Thiago Farias morreu após ser baleado na frente de uma oficina em outubro de 2023Arquivo Pessoal

Rio - A família do barbeiro Thiago Farias da Costa, de 37 anos, assassinado a tiros durante uma discussão na frente de uma oficina no bairro Sampaio, na Zona Norte do Rio, aguarda há cinco meses a conclusão do caso e a prisão do suspeito do homicídio. A Polícia Civil chegou a pedir a prisão temporária do mecânico Victor Emmanuel Braga Silva, mas a Justiça do Rio negou.
Ao DIA, Josy Sampaio da Costa, de 39 anos, irmã da vítima, disse que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), responsável pelo caso, tem vídeos que mostram o assassinato. Em uma das gravações, o suspeito, de camisa preta, aparece sendo contido por outras pessoas no momento em que discutia com Thiago, de camisa rosa. Logo depois, o criminoso se aproxima da vítima e dispara diversas vezes.
Contudo, de acordo com a irmã de Thiago, esses vídeos não foram anexados no pedido de prisão temporária contra Victor feito pela DHC ao Ministério Público do Rio (MPRJ) no dia 6 de novembro do ano passado. O MPRJ chegou a aceitar a solicitação, mas pediu que a especializada continuasse com a investigação em busca de apresentar outros elementos. Já o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) negou o pedido dois dias depois.
"Eu não entendi o motivo de ser negado. Eu só sei que a polícia não anexou os vídeos. Eles têm posse de três vídeos de três câmeras diferentes do local e o que foi falado para o meu pai é que uma das câmeras pegou muito nítido, mas que eles não passaram as imagens para o Ministério Público. Conversei com um advogado e ele me disse que enquanto o promotor não fizer a denúncia e pedir a prisão nada vai ser feito. Nós vemos casos que demoram anos e o cara nem preso vai. Ficamos com esse sentimento de impunidade, de achar que nada vai ser feito", disse Josy.
Desde então, o suspeito segue em liberdade sem ter mandado de prisão em aberto. Depois de saber sobre a decisão da Justiça, a família entende que há uma injustiça. 

"Eu acho que é por isso que as pessoas fazem o que querem porque não tem impunidade. Ele está solto, nem foragido ele está porque não tem um mandado de prisão contra ele. Meu pai está muito chateado com isso. O Thiago era gêmeo e nós olhamos para o outro irmão e vemos o Thiago o tempo inteiro. Nós só queríamos ver esse cara preso e que ele pagasse pelo o que ele fez. Parece que não tem Justiça porque a pessoa mata a outra e o mandado de prisão é negado? Mais provas do que essas imagens não tem. Eu sinto muita injustiça", completou.
Andamento do processo
A DHC pediu a prisão temporária de Victor Emmanuel no dia 6 de novembro do ano passado depois de ouvir o depoimento de testemunhas, familiares da vítima e do pai do suspeito. O mecânico chegou a ser intimado para depor, mas não foi localizado.
Em uma dos depoimentos, um amigo de Thiago, que estava junto com a vítima no momento do crime, disse que o barbeiro foi atingido pelos tiros depois de uma discussão em razão do tempo do conserto de seu carro. O veículo de Thiago teria ficado quatro meses na oficina de Victor e que, logo após o mesmo ser liberado, o carro voltou a apresentar um problema, tendo que ser empurrado novamente para o estabelecimento.
O laudo de exame de corpo de delito de necropsia esclareceu que a morte decorreu de hemorragia interna em razão de ferimento de tórax e abdômen, provocados por projetil de arma de fogo. Foram identificados cinco ferimentos de entrada de projetil.
Segundo a DHC, os fatos apurados até o momento indicavam a necessidade da prisão temporária de Victor e que a sua detenção ajudaria na preservação das testemunhas que colaboraram com a investigação.
Um dia depois da solicitação, o promotor Alexandre Themístocles, do MPRJ, concordou com o pedido e disse que a restrição da liberdade do investigado é uma medida imprescindível para o andamento do processo. No entanto, o promotor destacou que ainda faltava alguns elementos a serem apresentados, como a oitiva do suspeito, a juntada do laudo pericial de necropsia e do boletim de atendimento médico e a apreensão da arma usada no crime.
O pedido foi enviado à Justiça e o inquérito devolvido à DHC para que as solicitações fossem cumpridas em um prazo de 20 dias, assim como o relatório conclusivo sobre o caso.
Já no dia 8 de novembro de 2023, o juiz Daniel Werneck Cotta, da 2ª Vara Criminal do Rio, negou o pedido de prisão contra Victor justificando que as alegações da Polícia Civil e do MPRJ não serviam, na época, para a decretação da prisão. De acordo com o magistrado, não havia informações de que as testemunhas eram alvos de intimidação e nem qual elemento pendente na investigação recomendaria a prisão do suspeito.
"Os argumentos trazidos à colação, quer pela autoridade policial, quer pelo Ministério Público, não surgem aptos a fundamentar a medida que pleiteiam, a qual exige, inafastavelmente, a presença de pressupostos que dizem com a imprescindível necessidade da medida para possibilitar a investigação ou seu prosseguimento regular. Note-se que foram ouvidos familiares, vizinhos e amigos de investigado e vítima, cujas famílias, de resto, eram também amigas de longa data, sendo que não há em qualquer dos depoimentos colhidos durante a inquisa notícia por parte das testemunhas de que estejam elas sendo alvo de intimidação, de forma a colocar em risco as investigações. Importante destacar que a autoridade policial sequer esclarece qual diligência investigatória pendente recomendaria a prisão preventiva", escreveu.
Questionado sobre o assunto, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) disse que o processo segue em fase de inquérito.
Já a Polícia Civil informou que o inquérito foi concluído e relatado ao MPRJ com o indiciamento do autor do crime. A autoridade policial representou pela prisão temporária de Victor. Até o momento, segundo a Civil, não houve manifestação do Ministério Público. 
O MPRJ ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.
Relembre o caso
O barbeiro Thiago Farias da Costa foi na frente da oficina de Victor na Rua Paim Pamplona, em Sampaio, na Zona Norte, no dia 28 de outubro de 2023. Ele chegou a ser socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu aos ferimentos. 
De acordo com a Polícia Militar, agentes do 3º BPM (Méier) foram acionados para uma ocorrência de homicídio no local e que nenhum suspeito foi localizado naquele momento. Testemunhas alegaram que o mecânico atirou e fugiu em um carro preto.
O fato foi registrado inicialmente na 25ªDP (Engenho Novo) e depois encaminhado para a DHC.
Thiago foi sepultado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, dois dias após a morte.