João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, foi morto com um tiro de fuzil em uma ação policialArquivo Pessoal

Rio - O calendário do Rio de Janeiro agora conta com uma data para conscientizar a população sobre a violência e morte de jovens negros. O Dia de Luta Jovem Preto Vivo - João Pedro Matos Pinto leva o nome do adolescente assassinado em uma ação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, em 2020. A primeira celebração, em 18 de maio, acontece no aniversário de quatro anos da morte da vítima. 
O projeto do deputado estadual Professor Josemar (PSOL) já havia sido aprovado pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi sancionado pela governador Cláudio Castro e publicado no Diário Oficial da última quinta-feira (14). A lei determina que na data e em todo o mês de maio sejam realizados eventos e campanhas educativas voltadas para o debate sobre racismo, encarceramento e genocídio da juventude negra e periférica. 
A mãe de João Pedro lembrou que, inicialmente, a lei seria somente para o município de São Gonçalo, mas por conta da repercussão do caso, se tornou estadual. Rafaela Coutinho Matos afirma que a família recebeu a homenagem com a esperança de celeridade na justiça pela morte do filho, de alertar a sociedade sobre a violência contra jovens negros e disse ainda ter expectativas de mudanças nas políticas de segurança pública. 
"Para nós familiares é um pouquinho dessa busca por justiça e a luta por memória, porque a nossa luta é por justiça, memória e reparação. A gente espera que não tenha sido sancionada como muitas outras que acabam não sendo exercidas, que seja realmente para essa luta e alertar a nossa sociedade contra a morte de jovens pretos, o genocídio do Estado contra a juventude preta. É um meio da gente não deixar cair no esquecimento e lutar para que não aconteça com outros jovens, que haja alguma mudança na política de segurança pública (...) A gente recebe essa notícia com bastante esperança no coração. É o Estado tendo que reconhecer, realmente, que é preciso mudar, que as políticas de segurança pública precisam ser mudadas".
Relembre o caso
João Pedro foi assassinado em 18 de maio de 2020, durante uma ação das polícias Civil e Federal. Segundo testemunhas, ele jogava videogame com mais cinco amigos na casa do tio, quando agentes entraram atirando. O adolescente acabou atingido por um disparo de fuzil na barriga e precisou ser levado de helicóptero a um hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Na ocasião, seu corpo chegou a ser dado como desaparecido, sendo encontrado horas depois pela família no Instituto Médico Legal (IML). 
À época, as investigações apontaram que a casa do tio da vítima ficou com mais de 70 marcas de tiros. Os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando Meister são réus por homicídio e fraude processual, foram ouvidos em setembro de 2023 e aguardam julgamento. Em janeiro deste ano, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu para que os policiais sejam levados a júri popular.