avisou à equipe médica que a mãe fazia uso de um adesivo para auxiliar no tratamento do Mal de Alzheimer e entregou o produto para ser usado, o que não teria sido feito. A falta de troca do adesivo contribuiu, segundo ele, para o início de um ferimento, que infeccionou e causou fortes dores em Talmes.
"Esse adesivo foi sugerido a eles, e era o que deveria ter sido feito, que fosse trocado a cada banho, se não ia regredir um trabalho de dez anos, como aconteceu. Um trabalho de 10 anos de tratamento foi por água abaixo por eles não trocarem o adesivo. Nesse setor, acredito eu, que o fato deles não trocarem os adesivos, é porque eles também não davam banho. Quem sabe e entende um pouco desses tipos de ferida que acontece em hospital, elas começam a surgir do tamanho de uma unha e dali vai abrindo como um ferimento. Se você for uma pessoa profissional ao ponto de fazer uma assepsia correta de um paciente, você ia notar aquele ferimento e ia ver que ele estava crescendo, começando a tratar a partir dali", disse.
Segundo Wagner, a mãe voltou para a enfermaria com o ferimento aberto e com retardamento mental porque houve a paralisação do tratamento do Alzheimer. Ele registrou uma queixa na ouvidoria da unidade sobre o assunto. Após isso, o homem destacou que o cuidado com a idosa piorou. Wagner ainda ressaltou que conseguiu autorização para tratar dela em casa, mas a burocracia na unidade demorou demais para permitir sua saída.
"Esse é um ferimento que cresce por conta do pouco caso da existência dele e chegou nesse nível por causa do desleixo. Não foram cuidadosos com uma senhora de 87 anos e isso é maus-tratos. Independente de ser um hospital militar, eles têm que agir como médicos e isso não aconteceu em momento nenhum. Tanto que minha mãe sentiu dores desse ferimento e necessitava de tratamentos diferenciados, inclusive não era o curativo que eles estavam usando. Nesse intervalo de espera, minha mãe teve três infecções nesse hospital, foi sobrecarregada de antibióticos, de exames e não saiu para o homecare. É uma falta de vontade humana, de ajuda. Eles são médicos, mas agem estupidamente como militares. É uma coisa absurda. Minha mãe chorava e, depois da primeira denúncia que fiz na ouvidoria, minha mãe foi abandonada. Ela ficou 11 dias sem defecar, esculacharam minha mãe. Ela, traumatizada, se entregou a um coma, ficou com medo de viver", destacou.
Talmes ficou mais de dois meses internada na unidade. Na última quinta-feira (14), ela foi transferida para o Hospital da Aeronáutica dos Afonsos, na Zona Oeste do Rio. A idosa morreu na última segunda-feira (18) e foi enterrada na terça-feira (19) no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária da cidade.
"Eu tenho protocolos, registros, denúncias e agora minha mãe partiu de fato. Tenho todas as provas de quando ela era viva de como ela sofreu. Eu passei lá dois meses e muitos dias. Na ouvidoria, uma coisa tão direcionada, não precisava eu ir para fazer o que eles fizeram. A falta de respeito e o desgaste são muito grandes. Minha mãe tinha 87 anos, não precisava sofrer o que sofreu. Demorou muito tempo a burocracia da liberação do homecare porque, com certeza, se ela estaria em casa, ela estaria viva. Quando eu fiz a denúncia interna na ouvidoria pedindo certas atenções para minha mãe, eles já boicotaram ela. Quando eu consegui a transferência da minha mãe para os Afonsos, eles tiraram minha mãe do quarto e ficaram 40 minutos com ela em um lugar quente porque verificaram que a ambulância não tinha ar-condicionado e não iam transportá-la. Falta de respeito total. A maldade foi muito grande. Isso tem que parar. Antes de ser um quartel, lá deveria ser um hospital. Não ao contrário", completou.
Wagner ainda destacou que pretende, em breve, registrar uma queixa formal na Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti). 
O que diz a Força Aérea Brasileira (FAB)?
A FAB respondeu, nesta quinta-feira (21), que o histórico médico de Talmes apontava condições clínicas que podem predispor o surgimento de úlceras de pressão. Após a cirurgia de reparação do fêmur, ela foi para o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do hospital para realizar a recuperação pós-operatória. Segundo a FAB, foi identificada uma úlcera na região sacra e a equipe de enfermagem realizou diariamente a troca do curativo, além dos cuidados gerais.

"A FAB ressalta que a equipe médica e de enfermagem atuou 24 horas nos cuidados, objetivando o rápido restabelecimento da paciente, tendo implementado terapêutica específica para todas as alterações e condições clínicas apresentadas, inclusive para o tratamento da doença de Alzheimer, conforme consta nas prescrições médicas. Medidas adicionais, adotadas neste atendimento, incluíram ainda o uso de colchão pneumático e a supervisão da Comissão de Curativos do HFAG, que conta com a atuação de profissionais supervisionados e responsáveis pelas melhores práticas assistenciais", diz a nota.

Por fim, a FAB reforçou que todos os recursos e esforços foram empregados no tratamento em questão pela equipe de saúde da Aeronáutica.