Regina Maura Feitosa fez 70 anos dois dias antes da viagemReprodução

Rio - A professora aposentada Regina Maura Feitosa, de 70 anos, foi enterrada, na tarde deste domingo (14) no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. A idosa é uma das vítimas do trágico acidente envolvendo um ônibus turístico que tombou na cidade de Teixeira de Freitas, na Bahia, e terminou com nove mortos e 23 feridos.
A mulher fez aniversário na última terça-feira (9), dois dias antes do acidente, e comemorou rodeada de amigos em uma festa realizada em Bangu, também na Zona Oeste, onde morava. A viagem em direção à Porto Seguro, para onde o ônibus ia, era parte da celebração dos seus 70 anos.
Regina era apaixonada por carnaval e vestia a camisa da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola seis vezes campeã do Grupo Especial. Por conta da morte, a agremiação decretou luto na sexta-feira (12) em homenagem à professora aposentada, que por muitos anos desfilou na Sapucaí. 
Através das redes sociais, amigos se despediram de Regina. "A vida é de fato uma passagem. Quem diria que em uma viagem para Bahia seria seu último passeio. Descanse em paz, amiga! Quero me lembrar de você assim, com essa alegria. Até breve!", postou uma amiga.
"Minha Querida virou estrelinha. Obrigado por sua alegria. Vai brilhar. Descanse em paz! Deus o receba em sua nova morada. 'Amiga rica', muita luz!", comentou outro.
A professora foi uma das nove vítimas que morreram na madrugada de quinta-feira (11) após um ônibus da empresa RM Viagens e Turismo, que estava com 32 passageiros, bater em um barranco no km 885 da BR-101, na cidade de Teixeira de Freitas. O veículo levava o grupo que saiu do Rio de Janeiro e seguia para Porto Seguro em uma excursão.
Outros enterros
Neste sábado (13), sete das nove vítimas foram enterradas em cemitérios da Zona Oeste do Rio. Em Campo Grande, familiares e amigos do casal Clea da Conceição Faria, de 74 anos, e Valter Nery, de 84, fizeram as últimas homenagens e pediram que o motorista seja responsabilizado.
Para Gerson dos Santos Nery, filho de Valter e genro de Clea, o pai sempre foi um guerreiro e ficou mais próximo dos filhos quando a mãe deles morreu, em abril do ano passado. De acordo com o estudante de Direito, a perda do pai vem sendo dolorosa justamente por conciliar no mesmo mês em que perdeu sua mãe.
"Meu pai sempre foi um guerreiro. Sempre cuidou da gente e deixou um legado para nós como filhos. No final da carreira, ele ficou mais próximo de mim. O que eu tenho de guardar do meu pai são só coisas boas. É doloroso demais porque nesse período de abril do ano passado eu perdi a minha mãe. Neste 13 de abril, eu estava com ela no hospital porque ela passou mal. Hoje, estou aqui enterrando meu pai", lamentou.
Jane dos Santos Nery Vargas, outra filha de Valter, comentou que o pai não queria ir nessa viagem, mas que ele estava feliz por estar junto com Clea. A mulher destacou que o bombeiro militar reformado cuidava sempre da família e se preocupava com o bem estar dos filhos. Conversando com os irmãos, Jane revelou que eles estudam representar criminalmente contra o motorista do ônibus onde o pai estava.
"Meu pai era um homem maravilhoso. Há menos de um ano, eu perdi a minha mãe. Depois disso, meu pai era o único que me ajudava muito. Ele não queria que eu ficasse sozinha. Para mim, está sendo péssimo. Eu ainda não sei nem como vou continuar vivendo. Ele estava ali comigo porque eu tenho um problema de saúde e eu era a filha que ele mais se preocupava. A Dona Cléa era uma pessoa maravilhosa. Uma mulher feliz. Nós estávamos felizes porque eram os dois que estavam juntos. Nós aprovamos e ficamos felizes deles estarem juntos. Eu acredito que foi imprudência mesmo do motorista. Eu acho que ele estava em alta velocidade. Ele falou que vinha um carro na contramão e depois nós vimos que não existiu. Tinha um carro que filmou e ele estava com a velocidade muito alta. Estamos conversando com meus irmãos e estamos vendo de ir na Justiça sim. Sabemos que a vida do meu pai não vai votar mais e a dona Cléa também, mas tudo tem que ter um porquê, tudo tem que ser organizado", comentou.
Além de Clea e Valter, Doralice da Conceição de Azeredo, Irapuã de Azevedo e Maria José Nicomedes Sinfrônio foram sepultados no Cemitério Jardim da Saudade de Sulacap, também na Zona Oeste. Já o enterro de Glória Regina do Nascimento Cunha e Ronaldo do Espírito Santo de Oliveira aconteceu no Cemitério Jardim da Saudade de Paciência, ainda na Zona Oeste.
Vídeo contesta versão do motorista
De acordo com relato do motorista Carlos Alberto Silva, um veículo com farol alto tentou ultrapassar um caminhão e que ele, para evitar uma colisão, tentou desviar. O ônibus foi para o acostamento, derrapou com o eixo dianteiro e tombou. A mesma versão foi apresentada por alguns passageiros, que prestaram depoimento no hospital da cidade.
No entanto, o delegado responsável pelo caso contesta esta versão apresentada com base em um vídeo que teve acesso.

"O vídeo é bem claro. Um pessoa que vinha logo atrás do ônibus, a poucos metros, e apesar da velocidade que desenvolvia ela não conseguia alcançar o ônibus (Nota da Redação: o vídeo registra uma velocidade entre 97km/h e 115km/h do carro que grava a cena). Mais à frente ele passa por uma van, em sentido contrário. E fica bem claro também que no momento que acontece o acidente, o ônibus não vinha passando ou se encontrou com nenhum outro veículo realizando ultrapassagem, como é a versão do motorista. Isso (as imagens) vai para o inquérito policial e vai ser muito importante para esclarecer as circunstâncias do fato", disse Moisés Damasceno em entrevista ao programa BATV, da Rede Bahia.
Em nota, a RM Viagens e Turismo informou que "a causa do acidente ainda não foi esclarecida" e que "se coloca à disposição para fornecer qualquer informação para auxiliar no que for preciso para amenizar os impactos deste acontecimento".