Corpo de Zagallo é enterrado na Zona Oeste do Rio neste domingoManuella Viégas/ Agência O Dia
Corpo de Zagallo é velado neste domingo na sede da CBF: 'Não tem ninguém para substituí-lo'
Lenda do futebol brasileiro, despedida foi aberta ao público e contou com a presença de amigos e familiares
Rio - O velório de Mario Jorge Lobo Zagallo, na sede da CBF, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, que começou na manhã deste domingo (7), terminou por volta das 14h. Lenda do futebol brasileiro, ele estava internado desde o dia 26 de dezembro e morreu aos 92 anos em decorrência de uma falência múltipla de órgãos na sexta-feira (5). Sob forte comoção, a despedida foi aberta ao público e contou com a presença de familiares e amigos do futebolista.
Após o velório, foi celebrada uma missa em homenagem ao ex-jogador e, por volta de 15h40 o corpo seguiu em um caminhão dos Bombeiros para o enterro no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul, onde Zagallo foi sepultado.
Como última homenagem, no momento em que o caixão foi levado, houve muitos aplausos e alguns pacientes que estavam internados no Hospital Municipal Lourenço Jorge, que fica próximo à sede da CBF, acompanharam a despedida. O público também cantou o clássico 'Sou brasileiro'.
No velório, foram expostas coroas de flores enviadas por Lula, Cafu, Galvão Bueno, Bebeto, Santos, Atlético, além de uma estátua de cera do craque ao lado do caixão. O técnico do Flamengo Tite foi ao local mais cedo, mas não falou com a imprensa.
Durcesio Mello, presidente do Botafogo, ressaltou a importância do craque para o futebol. "Zagallo foi revolucionário de ter jogado, ele permitiu que o Nilton Santos fosse um dos primeiros laterais a avançar (...) depois ele fez o time de 1970. O time de 1977 e 1978 para mim foi o mais vitorioso do Botafogo, que ele comandou. Tinha Gerson, Rogério, Jairzinho, Roberto, Paulo Cesar. Então, só tem história boa dele, só coisas que ele trouxe para o futebol brasileiro. Ele é um revolucionário", disse.
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF falou sobre o velório ter sido na sede da Confederação. "Nesse momento, aqui na CBF, por escolha dele e da própria família, nós queremos confortar tanto a família como também a todos os seus admiradores pelo mundo inteiro. Todas as homenagens para Zagallo são poucas. A CBF vai seguir deixando vivo o seu legado".
"É um momento importante para que possam novamente aproveitar esse legado de vontade, de determinação, tanto como atleta, como treinador e torcedor, e cada um dos atletas possam resgatar o trabalho que Zagallo desenvolveu, para que se inspirem nele e saberem que a camisa da seleção brasileira tem que ser uma camisa honrada, abençoada e sendo defendida com muita altivez", afirmou.
Sobre futuras homenagens, Ednaldo ressaltou: "São infinitas. E nós também sempre procuramos tratar, antes de fazê-las, com seus familiares e de uma forma conjunta. Em breve nós informaremos.
Conhecido como Zagallinho, Paulo Zagallo, filho do futebolista, relembrou as conquistas do pai e agradeceu o carinho que tem recebido. "Para mim, é uma satisfação ter sido filho do meu pai, por tudo que ele representou no futebol brasileiro e mundial. É um orgulho para mim, que também estou no meio do futebol, e vai ficar uma lenda guardada para todo povo brasileiro, por tudo que ele fez".
"Graças a Deus meu pai foi iluminado na vida profissional dele, das conquistas que ele teve com a seleção brasileira, foram sete Copas do Mundo, quatro títulos mundiais, fora os campeonatos, Copa América, Copa dos Campeões. Eu só tenho que agradecer a todo o povo, não só do Brasil, como do mundo inteiro, reverenciando tudo o que meu pai representou pelo futebol", disse.
Zagallinho, então, contou como foram os últimos momentos de Zagallo. "Ele estava lúcido. Meu irmão até que acompanhou mais ele, porque estava morando com ele. Foi da vontade de Deus ele descansar, para não ficar no sofrimento da saúde", relatou.
