A doméstica Marcele Pereira da Silva, 43 anos, com marcas de agressões no rostoFoto: Arquivo Pessoal

Rio - A relação de 16 anos da doméstica Marcele Pereira da Silva, de 43 anos, com o ex-marido, Rogério Cabral Massaroni, foi marcada por um histórico de violência, conforme revelam áudios recebidos por Marcele. Morta a facadas pelo ex, na última quinta-feira (18), a vítima havia conseguido três medidas protetivas contra Rogério, que foi preso nesta sexta-feira (19). Nenhuma delas, no entanto, impediu o crime bárbaro. O enterro da vítima está programado para as 16h no Cemitério São Francisco Xavier, no bairro do Caju.
Segundo Patrícia Lino Herculano, prima da vítima, as ameaças eram constantes, muitas vezes por mensagens de áudio. O DIA teve acesso a algumas delas. "Isso é medo, né?. Não adianta correr não. O que é do homem o bicho não come... Pego na boa, precisa correr não. Sou cria. Sou nascido e criado na minha comunidade, tá pensando que vai passar batido", disse Rogério em um dos áudios.
Ele disse, ainda, que colocaria fogo na casa em que a doméstica morava. "Sou não fiz uma merda nessa casa porque minha filha tá aí dentro. Minha vontade é jogar dois coquetéis (molotov) aí e explodir tudo. Só não faço isso porque tem duas crianças aí que não merecem", afirmou. Rogério mostrou, também, desprezo pela polícia. "Polícia de c* é r%&la", deu sorte que não matei ela", falou. 
Após a separação, a doméstica se refugiou na casa da mãe, mas mesmo assim não teve paz. "Ele invadia a casa da mãe dela. Ela ligava para a patrulha da Maria da Penha. Mas quando a viatura chegava, ele se escondia na mata. Por ser caçador, ele conhecia bem a região", disse a prima.
'Lei fraca'
Ainda de acordo com a prima, a situação chegou a tal nível que Marcele não podia ter redes sociais e dependia do telefone da mãe para comunicação. "Ela não podia ter rede social, celular, falar com ninguém. Se ele descobrisse, ia atrás dela de novo", contou. Em uma das vezes, familiares precisaram tirar a doméstica da casa da mãe porque Rogério estava queimando a ex-mulher com cigarro.

A prima criticou o sistema de proteção às vítimas: "A nossa lei é muito fraca. A (lei) Maria da Penha não funciona. Os dispositivos atuais não conseguem impedir a morte das mulheres. E assim, vamos vendo a mesma coisa todos os dias", lamentou.
Ela também abordou a culpabilização das vítimas em casos de violência doméstica: "No fim das contas, o julgamento acaba caindo para cima da mulher. 'Por que ela teria voltado para o relacionamento?', dizem”. Patícia criticou, também, a lentidão da Justiça. "Se ele estivesse preso, não teria matado a minha prima", concluiu.
Questionada sobre o cumprimento das três medidas protetivas a favor de Marcele, a assessoria da Polícia Civil ainda não retornou os contatos. O espaço segue aberto para manifestação.
Crime no Alto da Boa Vista
A doméstica foi atacada pelo homem na Estrada Capitão Campos, na comunidade Agrícola, e chegou a ser socorrida para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu aos ferimentos
De acordo com familiares, o crime aconteceu pouco antes das 8h, quando Marcele andava pela via para ir para o trabalho e o homem chegou pela mata e a cercou, esfaqueando a vítima em seguida. Parentes relataram que o suspeito disse que pretendia matar toda a família que morava com ela, mas desistiu porque a filha, fruto do casamento com a mulher, estava na casa.