Estudo é do GENI-UFF e do Instituto Fogo CruzadoArquivo / Agência O Dia

Rio - Um estudo do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF) e do Instituto Fogo Cruzado revelou que áreas da Região Metropolitana dominadas pelo tráfico estão mais propensas a sofrerem com confrontos do que as dominadas pelas milícias. Segundo o relatório, dentre as regiões dominadas por algum grupo armado, 85,6% dos pontos tomados pelo tráfico já registraram algum conflito. Em relação aos territórios sob controle das milícias, o número cai para 61,4%.

O documento também mostra que em 59,5% das áreas chefiadas por algum grupo armado, em que foram registrados confrontos, 49% havia presença policial. Para a pesquisa, foram considerados dados de tiroteios e operações entre 2017 e 2023.

O estudo revela, ainda, que as áreas dominados pelas facções do tráfico são as que recebem a maior quantidade de operações policiais. Segundo a pesquisa, mais de 70% das localidades registraram a presença da polícia. Nas áreas de milícias, os agentes de segurança aparecem em apenas 31,6% das áreas.

Em relação aos tiroteios mapeados em ações das polícias, 40,2% deles ocorreram em áreas de tráfico. Quando analisadas as de milícia, esse número é 10 vezes menor. Foram considerados dados do Fogo Cruzado, do Geni, do Disque Denúncia e do Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). O relatório aponta também que a Região Metropolitana do Rio registra, em média, 17 tiroteios por dia, sendo 38.271 no período de sete anos.

Ao longo do estudo, foi observado que quando motivados para a conquista territorial, os confrontos armados são pouco eficazes. Em apenas 5,4% dos territórios houve alteração de domínio por meio do conflito. O Comando Vermelho foi o grupo armado que mais conquistou territórios por meio de disputas, 45,3% entre aqueles em que houve mudança. Em seguida vieram as milícias, com 25,5%, o Terceiro Comando Puro, com 23,3% e da ADA, com 5,7%.

No relatório, é possível observar ainda que entre os territórios conquistados pelo Comando Vermelho, 52,9% estava sob domínio das milícias. Em compensação, tanto as milícias, quanto o TCP, tiveram entre os territórios do CV suas maiores conquistas, respectivamente 78,5% e 55,2%.
A pesquisa aponta que o Comando Vermelho é o grupo armado que mais ganha e mais perde em termos absolutos, seguido das milícias, que inclusive, contam com mais perdas por confrontos do que conquistas. O grupo ressalta, ainda, que os territórios sob domínio de grupos armados dobrou em 16 anos.
O que dizem as polícias
Em nota, a Polícia Civil informou que desconhece a metodologia utilizada para a pesquisa citada e a possibilidade de rastreabilidade dos dados. A corporação ressaltou, ainda, que as ações policiais são planejadas e com base em inteligência e em investigação, além de dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP), que norteiam ações estratégicas das forças de segurança.

A instituição disse que tem diversos inquéritos concluídos e em andamento a respeito da atuação de organizações criminosas em comunidades, sejam facções do tráfico, que tem um domínio territorial maior, ou milícias. A Civil reforçou que possui, ainda, a maior Agência Central de Inteligência do ramo da segurança pública estadual do país, onde estão concentrados todos os setores que buscam e produzem conhecimentos para assessorar na tomada de decisões estratégicas e operacionais de combate ao crime.

"Apenas na atual gestão, lideranças e membros-chave das milícias foram presos, incluindo André Felipe Mendes, primo e operador financeiro do grupo de Danilo Dias Lima, o "Tandera"; Claudio Cesar Rocha, o "Cara de Ferro", e Anderson Ferreira de Oliveira, o "Andinho", chefes da milícia de Curicica; Jonathan Francisco Mendes, o "Búfalo", líder de dois grupos paramilitares que atuam na Baixada Fluminense; Alessandro Ferreira dos Santos, o "Parrudo", envolvido nos ataques a ônibus na Zona Oeste; e Delson Xavier de Oliveira, principal fornecedor de armas da milícia de Luiz Antônio da Silva Braga, o "Zinho". Também nesse período, foram neutralizados, em confronto com policiais civis, os milicianos Tauã de Oliveira Francisco, o "Tubarão", e Matheus da Silva Rezende, o "Faustão", potencial sucessor de Zinho na organização criminosa", finaliza a nota.
Já a Polícia Militar não se pronunciou. O espaço está aberto para manifestações.