Antônio Carlos dos Santos cantou músicas do Molejo na despedida de Anderson LeonardoPedro Ivo

Rio - O cantor Anderson Leonardo, vocalista do grupo Molejo, foi velado neste domingo (28), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O 'Molejão' morreu na sexta-feira (26), aos 51 anos, em decorrência de um câncer na virilha. Artistas, fãs, integrantes do grupo, amigos e familiares foram ao cemitério para se despedir do cantor. A cerimônia foi reservada para os mais próximos, mas, diante da multidão que se aglomerava do lado de fora da capela, a família permitiu que alguns fãs se despedissem de longe - e de forma breve.
O pai de Anderson, Ubirajara de Souza, o Bira Hawai, de 72 anos, não conseguiu segurar as lágrimas ao falar do filho. Bira, que é produtor musical, é o incentivador da criação do Molejo e também o responsável pelos álbuns de outros grupos de pagode dos anos 90, como Exaltasamba, Soweto, Revelação e Samprazer.
"A família Molejo agradece muito. Hoje a gente está um pouco baqueado, porque não é fácil. É uma perda muito grande. Um dos maiores artistas do país partiu, mas deixou um bom legado. Eu só queria agradecer todos vocês pela força que estão nos dando. Estou muito abatido", desabafou Bira Hawai.
O ex-colega André Silva, mais conhecido como Andrezinho, vocalista do Molejo, contou um pouco sobre a personalidade do seu parceiro de longa data: "O Anderson sempre se prontificou a ajudar todo mundo, a qualquer momento. Sempre que algum cantor ia visitá-lo no hospital, ele cantava a música do artista", disse.
Sob calor de 31º, os fãs mais idosos reclamaram das restrições para se despedir do ídolo. Outros vieram de muito longe para dar adeus. Esse é o caso do paulista de Santo André, Antônio da Paz, de 67 anos. Antônio vendia Cds e fitas cassetes do Molejo na época em que trabalhou como vendedor ambulante nas ruas do ABC Paulista.
"Vim de Santo André, em São Paulo, só para me despedir do Anderson. Eu trabalhei por muitos anos vendendo produtos deles. Vendia CD, vendia fita cassete. Vendi muito o CD "Brincadeira de Criança" (1997). Eu trabalhava no meio da rua, com a caixa de som bem alta tocando as músicas. O Molejo é um símbolo do nosso país. A garotada pode não se recordar, mas quem é de mais idade sabe que o Molejo é um símbolo, é a cara do Brasil. Sambista de primeira qualidade", disse o vendedor. 
Já Antônio Carlos dos Santos, de 59 anos, levou um cavaquinho e cantou músicas do Molejo como última homenagem. "O grupo vai ficar na história, é marcante na vida da gente. Essa partida dele deixa um rombo, uma lacuna muita grande. Esse cara é insubstituível", desabafou o cantor.
Quem também deu uma 'palinha' de seu talento foi o fã Jorge André Pereira, de 60 anos. Emocionado, ele tocou o hino nacional com uma 'gaita' improvisada por um pente de madeira e um plástico. "Eu acompanho o grupo Molejo desde os anos 80. Que nessa partida ele fique com Deus e zele por nós aqui na Terra. Quem está aqui, gosta muito de você. Eu sei que você continuará tocando nossos corações aí de cima", exaltou.
Ao DIA, a fã Rosane Brito Gomes, de 57 anos, revelou que escuta o grupo desde sua fundação, no fim da década de 80. Ela se emocionou porque conseguiu se despedir do cantor por alguns segundos.
"Peguei na mão dele e falei que vamos continuar sendo felizes com Molejo. Eu era muito jovem quando conheci o grupo. Nunca deixei de escutar uma música, fui a vários shows deles. Em Padre Miguel, em Bangu. Sou fã mesmo. Meu marido falou que eu estava ficando doida, porque passei o dia escutando Molejo. Eu não estou ficando doida não, eu gosto deles e acabou. Ele está lá em cima curtindo com a gente", disse a Rosane.
Artistas também se despediram do cantor
Artistas como Zeca Pagodinho e Dudu Nobre enviaram coroas de flores como homenagem. Os cantores Mumuzinho, Xande de Pilares, Sérgio Loroza e Pretinho da Serrinha foram pessoalmente se despedir do amigo.
