O mês de junho é marcado por duas campanhas que ressaltam a importância dos cuidados com a saúde do sangue, Junho Vermelho e Junho Laranja. A campanha Junho Vermelho visa incentivar a doação de sangue, um ato de solidariedade fundamental para salvar vidas. Já Junho Laranja foca na conscientização sobre a anemia e a leucemia.
A anemia é uma condição caracterizada pela redução dos níveis de hemoglobina no sangue, uma proteína essencial para o transporte de oxigênio no organismo. Segundo Ricardo Bigni, chefe do setor de hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer (Inca), “A anemia é uma alteração, que se baseia em uma baixa de uma proteína que se chama de hemoglobina no sangue que é responsável por transportar oxigênio em nosso organismo. Uma vez que haja uma baixa dessa hemoglobina que fica nos glóbulos vermelhos, ocorre anemia”.
As causas da anemia são variadas e podem envolver diferentes órgãos e doenças, necessitando de uma investigação detalhada para determinar a origem exata após a detecção inicial via hemograma.
A detecção precoce da anemia é crucial, pois facilita o tratamento adequado e a identificação da causa subjacente. Bigni ainda destaca a importância da nutrição na prevenção de algumas formas de anemia: “Uma alimentação bastante rica em nutrientes pode diminuir pelo menos a incidência das anemias decorrentes de questões nutricionais”, pontua o especialista. No entanto, nem todas as anemias são nutricionais, e muitas são manifestações de outras doenças.
Entre essas doenças, a leucemia se destaca como uma condição que pode apresentar anemia como sintoma. É importante entender que a anemia não se transforma em leucemia, mas um paciente com leucemia quase certamente terá anemia. Bigni esclarece: “Um paciente com leucemia quase que certamente ele também vai apresentar anemia, mas não é que uma anemia se transforma numa leucemia”. Portanto, é fundamental distinguir entre a anemia como sintoma e a leucemia como a doença subjacente.
A leucemia pode ser identificada por uma série de outros sintomas, como a baixa contagem de plaquetas, manchas roxas na pele, palidez, infecções graves e aumento dos gânglios linfáticos. Estes sinais indicam uma doença potencialmente grave que requer tratamento rápido e adequado.
O hematologista salienta que a detecção precoce é essencial para o tratamento eficaz, especialmente considerando os diferentes tipos de leucemia, que variam em características e tratamento: “Doenças mais graves com as leucemias, é uma forma de câncer que tem alguns tipos diferentes, o mais importante é a detecção precoce”, enfatiza.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), devem ser registrados 11.540 novos casos de leucemia em cada ano do triênio de 2023 a 2025. Destes pacientes, são esperados 6.250 homens e 5.290 mulheres. Portanto, a conscientização sobre os sintomas e a importância dos exames regulares são fundamentais para o manejo tanto da anemia quanto de doenças mais graves associadas ao sangue, como a leucemia.
“O principal benefício de nós termos essas campanhas é poder colocar uma luz sobre o tema, esclarecer em relação à importância da detecção, da prevenção de determinadas doenças. Então, isso traz a importância da gente ter olhos um pouco mais atentos para a detecção precoce das doenças do sangue. No caso das leucemias, é muito importante a gente reforçar com essas campanhas, que a detecção precoce é a primeira forma de atuar. De uma maneira bastante importante no sentido de conseguir fazer um tratamento mais precocemente e obter potencialmente a cura”, salientou Ricardo Bigni, chefe do setor de hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Doar sangue salva vidas
O ato de doar sangue é essencial e a campanha Junho Vermelho, incentiva a doação de sangue com o objetivo de aumentar os estoques dos bancos de sangue. A servidora pública Luíza Bizzo de Menezes, de 35 anos, ilustra bem a importância desse gesto solidário. Sendo uma doadora assídua do banco de sangue, ela realiza as doações a cada quatro meses.
Luíza compartilha a motivação por trás das doações regulares, destacando o impacto positivo que esse ato tem tanto para ela quanto para os receptores: "Eu fico muito feliz quando recebo um SMS dizendo que salvei uma vida. Então ter esse retorno é muito bom", enfatizou a doadora.
De acordo com a hemoterapeuta do Banco de Sangue Herbert de Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), Camila Mesquita, a doação de sangue é vital. Segundo ela, é crucial para o atendimento de cirurgias e para ajudar pacientes em tratamento que possam apresentar alterações no hemograma ou sangramentos.
“Mobilizar a população e conscientizar que a doação é fundamental para o funcionamento, na verdade, não só daqui, mas da maioria dos hospitais, tanto os que têm trauma, emergência ou daqueles que têm apenas cirurgias complexas, transplantes, é a gente conscientizar essas pessoas que elas precisam doar regularmente”, destaca a médica.
Ela ainda esclarece que para doar sangue é preciso estar se sentindo bem de saúde, pesar pelo menos 50 quilos, ter entre 16 e 69 anos, não ter tido infecções ou febre nas duas semanas anteriores à doação, e cumprir outros requisitos verificados durante a entrevista com o doador.
Camila ressalta que campanhas de doação são essenciais para manter os estoques do banco de sangue já que pacientes com anemias crônicas e leucemia, por exemplo, frequentemente necessitam de transfusões regulares, às vezes, semanalmente. "Tem pacientes nossos aqui que transfundem, às vezes, uma vez por semana e dependendo do que eles transfundem, se for, por exemplo, plaquetas, a gente precisa de cinco doadores para a gente atender um único paciente”, explicou.
Além disso, a especialista salienta que cada doação pode ajudar até quatro pacientes e que, para pacientes crônicos, muitas pessoas necessitam de transfusões por anos, como é o caso de alguns com leucemia. A hematologista acredita que uma estratégia eficaz para aumentar a conscientização é envolver a comunidade ao redor do banco de sangue e do hospital, incluindo familiares e amigos dos pacientes. “É as pessoas entenderem a importância que têm, então, às vezes a pessoa vem acompanhar o familiar que está em algum tratamento, eles disponibilizarem um tempinho para vir aqui doar, e conscientizar o restante da família”, pontuou.
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