A Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, foi impactada pelo projeto do biólogo Mario MoscatelliReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio – O Dia Mundial da Água é celebrado nesta nesta sexta-feira (22) — criado em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio, a data vem evidenciar o debate sobre a urgência nos cuidados com um dos recursos naturais essenciais à vida. "A água nos une, o clima nos move" é o tema escolhido para 2024 no Brasil, pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) — a relação entre ambos é essencial, apontam especialistas. Iniciativas para reflorestar áreas impactadas pelo desmatamento e despoluir cursos de água podem ter um impacto positivo generalizado em um bioma e em sua temperatura, e projetos realizados na cidade evidenciam isso.
"Nós temos que cuidar da resiliência das nossas cidades, da adaptação delas, mas nós também precisamos levar água, porque água é saúde, para que as pessoas possam ter qualidade de vida", afirmou o ministro das Cidades Jader Filho, no lançamento do projeto "Jornada da Água 2024", iniciativa da ANA para mobilizar a sociedade sobre a pauta.
Um dos grandes exemplos sobre como o reflorestamento pode ajudar a recuperar um bioma, mesmo que em "pequenas proporções", é a Lagoa Rodrigo de Freitas, na Gávea, na Zona Sul, considerada um dos cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro. Apesar da sua beleza natural, há décadas o local era sistematicamente degradado e poluído, como aponta o biólogo Mario Moscatelli, criador do projeto "Manguezal da Lagoa", que renovou a vida marítima no lugar em parceria com a Águas do Rio. "Olho para o espelho de água cristalino da Lagoa com a certeza que o que vem sendo feito há três anos no local, a partir do novo marco do saneamento, poderá também ser feito em outros ecossistemas degradados da Região Metropolitana do Rio de Janeiro", destaca. 
De acordo com Moscatelli, rios, lagoas e baías poluídas por esgoto produzem volumes consideráveis de metano e gás sulfídrico — o famoso "cheiro de ovo podre". Com os corpos d’água livres da sujeira por esgoto, nenhum desses problemas são gerados, o que aumenta a qualidade de vida da população e dos biomas em que estão inseridos. O projeto pode ser esperança e espelho em outras iniciativas do tipo no estado.
Poluição da água contribui para mudanças climáticas
Segundo estudo do projeto Blue Keepers, realizado pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em 2023, estima-se que apenas o Brasil lance cerca de 3,44 milhões de toneladas de derivados de plástico – sacolas, garrafas PET, canudos, embalagens de xampu e isopor – nos oceanos por ano. Destas, 2,3 milhões de toneladas podem vir de bacias hidrográficas de alto risco.
É um consenso para a comunidade científica que a poluição da água contribui para as mudanças climáticas, causadas pelas emissões de gases estufa, incluindo nos rios e nascentes, segundo Rodrigo Leão de Moura, professor do Instituto de Biologia e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ), que aponta alguns caminhos para reverter esse cenário.
"A restauração das nascentes, incluindo o plantio de florestas em áreas degradadas, em larga escala, é uma frente de combate às mudanças climáticas que precisa ser encarada com seriedade enquanto política pública de caráter central, em um patamar equivalente ao da saúde e educação", afirma. No último fim de semana, o Rio de Janeiro atingiu um novo recorde de calor, chegando a 62,3ºC de sensação térmica em Guaratiba, na Zona Oeste. 
Especialistas apontam que duas mudanças no cotidiano da população podem reduzir a poluição nas águas, como o descarte de lixo adequado, foram desses ambientes, e o plantio de árvores. Essas mudanças de paradigma são ensinadas no projeto "Esse Rio é Meu", da organização Planetapontocom em parceria com as secretarias municipais de Educação e Meio Ambiente. Crianças de escolas da rede pública aprendem a importância do cuidado com os rios e lagoas dos seus bairros, através de atividades práticas, com visitas aos cursos de água.
A presidente da organização, Silvana Gontijo, explica o impacto que as ações têm na mentalidade dos mais jovens e a importância destas ações. "Acima de tudo, o sentimento de pertencimento, recuperação de uma história, um passado. A gente sempre propõe que as escolas convidem os idosos do território para que eles contem as suas histórias com aquele rio", explica.
"Muitas vezes, as crianças se surpreendem ao pensar que aquele valão de lixo já foi usado por um idoso para nadar, frequentar como lazer, e elas passam a querer que aquele rio sirva para isso. Estamos falando de uma nova perspectiva. No momento que eles começam a limpar o rio e começam a ter resultados positivos, eles passam a não querer que mais alguém o ataque. A gente viu as crianças do Morro do Alemão, no Rio Faria-Timbó, falando 'esse rio é seu, meu e nosso'. A ideia é essa: pertencimento e mudança de cultura", acrescenta.
A perspectiva geral é positiva. Silvana acredita que a continuação do trabalho gere impactos crescentes na saúde da Baía de Guanabara e afirma que a conscientização é a melhor solução. "A gente sabe que 80% do lixo que chega aos oceanos vem dos rios. Ficar colocando barreiras que impeçam a chegada de resíduos sólidos aos oceanos pode evitar que o lixo vá ao mar, mas não soluciona o problema. Ao contrário, cria outros. O que soluciona o problema são as pessoas conscientizarem de que aquilo não é lugar para jogar lixo e que jogar lixo na rua é um equívoco, porque o lixo que é jogado vai pros canais de água pluvial, que vão para os rios e que vão para os mares".
Silvana também reforça a importância que o cuidado com ás águas impacta no clima. Segundo ela, margens e os biomas aos arredores dos rios são afetados positivamente quando as águas são bem cuidadas:
"A recuperação, revitalização e transformação dos rios implica em uma série de ações para além da limpeza das águas. Estamos falando de suas margens, da preservação de nascentes, dos biomas, e até recompor parte das suas características originais. Isso impacta tudo. Quando falamos de replantio, olho para a quantidade que está sendo feito pelas nossas escolas. Já muda essa perspectiva de calor, sombreamento e frescor produzido pelas árvores", finaliza.
"Nós acreditamos nas ações interdisciplinares que vão para além dos muros da escola. O projeto 'Esse Rio é Meu' reforça a importância da mobilização e da busca por soluções de forma colaborativa, com a participação ativa dos alunos e suas famílias. Iniciativas que estimulem a conscientização ambiental de nossos estudantes sempre serão apoiadas e incentivadas pela prefeitura", afirma o secretário Municipal de Educação Renan Ferreirinha.