Camelôs se revoltam com decisão do prefeito do Rio de proibir ambulantes nas ruas da Uruguaiana, no Centro do RioCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - Movimentos dos camelôs repudiaram a decisão do prefeito Eduardo Paes, em conjunto com o governador Cláudio Castro, de proibir ambulantes nas ruas da Uruguaiana, no Centro do Rio. O Movimento Unido dos Camelôs (Muca-RJ) e o Fórum Popular de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro afirmam que a ação é uma forma de criminalizar e perseguir a classe dos camelôs na cidade. Os movimentos pedem que haja diálogo entre as autoridades e representantes dos ambulantes, a fim de encontrar soluções para a situação.
Ao informar sobre a medida, na tarde desta quarta-feira (28), Paes disse que o local é ponto de venda de mercadorias roubadas, como celulares. Mesmo que a decisão tenha sido anunciada pelo prefeito, a segurança pública do espaço é de responsabilidade das polícias Militar e Civil, está última, por sua vez, apura diversos inquéritos de vendas de produtos roubados. "Não custa lembrar que temos fartas provas para mostrar que boa parte dos celulares roubados na cidade são comercializados ali", disse o prefeito. 
A acusação foi rebatida pelo Muca-RJ, horas depois. "É lamentável que a gestão municipal opte por estigmatizar todos os camelôs da região, sem distinção e numa promoção que visa marginalizar a categoria na totalidade. Ao invés de promover a exclusão e marginalização desses trabalhadores, acreditamos que as autoridades deveriam buscar soluções mais inclusivas e que atendam às necessidades de todos os envolvidos. A simples remoção dos camelôs acusados de irregularidades não resolve o problema subjacente e apenas transfere essa situação para outras áreas, sem oferecer alternativas viáveis para esses trabalhadores", informou o movimento por meio de um comunicado.
Para o Fórum Popular de Segurança Pública do Rio, a decisão expõe um racismo institucional por parte do governo. "Hoje, o prefeito Eduardo Paes em suas redes sociais destilou todo seu ódio de classe e raça. Recentemente o prefeito também criminalizou os camelôs e o espaço da Feira de Acari, suscitando falas da classe artista de que a Feira é patrimônio desta cidade e de solidariedade à classe trabalhadora", informou o movimento.
Ambos os movimentos afirmaram que permanecerão firmes na defesa dos direitos e interesses da categoria. "Não aceitaremos ser tratados com preconceito e negligência por parte das autoridades, e continuaremos nossa luta por uma cidade mais justa e solidária para todos", disse o Muca-RJ.
Maria dos Camelôs, ambulante há 25 anos e coordenadora geral do Muca-RJ, desabafou sobre a decisão e cobrou explicações de Eduardo Paes. "Muitos pais e mãe de família trabalham aqui para levar o sustento para casa. Até hoje o prefeito não cumpriu a sua promessa de campanha de organizar os trabalhadores na Uruguaiana. Você não vem na rua com seus fiscais organizar os camelôs, mas quer tirar comida da boca dos nossos filhos. Camelô é trabalhador", disse.
O advogado Rodrigo Mondego, procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, também rebateu  a decisão do prefeito. "Imagina se eles soubessem que têm funcionários públicos que recebem um negócio chamado "arrego" para fechar os olhos para os poucos que cometem esse tipo de crime. Mas ir para cima de uma categoria inteira é mais tranquilo do que ir para cima dos corruptos que permitem que esse crime ocorra", escreveu Mondego em suas redes sociais.
Medida entra em vigor nas próximas semanas
Paes disse que o secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevale, será o responsável por implementar as medidas necessárias para cumprir as determinações da prefeitura e do governo. A restrição mencionada pelo prefeito diz respeito aos ambulantes que vendem produtos nas ruas da Uruguaiana. Os camelôs que possuem boxes no camelódromo do local poderão continuar. A Seop não respondeu quando deve começar a atuar na região. 
A secretaria já faz essa fiscalização na Feira de Acari, que acontecia tradicionalmente na Avenida Pastor Martin Luther King Jr, e que passou a ser proibida desde o dia 23 de janeiro deste ano. A justificativa pela proibição é de que o popular espaço de comércio não é autorizado e teria ligação com organizações criminosas. A Feira de Acari acontecia no mesmo local desde a década de 1970 e era conhecida pela venda de produtos com preços abaixo do praticado no mercado regular e, em alguns casos, sem nota fiscal.
Polícia Civil investiga venda de celulares roubados na Uruguaiana
Especializadas da Polícia Civil, como a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) e a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), investigam diversos inquéritos envolvendo a venda de celulares roubados na Uruguaiana. Em dezembro do ano passado, um homem apontado pela Polícia Civil como um dos maiores receptadores de celulares do Rio de Janeiro foi preso em flagrante no bairro Cachambi, Zona Norte do Rio.
Segundo as investigações da especializada, o homem é dono de um box na Uruguaiana, que conserta e vende aparelhos. Os policiais chegaram ao criminoso após a recuperação de um celular roubado por uma organização criminosa do Rio Comprido que é especializada na prática deste delito.
Segundo frequentadores da feira, a venda de produtos roubados também acontece nos boxes do camelódromo.
A Secretaria de Ordem Pública disse que, juntamente as forças policiais, vai programar para as próximas semanas uma ação de ocupação da Uruguaiana para impedir a instalação de ambulantes irregulares e a ocupação ilegal de área pública, além de outras irregularidades, especialmente naquela região onde "sabe-se que parte do material comercializado é oriundo de roubos e furtos".
Questionados pela reportagem, o governo do estado ainda não deu maiores detalhes sobre a decisão e nem quando a mesma entrará em vigor.