O pai Luis Cláudio Pinheiro, de 58 anos, e o adolescente em foto antigaArquivo pessoal'
Psicóloga aponta 'intolerância à frustração' em caso de menor que matou os pais
Adolescente de 16 anos teria assumido o crime a policiais e que cometeu o crime após ter pedido para faltar à aula negado
Rio - O adolescente de 16 anos que admitiu ter assassinado e incendiado o corpo dos pais, na madrugada desta sexta-feira (24), na Taquara, Zona Oeste, teria cometido o crime após uma discussão. Em conversa com policiais no momento em que foi apreendido, o jovem disse que os pais não o deixaram faltar à aula no colégio para ir ao treino de jiu-jitsu. Segundo psicóloga Marcia Frederico, ouvida pelo O DIA, a intolerância aos "nãos" e à frustração podem levar os adolescentes a atitudes "extremadas".
"É importante ressaltar que, relacionar o caso à dificuldade dos adolescentes de lidarem com os 'nãos' ou frustrações da vida, seria um resumo simplista. Mas, de um modo geral, podemos dizer que essa 'intolerância' à frustração, à dificuldade de ouvir um 'não', que pode levar a reações extremadas, está, muitas vezes, relacionada à uma imaturidade do jovem em lidar com a falta", disse Marcia, que é consultora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida (LIV).
A especialista ressalta que nenhuma resposta agressiva é justificada, mas é possível identificar um padrão de comportamento ligado à falta de limites impostos pelos próprios pais.
"Quando a permissividade é algo muito presente, e é preciso dizer um “não”, esse adolescente, que não está habituado, se sente “sem chão”. Ele não sabe lidar, não tem recursos para isso. Tem dificuldade de pensar, argumentar, encontrar outras formas de solucionar a questão e, muitas vezes, acaba indo para o lado da agressão, o que sabemos que não se justifica, é claro", disse.
Para Cláudia Melo, que atua como psicóloga especialista em terapia cognitiva, uma atitude extrema e carregada de raiva como a adotada pelo adolescente dificilmente está ligada a apenas uma situação, como a usada por ele para justificar o ato.
"Precisamos falar sobre esse tema com muita cautela. Precisamos entender que de repente, ele não se tornou adolescente. Como que era ele quando criança, como os pais resolviam os conflitos com essa criança. Quais eram os limites ou quais eram as faltas de limites dentro dessa relação de pais e filhos", comentou.
"Claro que quando olhamos para um caso desses, pensamos: 'Como assim?'. Que simplesmente um 'não', ou 'vai para a escola e não para a sua luta', e de repente esse garoto toma uma atitude tão brutal. É o ato de uma pessoa impregnada por ódio. Além de fazer o que fez, ele ainda colocou fogo no quarto onde os pais estavam não sabemos. Precisamos olhar para que tipo de adolescentes que nós pais estamos formando", avaliou.
Segundo a especialista, muitas vezes os pais de adolescentes evitam expor ou até ignoram as atitudes agressivas. "É preciso colocar limites, muitas vezes de forma radical. Os filhos precisam entender que os pais também estão protegidos, que eles não podem fazer o que querem, na hora que querem, do jeito que querem, acreditando que são donos do espaço e que os pais são reféns deles. O primeiro sinal de violência tem que ser sinalizado. Desde um grito, encostar as mãos. Os pais precisam tomar atitudes radicais. Mostrar quem está no comando e acionar a polícia. Não culpabilizamos, mas muitas vezes vemos que os pais deixam as coisas acontecerem e negam alguns sinais", afirmou a psicóloga.
Entenda o caso
O caso do adolescente aconteceu durante a madrugada desta sexta-feira, na casa onde a família vivia, na Taquara. Ele teria atacado Luis Cláudio Pinheiro e Mariana Valente, ambos de 58 anos, a marteladas após uma discussão e, horas depois, incendiado seus corpos. Segundo relato de vizinhos, o jovem era adotado e morava com os pais desde pequeno.
Ao DIA, vizinhos relataram que o ele tinha um comportamento pacato, mas que vinha ficando agressivo nos últimos meses, tendo, inclusive, participado de uma briga recentemente.
"Era um garoto tranquilo, sempre evitava de ficar olhando. Passava e só dava bom dia e boa tarde. Recentemente aconteceu uma briguinha com um amigo por causa de chinelo. Conversei com ele que não era assim e que não podia brigar. Mas ele estava muito violento, sendo que eram as pessoas que instigavam ele. Parece aquela coisa do mal mesmo. O inimigo seguindo ele e perturbando ele na rua", disse Walter Junior, de 63 anos.
Foi o próprio adolescente que acionou a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros após incendiar o segundo andar da casa, onde estavam os corpos dos pais. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
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