Stanley Pinheiro fotos Reprodução

Rio - A Polícia Civil investiga o desaparecimento de pelo menos quatro pessoas no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, em um período de pouco mais de um mês. A região é formada pelas comunidades Cinco Bocas, Cidade Alta, Parada de Lucas, Vigário Geral e Pica-Pau, e é dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP). Em janeiro deste ano, outras três pessoas também desapareceram no Quitungo, região dominada pelo Comando Vermelho (CV), em um intervalo de 10 dias.
Segundo as investigações da polícia, o Complexo de Israel tem esse nome por causa do domínio do traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o 'Peixão', líder do TCP e adepto de símbolos de Israel, como a Estrela de Davi. 'Peixão' expulsa ou sequestra moradores de comunidades rivais que tentam entrar em suas áreas de influência.
Desaparecidos no Complexo de Israel
Stanley Pinheiro Fernandes Leite - O caso mais recente foi do jovem de 19 anos, que desapareceu após entrar por engano na região, na quarta-feira (29). Ele estava acompanhado de dois amigos, que foram libertados pelos criminosos, mas Stanley segue desaparecido.
De acordo com a mãe da vítima, os três amigos estavam de carro e entraram na comunidade por conta de uma sugestão de rota do GPS. Após abordagem dos criminosos, os três foram mantidos no interior da comunidade, e foram agredidos. O primeiro a ser liberado, que trabalha como motorista de aplicativo, saiu com o veículo após pagar R$ 600 à organização criminosa. Em seguida, o segundo também recebeu o aval para deixar o Complexo de Israel.
A mãe de Stanley acredita que o filho não foi liberado porque os criminosos vasculharam o celular dele e descobriram que ele mora no Complexo do Chapadão, comunidade dominada por uma facção rival. Desesperada com a situação, a mulher foi ao local, mas recebeu a informação de que ele não estava mais lá. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna) e encaminhado à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA).
Leonardo Correia dos Santos - O motorista de aplicativo desapareceu em Brás de Pina, no Complexo de Israel, na Zona Norte, no dia 13 de abril. Segundo a namorada, Leonardo levava um passageiro em sua motocicleta até a Rua Ourique, um dos acessos à comunidade Cinco Bocas, mas não retornou.
Ainda segundo a companheira da vítima, o motorista finalizou a corrida por volta das 20h e logo depois desapareceu. Leonardo estava com uma moto Yamaha Factor de cor vermelha. O caso foi registrado na 39ª DP (Pavuna) e encaminhado para a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), que dá continuidade às investigações.
Lohana Miranda e Darielson Azevedo Nunes - O casal está desaparecido desde o dia 13 de abril, mesma data do desaparecimento de Leonardo Correia. Segundo as investigações, o casal teria entrado por engano na Cidade Alta, em Cordovil, na Zona Norte do Rio. Os dois são moradores de Duque de Caxias, na Baixada, e estavam a caminho do baile da Nova Holanda, no Complexo da Maré. Uma das versões, é de que o casal, que estava em uma motocicleta, teria tentado fugir de uma blitz, quando entraram na comunidade. As circunstâncias, no entanto, ainda estão sendo investigadas.
O caso foi registrado na 59ª DP (Duque de Caxias) e encaminhado para o setor de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Desaparecidos no Quitungo
Wagner Motta Neves - O homem de 33 anos foi visto pela última vez no dia 4 de janeiro deste ano. Ele estava trabalhando como entregador de um restaurante e estava a caminho de uma entrega quando foi rendido por traficantes do Comando Vermelho (CV) na Rua Guaporé. 
De acordo com as investigações, Wagner teria sido confundido com um traficante de uma comunidade rival ao CV. A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), responsável pelas investigações, localizou a moto da vítima em Parada de Lucas, região que pertence ao TCP. A especializada acredita que os responsáveis pelo crime tentaram responsabilizar a facção rival pelo desaparecimento de Wagner. 
Wagner Santana Vieira - A vítima tinha 36 anos e desapareceu no dia 8 de janeiro, quando ia visitar a família em Brás de Pina, na Zona Norte. Ele saiu da Barra da Tijuca, onde morava, e o corpo foi localizado no dia 10 do mesmo mês, às margens de um rio, na localidade do Cantinho da Ponte, na Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
J.V.A.S. - O adolescente de 16 anos foi capturado por criminosos no dia 14 de janeiro, quando soltava pipa com amigos, próximo à estação de trem em Brás de Pina, na Zona Norte. O adolescente, que morava em uma região dominada por traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), teria sido confundido com um criminoso e sequestrado e morto por bandidos de uma facção rival. 
Os sequestros no Quitungo são apurados pela 38ª DP (Brás de Pina) e, de acordo com o delegado titular, Flávio Rodrigues, a principal linha de investigação é de que eles tenham sido levados pelos bandidos devido a um acerto de contas de grupos criminosos, porque as vítimas moravam ou integravam o tráfico de drogas de favelas dominadas por facções rivais. Entretanto, não há confirmação de que elas tenham envolvimento com o crime organizado.
Controle do Peixão
O criminoso é considerado foragido da Justiça e tem dez mandados de prisão pendentes, a maioria por tráfico de drogas, homicídio e ocultação de cadáver. Ainda de acordo com Polícia Civil, a religiosidade do traficante é tamanha que ele se autointitula como Arão, o profeta de Deus, irmão de Moisés. O nome foi assumido também pela sua quadrilha que se autodenomina 'Tropa do Arão'. O próprio nome, Complexo de Israel, seria uma referência à terra prometida, de acordo com as investigações.
Outro exemplo da religiosidade de Peixão está nos símbolos usados para marcar seus territórios: a bandeira de Israel e a Estrela de Davi. Esses símbolos geralmente estão colocados em pontos altos das comunidades. Um exemplo está na Cidade Alta, onde foi instalada uma Estrela de Davi que pode ser vista há mais de 2,5km de distância.