"O pagode e o samba estão muito tristes. Acabei de chegar de viagem e não poderia deixar de vir para prestar minha última homenagem. Posso dizer que eu queria ter aprendido mais com ele. O Anderson era um cara que era alegria em pessoa. Era muito generoso também. Sempre foi a mesma pessoa, no auge ou no sucesso, sempre foi muito simples. Ainda não caiu a ficha, não dá para acreditar. Vai deixar muitas saudades. A gente agora vai dar continuidade a seu legado", declarou Mumuzinho.
Xande disse que foi ao cemitério homenagear um "irmão". Ele contou que Anderson foi a primeira pessoa que conheceu ao chegar em Pilares. "Depois que nos conhecemos, nunca mais nos separamos. Ele começou a tocar cavaquinho, eu também comecei. Ele teve oportunidades, eu também tive. Aprendi muito com ele. Também ensinei muito. Ele tem uma história muito bonita na música. Eu quero que Deus cuide muito dele. Que essa nova missão seja bem-sucedida. É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar".
O ator e cantor Sérgio Loroza também esteve no enterro e afirmou que hoje o céu terá "pagode do bom". "Todos nós perdemos, mas fica o legado de Anderson Leonardo. Pouca gente poderia fazer a gente chorar e rir como ele fez. Ele deixou grandes pérolas, depois dessa há de ser bem melhor", disse o ator. Loroza também deixou uma mensagem para o amigo: "vai na boa meu compadre, que os seus orixás te proteja. Hoje tem pagode do bom lá em cima". 
Para o cantor e arranjador Pretinho da Serrinha, Anderson foi um artista completo, um gênio. "Não perdemos só um amigo, um irmão, perdemos um dos maiores artistas, comediante, um cara completo. Eu nunca vi ele chegar de mau humor, triste. Ele sempre botava todo mundo para cima", lembra. Pretinho também relembrou a visita do amigo no seu último aniversário, em agosto do ano passado. Na ocasião, Anderson precisou sair mais cedo por causa das dores causadas pela doença. "Ele me disse que não podia deixar de ir para me dar um abraço". 
Anderson ficou mais de mês internado no Hospital Unimed, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Dentro deste período, ele foi levado para a UTI duas vezes, sendo a mais recente no domingo passado (21), de onde não voltou mais.

O artista lutou por um ano e meio pela vida, desde outubro de 2022, quando descobriu o câncer inguinal.  Anderson deixa esposa, a administradora Paula Cardoso, e quatro filhos: Leozinho Bradock, Alissa, Rafael Phelipe e Alice.
Enterro ao som de 'O show tem que continuar'
Ao som de músicas marcantes do grupo Molejo e de outros sambas, Anderson Leonardo foi sepultado no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio, por volta das 16h30 deste domingo (28). Emocionados, familiares, amigos e fãs do cantor fizeram questão de cantar, tocar e dançar durante o cortejo, como forma de homenagear o 'Molejão', que tinha como marca registrada a alegria.
O caixão saiu da capela onde o corpo estava sendo velado desde o início da tarde ao som do hino do Flamengo, time do coração do cantor. Em seguida, os amigos puxaram músicas do Tim Maia e também pagodes e sambas marcantes. O corpo do artista foi enterrado ao som da música "O show tem que continuar", do Arlindo Cruz. "Você jamais será esquecido", disse um amigo de Anderson, seguido de uma salva de aplausos. Veja o vídeo:
Luta contra a doença
O vocalista do Molejo foi diagnosticado com a doença na área inguinal em outubro de 2022. Meses após anunciar que estava curado, o cantor precisou retomar o tratamento em 2023. No dia 27 de fevereiro de 2024, voltou a ser internado em um hospital do Rio, onde passou por imunoterapia e recebeu medicação para dores. Ele teve alta no dia 19 de março.
Contudo, quatro dias depois, retornou à unidade de saúde em estado grave. No dia 8 deste mês, ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva em decorrência de quadro de insuficiência renal. Três dias depois, Anderson foi para o quarto, mas após ter uma piora, retornou a UTI no último dia 22. Nas últimas horas, o estado de saúde dele se agravou e ele veio a óbito, nesta sexta.
Na fase inicial do tratamento, ele ainda chegou a manter parte da agenda de shows e participações em programas de TV. No "Encontro", da TV Globo, ao ser entrevistado por Patrícia Poeta, numa dessas ocasiões, afirmou que não foi "fácil" receber o diagnóstico, mas demonstrou esperança ao falar da luta contra a doença.