Marcelo FreixoValter Campanato/Agência Brasil
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“Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e do Anderson e me dirigia ao local do crime. Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte junto comigo. Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro”, escreveu Freixo.
No mesmo dia, em entrevista concedida à CBN, o ex-deputado federal repetiu que além de fazer a ligação, recebeu a família de Marielle juntamente com Barbosa no dia seguinte ao atentado. “Por um lado, a gente tem um alívio por ter chegado nesse caso, por outro, é uma indignação muito profunda por tudo que representa”, afirmou. Ele seguiu o diálogo falando que, em cinco anos de investigação (dos seis), os delegados que passaram pelo caso na Delegacia de Homicídios eram substituídos quando se aproximavam de uma conclusão. “Em cinco anos, cinco delegados. Então era para não investigar. A conclusão é que hoje a gente chega a quem matou, a quem mandou matar e a quem não deixou investigar”, diz, em referência aos irmãos Brazão e ao delegado.
Na última segunda-feira, 25, em entrevista à Rádio Gaúcha, Freixo também comentou sobre o envolvimento de Rivaldo Barbosa no assassinato de Marielle. Segundo ele, “é humanamente assustador imaginar que ele [Barbosa] pudesse estar por trás do planejamento da morte e não só a proteção em não investigar”. O ex-deputado ainda explicou que o delegado participava de reuniões na Comissão de Direitos Humanos, quando era líder da Delegacia de Homicídios, e encaminhava os casos e se reunia com as famílias. Na época, Freixo presidia a comissão e Marielle a coordenava. “Como chefe da Polícia Civil, ele é a primeira pessoa a ser avisada da morte da Marielle. Tinha que ser o primeiro”.
Repercussão da fala de Freixo
O conteúdo sugere que Marielle e seus companheiros políticos tinham alguma relação com os mandantes do crime e critica as acusações feitas contra “personagens da direita política”.
Um post no X, cujo autor republicou o título do site do Terra Brasil Notícias, foi interpretado como uma suposta confissão de envolvimento de Freixo no caso. Além disso, o post que viralizou não disponibiliza o link para que outros leitores possam conferir a informação completa. A publicação é acompanhada pela legenda “agora o caldo vai entornar de vez”. Nos comentários, pessoas interpretam que o presidente da Embratur confessou relação com o crime: “Sempre desconfiei desse cara, amiguinho dela, né? Sei.”, “Eu sempre desconfiei dele, para mim está muito envolvido”, “Falei que isso era coisa desse imbecil”, “Aos poucos a verdade vai aparecendo”, dizem.
Quem é Marcelo Freixo
Como parlamentar, ele assumiu a presidência da Comissão de Inquérito das Milícias, em 2008, que investigava o envolvimento de políticos com grupos de milícias do Rio. Na época, ele deixou o país após sofrer ameaças de morte. O irmão de Freixo, Renato, havia sido assassinado por milicianos em julho de 2006.
Por três mandatos, Freixo também presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), na qual Marielle Franco era coordenadora e prestava auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios ou policiais vitimados. Nas eleições de 2018, ele foi eleito deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSOL.
Quem é Rivaldo Barbosa
Barbosa deixou a chefia da Polícia Civil em janeiro de 2019, após a posse do então governador Wilson Witzel. Graduado em direito e professor universitário há mais de 20 anos, ele também ocupou os cargos de titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e de diretor da Divisão de Homicídios. Recentemente, comandava a Coordenadoria de Comunicações e Operações Policiais, que cuida da operação com rádios da corporação.
Rivaldo foi preso preventivamente pela Polícia Federal no último domingo, 24, por ser suspeito de utilizar o cargo para proteger os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão – acusados de serem os mandantes do crime – e participar do planejamento do assassinato. A mãe de Marielle, Marinete da Silva, contou à Globo News que o delegado foi quem recebeu os familiares após o assassinato e que ele havia prometido que a solução do caso seria uma “questão de honra”.
Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: A afirmação de que Marcelo Freixo entrou em contato com um dos envolvidos no assassinato na noite do ocorrido sugere relação do ex-deputado com o crime. Isso porque o título omite a informação de que o deputado informou que a ligação ocorreu após a morte de Marielle e Anderson e que Rivaldo era chefe da Polícia Civil e, portanto, encarregado da investigação. Também é usado no início da manchete a palavra “BOMBA”, a fim de chamar atenção dos leitores e sugerir que a informação era um furo jornalístico sobre o caso.
O que diz o responsável pela publicação: O Terra Brasil Notícias, contatado por e-mail, afirmou que o veículo apenas “retratou a informação divulgada por várias fontes” e que o título da matéria é “perfeitamente claro, e mostra o nível de perplexidade que a sociedade e até o ex-deputado tiveram ao saber que a pessoa para quem ele ligou na noite do crime para tomar as providências cabíveis, era provavelmente um dos mentores do crime”. O portal, que já teve conteúdos classificados como falsos ou enganosos pelo Comprova, ainda afirmou que o texto não faz insinuações sobre relação de Freixo com o crime, mas que mostra como pessoas próximas a Marielle foram provavelmente ludibriadas.
Segundo o site, o “certo grau de proximidade é indicado pela ligação feita diretamente para o delegado chefe da Polícia Civil, mostrando que lhe foi fornecido o contato pessoal do delegado à época”. “O senhor Marcelo Freixo deixa claro que ele inclusive já tinha estado com o delegado Rivaldo Barbosa por diversas ocasiões no seu próprio gabinete, inclusive na presença de Marielle, sua assessora à época”.
Ao Comprova, o autor da publicação disse que o post no Instagram (não mencionou a postagem no X, que continua acessível) foi removido pela própria plataforma entre os dias 25 e 26, mas que não sabe ao certo o motivo porque estava em viagem ao Havaí. Ele disse que a montagem é um meme “com teor real”, que aponta o envolvimento de Domingos Brazão com a “turma da esquerda”. A atuação do clã Brazão na política fluminense é pragmática. Domingos fez campanha pela reeleição de Dilma Rousseff (PT) em 2014, e Chiquinho, pela de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
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