Rio - Motoristas de aplicativo afirmam que estão sendo rendidos, sequestrados e extorquidos por traficantes da Ilha do Governador, na Zona Norte. O tráfico que domina a região antes permitia a entrada de carros de aplicativo, mas passou a ter novas 'regras'. Seriam ao menos 30 casos deste tipo nas últimas semanas. A Polícia Civil informou que a 37ª DP (Ilha do Governador) investiga as denúncias, mas não estimou quantas ocorrências são.
Em um grupo nas redes sociais, motoristas relatam como é o modus operandi dos criminosos na região. Segundo eles, os bandidos fazem a abordagem e os obrigam a subir a comunidade escoltados pelo tráfico. Em seguida, recebem ordens para desbloquear o celular e fazer o pagamento de uma taxa de segurança ilegal, por meio de pix.
Ainda segundo mensagens trocadas no grupo dos motoristas de aplicativo, na quinta-feira (30), pelo menos seis motoristas foram abordados na Ilha do Governador. "Pessoal, já sabemos, mas para aqueles que não sabem, está proibido a entrada na Ilha do Governador. Ontem, teve gente que foi levado às 18h e só foi liberado 1 hora da manhã. Sei que todos já sabem, mas lembrar nunca é de mais", dizia um trecho do comunicado.
Ao DIA, um motorista de aplicativo disse que quatro colegas de trabalho já foram abordados. Um outro motorista de aplicativo disse que um amigo foi sequestrado ao deixar uma passageira na Ilha do Governador. Na ocasião, os bandidos chegaram até a usar o telefone da vítima para fazer ameaças. "Tinha foto dele amarrado e áudios do bandido dizendo que ia matar", disse.
Procurada, a Polícia Militar informou que a participação da população é determinante no combate a esses tipos de crimes, como extorsão e exploração clandestina de serviços. Informou também que há uma parceria com as empresas de aplicativos de transporte, o botão "Ligar para a polícia", que atende tanto passageiros como motoristas, onde os operadores do Centro de Controle Operacional da Polícia Militar (Cecopom) são acionados e recebem a localização em tempo real, permitindo a chegada do policial mais rápido ao local.
"A Corporação sempre ressalta a importância do acionamento de nossas equipes para casos imediatos através de nossa Central 190 e do App RJ 190, assim como a importância dos registros dos crimes nas delegacias, o que proporciona um direcionamento das análises das manchas criminais locais de forma mais objetiva, sendo executadas de forma integrada com o apoio da Polícia Civil", orientou a PM.
MPRJ denuncia traficantes que cobram taxas a motoristas de aplicativo
As denúncias, apresentadas pelo promotor de Justiça Sauvei Lai da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial, foram encaminhadas em 1º de abril às 5ª e 35ª Varas Criminais da Comarca da Capital. A Promotoria também solicitou a prisão preventiva dos acusados.
Segundo as duas denúncias apresentadas, os criminosos controlam o comércio ilegal de tráfico de drogas na Comunidade do Dendê, da Pixunas e na maioria das demais comunidades da Ilha do Governador. Eles expandiram os seus negócios ilegais, organizando-se como uma narcomilícia e passando a cobrar “taxas”, por meio de extorsões contra motoristas de aplicativos, mototáxis e de táxi, dentro da área territorial em que exercem domínio no citado bairro.
Conforme detalhado nas denúncias, os criminosos exigiam pagamentos semanais de R$ 150 dos motoristas sob ameaças de morte, utilizando armas de fogo. Para operar na área, os motoristas precisavam se cadastrar em cooperativas controladas pelos traficantes, denominadas 'Cooperativa do Crime' e 'Cooperativa da Extorsão', com sede na Comunidade do Dendê. Além do pagamento, os motoristas eram obrigados a exibir adesivos fornecidos pelos criminosos para identificar os que cumpriam as exigências impostas.
Os denunciados incluem Mario Henrique Paranhos de Oliveira, conhecido como “Neves” ou “Nem”, atualmente preso e apontado como mandante das atividades ilícitas; Marlom Rodrigues Chieregatto dos Santos (“ML” ou “Marreco”); Leonardo Rodrigues Pereira (“Dogão”); Leonardo Alves dos Santos (“Valoroso” ou “Pavora”); e Anderson Alves dos Santos Barbosa, que foram acusados na 5ª Vara Criminal. Já na 35ª Vara Criminal, foram denunciados Claudio da Rosa Gomes da Silva Carvalho (“Nhonho”) e Mario Henrique Paranhos de Oliveira.
O promotor Sauvei Lai destacou que o modus operandi dos denunciados é uma continuidade das práticas adotadas por antigos líderes da facção TCP, como Fernando Gomes de Freitas, vulgo “Fernandinho Guarabu”, e Gilberto Coelho de Oliveira, vulgo “GIL”. Esses líderes, junto com o miliciano Antônio Eugênio de Souza Freitas (“Batoré”), dominaram o tráfico de drogas e a exploração do transporte alternativo na região até serem mortos em uma operação policial em 2019.
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