Anderson Leonardo, vocalista do Grupo MolejoReprodução / Instagram

 Rio - O cantor Anderson Leonardo, líder do grupo Molejo, morreu nesta sexta-feira, aos 51 anos, no Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Há quase dois anos, o artista enfrentava uma batalha contra um câncer na região da virilha. A notícia do óbito foi divulgada através do Instagram do grupo e confirmada pela assessoria de imprensa do artista ao DIA
"Nosso guerreiro Anderson Leonardo lutou bravamente, mas infelizmente foi vencido pelo câncer. Mas será sempre lembrado por toda família, amigos e sua imensa legião de fãs, por sua genialidade, força e pelo amor aos palcos e ao Molejo. Sua presença e alegria era uma luz que iluminava a vida de todos ao seu redor, e sua falta será profundamente sentida e jamais esquecida, nós te amamos", diz o comunicado publicado nas redes sociais do Molejo. 
Homenagens de sambistas
Logo após a divulgação da notícia, diversos sambistas foram às redes sociais para homenagear o músico. Em seu perfil no Instagram, o cantor Belo agradeceu ao vocalista pelo compromisso com a música popular brasileira. "Papai do céu prega peças em nós, que de fato jamais estaremos preparados. O Soweto fazendo 30 anos e eu esperando ter você no nosso palco, o Rio de Janeiro foi apresentado ao nosso grupo pelo @molejo, poucos sabem disso, e você meu irmão @cantorandersonleonardo fez de tudo para que nos sentíssemos em casa. Agora a casa que mais se alegra é o Céu. (...) Somos todos muito mais felizes por que você continuará existindo em cada brincadeira de criança", escreveu.
Péricles também lamentou a perda do amigo. Em um vídeo enviado à TV Globo, o artista falou sobre a tristeza de perder o amigo. "Primeiro, quero agradecer por tanta alegria que ele deixou para nós e esse legado imenso que ele deixa como compositor, um grande pesquisador da música, um grande cara, um grande amigo. Não é fácil perder um amigo deste tamanho. A gente fica triste mas, de alguma forma, que a família se sinta abraçada por todos nós. A gente vai levar a essência dele junto com a gente, aonde quer que seja. Anderson, meu irmão, você vai morar para sempre no nosso coração", disse.
Outro sambista que homenageou o cantor foi Xande de Pilares, que publicou um vídeo no Instagram em que canta com Anderson. "Obrigado pela oportunidade de poder partilhar muitos grandes momentos ao seu lado, você foi um gigante. Descanse em paz, meu amigo, meu irmão!!! Estaremos juntos pela eternidade @cantorandersonleonardo".
Flamengo
Time do coração de Anderson Leonardo, o Flamengo também fez uma publicação lamentando a morte do cantor. O Rubro-Negro destacou que ele sempre fez questão de demonstrar orgulho na paixão que sentia pelo clube e que chegou a gravar uma música para ele. "O Clube de Regatas do Flamengo lamenta profundamente o falecimento do cantor Anderson Leonardo. À frente do Grupo Molejo, levou alegria para milhões de brasileiros por décadas, cantando com irreverência e leveza. Anderson sempre se orgulhou da paixão pelo Flamengo e chegou a gravar a canção "Canto do Urubu" em homenagem ao Mais Querido. O CRF se solidariza com familiares, amigos e fãs neste momento triste", escreveu o Flamengo.
Luta contra doença
O vocalista do Molejo foi diagnosticado com a doença na área inguinal em outubro de 2022. Meses após anunciar que estava curado, o cantor precisou retomar o tratamento em 2023. No dia 27 de fevereiro de 2024, voltou a ser internado em um hospital do Rio, onde passou por imunoterapia e recebeu medicação para dores. Ele teve alta no dia 19 de março.
Contudo, quatro dias depois, retornou à unidade de saúde em estado grave. No dia 8 deste mês, o cantor foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva em decorrência de quadro de insuficiência renal. Três dias depois, Anderson foi para o quarto, mas após ter uma piora, retornou a UTI  no último dia 22. Nas últimas horas, o estado de saúde dele se agravou e ele veio a óbito, nesta sexta. 
