Danuze Miranda, idealizadora da marca 'Tenho q ter', diz que a aposta é por malhas mais levesRenan Areias/Agência O Dia

O outono carioca ganhou ares de verão. Tanto que bastou este mês começar para o Rio de Janeiro registrar o dia mais quente dos últimos 20 anos em maio. O recorde foi marcado na Vila Militar, com 36,7ºC. Na vizinha Niterói, a situação não foi diferente: a Cidade Sorriso teve a temperatura mais alta de todo o território nacional por mais de uma vez.
No cenário das mudanças climáticas, a indústria da moda se vê diante do desafio de ter que se adaptar com agilidade e criatividade aos novos tempos. Por isso, as empresas do setor têxtil e de vestuário estão apostando em coleções e peças com os chamados "tecidos inteligentes", uma estratégia que não só acompanha as oscilações climáticas, mas também as antecipa.

O inverno de 2023, aliás, também foi marcado como um dos mais quentes da história, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia. Essa condição climática desafiou as convenções da moda sazonal, exigindo respostas inovadoras por parte dos designers e fabricantes.

Danuze Miranda, que trabalha no mercado da moda há 23 anos e é fundadora da marca 'Tenho Q Ter', localizada na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, enfatiza a importância de estar atenta às mudanças climáticas para o desenvolvimento de coleções. Ela ressalta que o processo de criação de peças leva cerca de três meses e é crucial antecipar as necessidades e estilos de vida das clientes, especialmente diante das incertezas climáticas.

"A gente faz um produto que é aposta e essa tendência climática está sendo uma preocupação, por não sabermos o que podemos esperar do clima, e o que vai ser no dia de amanhã", disse a diretora-criativa do ateliê.

Ela destacou ainda que neste ano percebeu a necessidade de adaptação devido ao calor incomum, usando materiais menos pesados do que em coleções anteriores. Segundo ela, a preocupação agora foi com o uso de uma malha mais fina e leve, devido ao clima quente.

O objetivo, assim, é criar peças versáteis que possam ser usadas em diferentes situações, desde um frio repentino até um clima mais quente. Ela enfatiza a importância de garantir conforto e praticidade em suas criações, evitando tecidos que esquentam mais ou sejam desconfortáveis para o uso prolongado, especialmente durante o inverno, quando as pessoas tendem a vestir camadas adicionais de roupa.

"Decidi apostar em uma malha ainda mais fina, a soft touch. É a oportunidade para a peça ser produzida para atender a um inverno momentâneo. É isso o que esperamos. Hoje, fazemos roupas que podem ser produzidas para serem usadas nas noites frias ou em um fim de semana na serra. Nosso foco hoje é proporcionar essa oportunidade com a peça, para que a pessoa possa comprar um produto que não esquente tanto, mas também que não seja tão fresco", explicou.
 
Gestora de moda destaca reinvenção diante das mudanças climáticas
A gestora de Moda do Sebrae Rio, Camila Araújo, destacou a urgência da indústria da moda em se reinventar diante da crise climática e da sua contribuição significativa para a poluição global. Ela ressaltou que a moda está se movimentando em direção a uma abordagem mais consciente e sustentável.
"A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, atrás somente da indústria petrolífera. E em um momento em que estamos convivendo com uma catástrofe climática sem precedentes em nosso país, o setor da moda já começa a se movimentar e se reinventar, tanto no que diz respeito a matéria-prima natural, como algodão, que é duramente impactado por chuvas intensas e degradação do solo, quanto com a criação de tecidos tecnológicos que possam suprir as necessidades do mercado", afirmou a especialista.
Segundo Araújo, a indústria está caminhando para uma maior maturidade em relação aos seus impactos ambientais, impulsionada por movimentos como o Fashion Revolution, que promovem a transparência e a sustentabilidade no setor. O Sebrae Rio, alinhado a essa tendência, oferece soluções que vão desde a eficiência energética até consultorias para certificações específicas do setor, visando apoiar as empresas na adoção de práticas mais sustentáveis.
A gestora também enfatizou a importância dos tecidos tecnológicos como uma inovação sustentável, especialmente no Rio, onde o clima tropical permite o uso de peças durante todo o ano. Ela destacou que os tecidos inteligentes, por serem mais leves e adaptáveis a diferentes temperaturas, estão ganhando espaço no mercado em detrimento do poliéster, cuja produção é menos sustentável por ser derivada do petróleo.
Araújo ressaltou que, em um setor tão competitivo como o da moda, é essencial acompanhar as mudanças de mentalidade do mercado. O consumidor atual está cada vez mais preocupado com o impacto ambiental das suas escolhas de moda, o que exige das empresas uma compreensão mais profunda sobre a relação entre consumo e meio ambiente.