Fã declarado de Zagallo, o aposentado Antônio Augusto fez questão de participar da cerimônia de despedida e não segurou às lágrimas ao falar sobre o ex-jogador e técnico. "Tristeza que o Zagallo foi embora. Não tem ninguém para substituí-lo. De 1970 para cá, foi o melhor treinador que teve. Eu e minha mulher já estivemos ao lado dele quando era pequeno. Eu estou com 73 anos e sempre acompanhei ele no (estádio) General Severiano. Não vou aguentar falar", finalizou emocionado.
O ex-supervisor da CBF, Américo Faria, ressaltou a competência e a confiança que Zagallo exercia em sua profissão.
"O futebol são títulos. Quando um dirigente contratava o Zagallo, ele tinha convicção de uma coisa. A equipe dele ia disputar o título. E isso no futebol era o mais importante. Além disso, ele tinha muita fé, muita competência e poucas pessoas enxergavam o futebol dentro de campo, aquilo que estava ocorrendo, como ele enxergava. É isso aí, vamos dizer que ele é o Pelé dos treinadores", declarou.
Ex- jogador e grande amigo de Zagallo, Bebeto o tem como referência de profissional e amigo. Durante o velório ele lembrou do orgulho que o falecido tinha em vestir a camisa da seleção brasileira.
"O Cezinha é um irmão que eu ganhei na minha vida! Ele estava sempre pensando positivo. Por mais que o jogo estivesse difícil, ele entrava no vestiário com aquela calma e aquela vontade, e aquela gana, ele conseguia passar isso pra gente, essa emoção toda".
Para Bebeto, Zagallo será eterno junto com outros ídolos do futebol.
"O Pelé, o Zagallo, o Roberto Dinamite São pessoas que vão ser eternas e eternamente vão estar dentro dos nossos corações, na memória da gente, sabe? São pessoas, são lendas do futebol e a gente tem que reverenciar", declarou.
Cafu, outro jogador que foi treinado por Zagallo, declarou que todas as homenagens prestadas serão poucas perto da grandeza e da representatividade do amigo.
"Quem teve a oportunidade de conviver com o professor Zagalo sabe o que eu estou falando. Nós temos o Zagallo não só como treinador mas como pai, como amigo, uma pessoa que nos dava conselho, nos ajudava, uma pessoa tem uma história para contar no futebol".
Jogadores campeões também homenagearam
Campeão do mundo em 1994, o ex-jogador Mauro Silva pontuou momentos com o velho lobo. "Zagallo representa uma trajetória incrível de conquistas e de amor à camisa verde e amarela. A confiança que ele me passou na Copa de 94 foi chave para que eu entrasse em campo com determinação", contou.
Treinado por Zagallo, o ex-jogador Leandro Ávilla, que já passou por todos os clubes cariocas, comentou sobre o tetracampeão. "Tive o prazer de trabalhar com ele no Flamengo, fui convocado por ele em algumas situações para a Seleção e eu só tenho a agradecer por tudo que Zagallo representou. Ele foi um grande jogador e um grande treinador. Um cara muito emoção e a gente sentia isso vindo dele. Um exemplo de cidadania".
Mandatário da Federação Paulista de Futebol (FPF) e vice-presidente da CBF, Reinaldo Carneiro Bastos, contou . "Falar de Zagallo significa ser vencedor, vitorioso, amor e dedicação. Isto vai guiar muito quem vier no futuro. É um gênio", disse.
Mário Bittencourt, presidente do Fluminense, também prestou homenagens. "O maior representante da história da Seleção Brasileira. Zagallo foi ídolo nos quatro grandes clubes do Rio. Mesmo se eu não fosse presidente do Fluminense, eu teria o dever, como amante do esporte, de passar aqui para prestar homenagem".
O presidente do Flamengo, Marcos Braz, falou sobre a carreira de sucesso de Zagallo. "Ele ganhou em toda sua trajetória: jogador, treinador e coordenador. Zagallo está cravado na história do futebol mundial. Tenho uma admiração por ele em todos os pontos. Fiz questão de vir aqui dar um abraço na família", comentou.
O Velho Lobo deixa quatro filhos: Maria Emilia de Castro Zagallo, Paulo Jorge de Castro Zagallo, Mário César Zagallo, Maria Cristina de Castro Zagallo. Sua esposa, Alcina de Castro, com quem foi casado por 57 anos, faleceu em 2012.
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