Na fase inicial do tratamento, ele ainda chegou a manter parte da agenda de shows e participações em programas de TV. No "Encontro", da TV Globo, ao ser entrevistado por Patrícia Poeta, numa dessas ocasiões, afirmou que não foi "fácil" receber o diagnóstico, mas demonstrou esperança ao falar da luta contra a doença.
Trajetória
Anderson Leonardo nasceu em 1972 no Rio de Janeiro. Filho do veterano produtor musical Bira Haway, um dos mais importantes do samba e do pagode, o cantor e compositor se aproximou da música ainda criança. Em entrevista ao jornal "MEIA HORA", em 2021, contou que a família e o bairro onde morava foram decisivos para o seu envolvimento com a arte.
"Você não imagina a Abolição nos anos 1970, era bem agitada. Foi aí que eu conheci o Cacique de Ramos, me apaixonei e isso nunca mais saiu da minha mente quando vi ali todos os meus ídolos", recordou o artista, na ocasião, citando o bairro da Zona Sul e o tradicional bloco carnavalesco, onde deu seus primeiros passos no samba, através do músico Bira Presidente, líder do grupo Fundo de Quintal. Até hoje a quadra do Cacique, em Olaria, possui uma foto gigante de Anderson no panteão de grandes talentos surgidos no local.
Em 1986, ainda bem garoto, esteve em um momento antológico da TV brasileira: o especial de fim de ano de Roberto Carlos, na Globo. Naquele ano, foi um dos convidados de honra do programa, que contou, ainda, com Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto e os membros do Fundo de Quintal (Arlindo Cruz, Sombrinha, Bira, Ubirany e Cleber Augusto), todos começando a "estourar" nacionalmente com o pagode. Em imagens disponíveis no YouTube, Anderson aparece bem ao lado de Roberto Carlos o tempo todo.
Em mais de 30 anos de carreira, o artista ficou conhecido como vocalista, além de ser o responsável pelo cavaquinho, do grupo Molejo, que alcançou fama nos anos 1990 com sucessos como "Cilada", "Caçamba", "Brincadeira de Criança" e "Dança da Vassoura". Seu carisma e irreverência ajudaram a criar uma grande identificação junto ao público. Dividia a a liderança do grupo, considerado um dos mais importantes do samba e do pagode, com o músico Andrezinho, filho do lendário mestre André, ícone da Mocidade Independente e criador da "paradinha" da bateria nos desfiles de Carnaval.
O sucesso do grupo era tão grande que virou tema de escola de samba: "No Palco da Alegria, Molejo É Rei Nesta Folia". O enredo foi apresentado em 1999 pelo Império da Tijuca, agremiação do Morro da Formiga, no grupo de Acesso.
Até a primeira década dos anos 2000, o Molejo era presença constante em programas populares da TV aberta, principalmente nas atrações comandadas por Xuxa, Faustão, Gugu Liberato, Raul Gil, Gilberto Barros e Jorge Perlingeiro, sempre lançando novos álbuns e hits.
No Rio, Anderson e os demais integrantes do Molejo se apresentaram em todos os grandes bares e casas de show, principalmente nas zonas Norte e Oeste, além da Baixada, Niterói e São Gonçalo. Além da música, o artista apareceu nas telas do cinema, quando fez uma participação no filme "Contravenção", em 2021. O longa retrata a o submundo do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis no Rio.
Legado na música
O líder do Molejo deixa um grande legado para a música brasileira. De acordo com dados do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), Anderson registrou 118 músicas e 637 gravações ao longo da carreira. Dos seus grandes sucessos, destacam-se "Dança da Vassoura", "Deboche" e "Samba Diferente". Esta última, aliás, está entre as músicas mais regravadas do autor. Segundo os dados, Netinho de Paula foi o intérprete que mais regravou músicas de autoria de Anderson, com nove registros. Em segundo lugar vem Leo Santana, com sete gravações.
Polêmica

Em 2021, Anderson se envolveu em uma grande polêmica, quando foi acusado de estupro pelo dançarino e MC Maylon. Na época, o caso foi parar na delegacia, e o cantor negou o crime e alegou que a relação havia sido consensual. Pouco depois, a discussão seguiu nos tribunais, pois Maylon, que chegou a tatuar o rosto do líder do Molejo no corpo, processou Anderson por injúria e difamação.
Anderson Leonardo deixa quatro filhos.
 
 
 
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