Delegado ainda terá que pagar multa no valor de R$ 367 milArquivo/Reginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - O delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, preso desde 2021, foi condenado a quase 10 anos de prisão por obstrução de justiça. A decisão, da última quarta-feira (4), é do juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa do Rio, que determinou que o regime de cumprimento será, inicialmente, fechado.

Demétrio ainda pode recorrer da decisão, mas somente preso. Na sentença, o juiz ainda determinou a perda da função pública do delegado e demissão imediata da Polícia Civil.

Maurício Demétrio foi condenado a nove anos, sete meses e seis dias de reclusão, além de 52 dias de multa. A Justiça do Rio ainda determinou que Demétrio pague multa de R$ 367 mil e que os R$ 240 mil em espécie apreendidos durante a operação que prendeu o delegado sejam depositados em uma conta do estado.
"Foram colhidas provas de que o Delegado de Polícia Maurício Demétrio Afonso Alves externa um padrão de riqueza altíssimo, inclusive muito superior ao que a remuneração (exclusiva) da sua atividade lícita lhe permitiria. São inúmeros os registros de gastos de altíssimos com o aluguel constante em mansões em Angra, utilização rotineira de lanchas e jet-ski, viagens internacionais constantes (em classe executiva), proprietário de diversos carros blindados de altíssimo padrão, assim como residência fixada em imóvel luxo", diz parte do documento.

O delegado ainda responde por abuso de autoridade, denunciação caluniosa e fraude processual.
Em nota, a Polícia Civil informou que aguarda o trânsito em julgado da condenação para demissão de Demétrio.
"A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) esclarece que será aguardado o trânsito em julgado do decreto condenatório. A instituição reforça que há Processos Administrativos Disciplinares (PADs) em andamento na Corregedoria-Geral de Polícia Civil (CGPOL) e que todas as medidas cabíveis estão sendo tomadas."

Prisão

Demétrio está preso desde o dia 30 de junho de 2021, quando foi alvo da operação 'Carta de Corso', deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ).

Segundo o Ministério Público, o esquema criminoso ocorreu entre março de 2018 e março de 2021, quando Maurício Demétrio era o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). De acordo com o órgão, o delegado e outros policiais civis exigiam dos lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, o pagamento de propina de R$ 250 semanais e outras vantagens indevidas para permitir que continuassem a venda de roupas falsas. A Rua Teresa é conhecida pelo comércio popular na Região Serrana.

O esquema era dividido por dois núcleos: um agia em Petrópolis e era responsável por ameaçar diretamente os lojistas e recolher os valores cobrados. Este era formado por Alex Sandro Gonçalves Simonete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz, comerciantes na Região Serrana. No Rio, Ricardo Alves Junqueira, advogado, e Alberto Pinto Coelho também foram denunciados pelo MP.

O outro núcleo era formado pelos policiais civis, que cumpriam diligências policiais contra determinados lojistas como 'forma de represália' a quem não pagasse a propina, segundo o Gaeco, subvertendo 'a estrutura da Polícia Civil em instrumento de organização criminosa'. Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira, Luiz Augusto Nascimento Aloise são os policiais civis denunciados, junto com o perito criminal José Alexandre Duarte e o delegado Maurício Demétrio.