"Passou o Dia das Mães, agora três anos da morte do João, e ainda têm as audiências. É muito difícil, essas datas ficam marcadas e ficamos revivendo tudo novamente. A Justiça está lenta demais, já passaram três anos e nada foi definido. A gente acaba tendo que transformar o nosso luto em luta, a gente não descansa, porque fica nessa espera de que a Justiça faça a parte dela", disse.
A denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) foi apresentada em dezembro de 2021. O parquet fluminense concluiu que o tiro que matou João Pedro partiu da arma de um dos agentes e três policiais foram denunciados por homicídio doloso e fraude processual. Segundo o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), duas audiências de instrução já foram realizadas em 2022, em setembro e novembro, para ouvir testemunhas. Na próxima quarta-feira (24), cinco policiais federais serão ouvidos, por videoconferência, como testemunhas. Uma nova audiência ouvirá mais nove no dia 12 de julho.
O defensor público Luís Henrique Zouein pontua que demora na conclusão e condenação dos envolvidos tem relação com a atuação da defesa dos réus. "É claro que um processo criminal tem seus ritos e suas formalidades, mas parte da demora deve ser atribuída ao comportamento da defesa que apresenta as mais diversas formas de impugnação, fazendo que o processo pare mais vezes do que espera àqueles que querem uma Justiça célere. O comportamento não só visa ganhar tempo como priva a sociedade da busca pela verdade", afirmou.
Ainda de acordo com o TJRJ, a defesa dos réus, os policiais Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister, todos lotados na Core à época, conseguiram três habeas corpus que limitaram o número de testemunhas em 16. Eles, que se forem condenados podem pegar penas de até 34 anos de prisão, ainda não foram ouvidos pela Justiça.
"Existe o processo criminal de responsabilização dos policiais envolvidos e uma ação de reparação contra o Estado do Rio pedindo indenização moral, pensão mensal para a família, pedido de desculpas oficial e a criação de um memorial em nome do João Pedro. A Polícia Civil, que tem a função de servir e proteger, ingressou numa comunidade periférica, em maio de 2020, durante a pandemia. No momento em que todos diziam "fique em casa". Nem mesmo dentro de casa o João Pedro pôde estar seguro, ele teve seu direito à vida violado por quem deveria servir e proteger", adverte o defensor.
Defesa pede júri popular
Nesta quinta-feira (18), Rafaela e Neilton da Costa Pinto, pai do adolescente, participaram de uma audiência na sede do Ministério da Igualdade Racial, em Brasília. Eles aproveitaram a cerimônia para pedir mais rapidez nas investigações e levar um abaixo-assinado com mais três milhões de assinaturas cobrando providências no caso: "Eu e meu marido estamos em Brasília, a Chang.org vai entregar a petição com milhões de assinaturas. Nós queremos que esses policiais vão a júri popular".
Para Zouein, há provas suficientes para que a Justiça determine que os réus sejam submetidos ao júri popular. "Estamos muito confiantes, há uma perícia produzida pelo Ministério Público que demonstra que a versão dos policiais é impossível de ter acontecido na prática, e existem testemunhas que presenciaram e vivenciaram os fatos prestando depoimentos coerentes e harmônicos", disse.
"Há um conjunto de provas técnicas, perícias e testemunhas nos autos que fazem a acusação ser muito robusta. Houve o uso abusivo e criminoso da força pelos acusados. Foram mais de 70 disparos de armas de fogo e duas granadas disparadas dentro da casa em que estavam as crianças e adolescentes, sem que houvesse qualquer relato de confronto naquela localidade", completou o defensor.
Na época, o defensor público do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, Daniel Lozoya, pontuou que o pagamento da indenização é uma vitória, mas a expectativa da instituição é que a investigação esclareça todas as circunstâncias da morte e apure de forma eficaz a conduta dos agentes que participaram da operação.
Novas audiências ainda serão realizadas para ouvir outras testemunhas e os três réus. Inicialmente, a investigação da morte foi promovida pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal (MPF). Entretanto, o MPF deixou o caso após indícios de que a morte teria sido provocada por policiais civis, e não federais. Contudo, a Defensoria Pública requisitou que o MPF voltasse ao caso.
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