Wagner trabalha como porteiro há 17 anos no mesmo condomínio na Zona Oeste do Rio Catherine Teles/Agência O Dia

O dia 9 de junho é dedicado ao Dia do Porteiro, data que celebra os profissionais que transformam o trivial em essencial. Esses profissionais são conhecidos por sua disposição e prestatividade, são os primeiros a dar um "bom dia", a receber correspondências e a controlar a entrada e saída de pessoas, oferecendo suporte em diversas situações cotidianas.

Dirce da Silva Marques, 70 anos, trabalha como porteira no Condomínio Parque Real, em Realengo, na Zona Oeste do Rio há 24 anos. Ela começou na profissão por acaso, quando estava precisando de um emprego e foi convidada a assumir a função, apesar de não ter experiência prévia. Dirce relembra: "Eu cheguei aqui de paraquedas. Estava precisando, me chamaram e perguntaram se eu queria ser porteira. Eu disse que não tinha prática, que eu trabalhava em escritório, e resolvia. Aí falou que não, que não tinha problema, não precisava ter experiência, aí eu vim e fiquei. Nunca mais saí."

Para Dirce, o aspecto mais importante de sua profissão é o carinho e o respeito que recebe dos moradores. Ela valoriza profundamente a educação e o tratamento cordial: "Ter o carinho do povo, a educação, o respeito, do jeito que trato, eu quero ser tratada." No entanto, ela também enfrentou dificuldades, especialmente em lidar com moradores rudes que não sabem tratar os porteiros com respeito. Sobre essas situações, Dirce comenta: "São os moradores assim, grossos, que não sabem lidar com a gente, que querem dar fora. A gente não pode debater, mas eu lido tranquilamente. Eu vou na minha calma. Eu respondo se precisar responder, mas sem perder a moral", conta. 

Ao longo desses anos, Dirce formou fortes laços com muitos moradores e amigos, sentindo a perda daqueles que já se foram, mas também celebrando as novas gerações que viu crescer: "Dos amigos, dos moradores bons que já se foram, quer dizer, perdi porque se foi, né? E era um morador ótimo que eu me dava, me relacionava bem e sinto muito por isso também. E muita alegria pelas crianças que nasceram, eu vi nascer e estão aí grandões, 18 anos, 19, 20", acrescenta.

Wagner Rodrigues Gomes, de 66 anos, trabalha como porteiro há 17 anos no mesmo edifício. Ele começou na profissão graças a indicação de um amigo, o sr. Moçambique, que era funcionário do prédio. “Ele me trouxe para cá para fazer freelance nos blocos e no decorrer do tempo que ele ia se aposentar, ele falou comigo que iria me colocar no lugar dele e isso aconteceu. Estou aqui até hoje no mesmo bloco como porteiro", relatou.
Para ele, a melhor parte do trabalho é o carinho dos moradores: "É gratificante o carinho que nós temos. Você olha uma criança que viu quando era pequena, crescer e até hoje te respeitar, ainda te chamando de tio, é uma coisa que me impacta", disse emocionado. Ele ainda acrescenta que o mais difícil na função não é o serviço, mas lidar com as pessoas: "A dificuldade é o relacionamento porque é difícil lidar com o ser humano e nem todo mundo gosta de você. Mas levo até as situações ruins com tranquilidade e fé, sigo o conselho de manter fiel a Deus e acreditar nas pessoas”, enfatiza.
Wagner acredita que para ser um bom porteiro o principal é o respeito a todos e manter a calma nas situações. Wagner conta um incidente particularmente difícil quando teve que lidar com um incêndio no prédio: "Uma vez teve um princípio de incêndio em uma apartamento aqui no bloco, foi uma situação inusitada para mim porque eu nunca tinha feito isso. Nesse momento em que o apartamento estava pegando fogo, rapidamente chamei o Guará, outro porteiro aqui do condomínio, e nós pegamos os extintores que ficam nos corredores e apagamos o fogo”, relembrou.
Já Glaice Kelly de Sant'ana Lima, de 33 anos, conhecida entre os moradores carinhosamente como Kelly, também é porteira no mesmo condomínio. Inicialmente, ela foi contratada para a função de servente e dedicou-se à limpeza durante dois anos. "Eu vim trabalhar aqui na limpeza, mas a mudança aconteceu infelizmente quando uma colega nossa de trabalho faleceu. Então eu acabei vindo para o lugar dela na portaria", disse.
Para Kelly a mudança foi difícil e ela compartilha como tem sido trabalhar na portaria:"Os moradores são ótimos, mas tem sido desafiador porque lidar com o público é complicado e tem que ter um pouquinho de paciência, mas eu lido da melhor maneira possível, sempre um joguinho de cintura”, pontuou.
Eliane Soares Marques é uma moradora antiga do edifício, residindo lá há 39 e conta como é o relacionamento com os funcionários: “Os nossos porteiros são bem antigos já estão aqui há bastante tempo, exceto a Kelly que trabalhava na faxina e depois ela veio a ser promovida a portaria, mas é uma pessoa de uma competência muito grande. Os porteiros daqui costumam ser bastante solícitos, conhecem bem os moradores, muitas vezes ajudam em situações de necessidade tanto a mim quanto a outros vizinhos, auxiliando quando alguém passa mal ou com alguma intercorrência própria do apartamento”, disse a moradora.
“Existe uma relação de confiança, de cortesia pessoal e até pode se dizer de amizade com os porteiros porque acho que todos os moradores aqui acabam devendo um favor ou outro a eles. São pessoas excelentes”, destacou Eliane.
'A intimidade com os moradores não impede de cumprir com a obrigação'
Alex da Silva e Thalis Batista, porteiro e síndico, respectivamente, têm se tornado conhecidos nas redes sociais por compartilharem vídeos divertidos do dia a dia no condomínio onde trabalham. Alex está na profissão há quase sete anos e relembra como começou: "Foi a necessidade. Eu estava desempregado e a oportunidade surgiu quando o Thalis me chamou para preencher a vaga", explicou.
A interação com os moradores é uma parte importante do trabalho de Alex. Ele enfatiza a importância de manter boas relações: "Eu sou uma pessoa muito espontânea, tenho facilidade em fazer amizades e no trabalho não foi diferente. Isso cria um ambiente melhor para trabalhar. Sei que nem todo mundo é aberto à amizade, mas ter educação é fundamental para que exista a boa relação", salienta.
Alex destaca como mantém o equilíbrio entre amizade e profissionalismo: "A intimidade que tenho com os moradores não me impede de cumprir com a minha obrigação. Quando é preciso ser profissional, tenho a obrigação de fazer. Assim estabelecemos um limite de intimidade", disse.
Thalis Batista comenta sobre da ideia de compartilhar vídeos nas redes sociais: "A página surgiu de forma despretensiosa, nós sempre brincamos de gravar vídeos da nossa realidade e vagarosamente foi tendo adesão, viralizou", relata.
"Somos amigos, mas também somos profissionais. A boa relação traz um ambiente agradável de trabalho. Penso que o limite se faz exatamente com respeito e educação", enfatiza.